2013-12-13

Novo Reitor da PUC de Curitiba: Waldemiro Gremski

class=imgshadowA PUCPR vai ampliar o foco na pesquisa e na atração de talentos do exterior nos próximos anos. Pelo menos este é o desejo do professor Waldemiro Gremski, 68 anos, que assume a reitoria da universidade na noite de hoje. Indicado pelo Grupo Marista, o nome do então pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação foi aprovado mês passado pela Congregação para a Educação Católica, no Vaticano. Agora cabe a ele a tarefa de aplicar as ideias que sempre defendeu enquanto gestor de pesquisas na universidade. Acompanhe a seguir a entrevista concedida à Gazeta do Povo.

Fale sobre sua trajetória acadêmica.

Eu me formei em História Natural, na então Universidade Católica do Paraná. Na época, fiz meu primeiro intercâmbio internacional, quando fui para Harvard, nos Estados Unidos, ainda na graduação, o que despertou a vontade de levar adiante uma carreira universitária. Então, fiz uma primeira pós-graduação na UFPR, e em seguida veio o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), ambos em Histologia. A USP foi muito importante para mim por abrir os horizontes internacionais da pesquisa. Foi lá que um pesquisador da Suécia me convidou para ajudá-lo na Universidade de Estocolmo, e então parti logo que terminei o doutorado. Por conta do meu projeto, conheci várias universidades europeias na Inglaterra, Dinamarca e França.

Depois voltei ao Brasil, ingressei na UFPR como professor, onde criei o primeiro programa de pós-graduação na área que hoje é chamada de biologia molecular. Ainda na Federal, fui convidado a assumir a pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação, função que exerci até meados de 2002 quando voltei para a PUCPR, primeiro para estruturar toda a pós-graduação na área de saúde, depois para assumir a mesma posição que tinha da UFPR.

Por que o senhor foi escolhido para assumir a PUCPR?

Acho que foi por uma visão de universidade que sempre defendi e com a qual a Província Marista sinalizou que concorda, que é o foco na pesquisa. Eles poderiam optar por uma universidade de ensino, preocupada apenas em aumentar o número de alunos, mas não é o que eu pretendo fazer. Temos cerca de 30 mil alunos e expandir, honestamente, não é minha preocupação. O caminho entre a pesquisa e o setor produtivo tem de ser diminuído, e penso que o reitor deve fomentar uma mudança de cultura nesse sentido.

A pesquisa exige investimentos e hoje, ao que parece, o ensino é a maior fonte de renda da universidade. Como equilibrar isso?

Dizer que pesquisa é cara é relativo. O principal investimento exigido na pesquisa é o salário do pesquisador, que é alto. Além disso, a universidade deve oferecer a estrutura básica, como sala, água, luz, telefone, etc. Equipamentos e outros recursos são obtidos pela captação de recursos feita pelo pesquisador. Por exemplo, em 2012, nossos pesquisadores captaram em torno de R$ 25 milhões junto a empresas e agências de fomento. Só o grupo que pesquisa células-tronco captou R$ 5 milhões, por isso o laboratório deles é de primeiro mundo. A universidade não precisou comprar nenhum equipamento. Então, se você tiver bons pesquisadores, é certo que vão captar muitos recursos e a pesquisa vai acontecer.

Os recursos hoje destinados à instituição são suficientes para priorizar a pesquisa?

É isso o que torna as universidades norte-americanas tão ricas. Tirando as doações que recebem, que por lá são bastante volumosas, a maior parte de seus recursos vem da captação dos pesquisadores. Aqui no Brasil temos o exemplo da PUC-Rio, na qual as mensalidades dos alunos representam apenas 48% do orçamento. A outra metade vem dos investimentos feitos por empresas e agências nas pesquisas que produzem, como os R$ 100 milhões investidos pela Petrobras no ano passado. A mesma Petrobras, aliás, construiu um prédio de 20 andares dentro da PUC do Rio Grande do Sul. É isso o que nós queremos, essa proximidade com o setor produtivo. Hoje, 12% do nosso orçamento vem da pesquisa. Ainda é pouco, mas há cinco anos esse número não chegava a 5%. Portanto, já crescemos e queremos crescer mais. Por isso, construímos o Tecnoparque, para o qual já atraímos a Nokia e a Siemens. Elas vieram porque sabem que a PUCPR produz pesquisa que as interessa.

E quanto à concorrência? O senhor acha que os possíveis estudantes da universidade darão valor à prioridade feita pela PUCPR à pesquisa na hora de escolher onde estudar?

Um levantamento recente da nossa Escola de Negócio mostrou que 18% dos alunos que vieram para a PUCPR, vieram por causa da pesquisa. A mesma enquete mostrou que a UFPR é desejada por muitos vestibulandos por causa da produção científica. Ou seja, já há uma percepção dos estudantes sobre o quanto a pesquisa é importante à universidade, e isso só tende a crescer.

Agora, quanto à concorrência, nós sabemos que não é possível competir em condições de igualdade com a UFPR porque ela tem atrativos que vão além da qualidade, como a questão a gratuidade. Com ela nós queremos nos associar, e não competir.

Quanto às demais instituições privadas, que visam lucro, nós também não podemos competir de igual para igual, porque de acordo com o tipo de universidade que somos, e queremos ser, o que importa não são alunos em escala. Algumas dessas universidades até chegam a produzir algo de pesquisa, mas é apenas o mínimo exigido pelo MEC para garantir status de universidade.

Então, ou nós atraímos alunos pela nossa qualidade e pelos nossos valores, ou nós fechamos. As PUCs são as universidades privadas mais respeitadas no país, temos um nome a zelar, e não vamos descuidar dele para tirar alunos dos concorrentes.

O senhor é um defensor da internacionalização. De que modo isso se relaciona com o modelo de universidade que a PUCPR deve seguir?

Hoje ninguém faz pesquisa de qualidade sozinho. O pesquisador precisa fazer parcerias, que podem ser firmadas com pessoas da USP, da Unicamp, mas também com universidades da Suécia ou com gente dos EUA, Japão, Coreia do Sul, etc. Internacionalizar é algo que faz com que a universidade se veja, se enxergue. Tenha noção de onde ela está em relação àquilo que ela quer ser. Por isso faço tanta questão de mandar alunos para o exterior e de receber estrangeiros por aqui. O contato com estrangeiros também ajuda a comunidade universitária a não se acomodar. Não dá para um pesquisador passar uns cinco anos fazendo a mesma coisa, se contentando com o mínimo, publicando nas mesmas revistas. A internacionalização ajuda a evitar isso.

Há algum plano de mudanças na universidade a curto prazo?

Sim, no ano que vem teremos a implantação de áreas estratégicas, setores que devem receber mais investimentos, e nos quais incentivaremos a formação avançada do corpo docente. Isso porque não é possível ser excelente em tudo. Temos de ser bons em tudo, mas é preciso escolher onde ser excelente. Essas áreas serão Biotecnologia, Energia, Cidades (gestão urbana), Tecnologias de Comunicação e Informação e Direitos Humanos. O aumento da oferta de disciplinas em inglês é outra questão a ser incentivada, em especial nos programas de mestrado e doutorado. Além disso, passaremos a anunciar editais para contratação de professores não apenas no país, mas também em revistas internacionais. Também queremos um plano de carreira mais atraente do que aquele que temos hoje, porque precisamos atrair e manter talentos na universidade.

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