20 de maio
Marcelino Champagnat, fundador do Instituto dos Irmãos Maristas, nasceu no dia 20 de maio de 1789, na aldeia francesa de Rosey, em uma família na qual ocuparia o nono lugar entre dez irmãos. Nesse dia, compartilhamos uma reflexão do Ir. Manoel Soares, missionário brasileiro em Timor Leste.
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Querido Marcelino Champagnat, neste dia em que comemoramos teu aniversário, quisera eu ter a sabedoria de um escriba ou saber a língua dos anjos para escrever um canto de louvor a Deus por tua existência. Mas também o mais belo poema de agradecimento por teres tido a coragem de entregar-te totalmente à vontade de Deus, por seres esse grande modelo de santidade para nós, um pai e amigo para as crianças e jovens. Não sabendo escrever nem um nem outro, quero que meu coração exulte de alegria pelo que foste no alvorecer do Instituto Marista, o que és para a Igreja e para o mundo hoje, o que serás sempre para aqueles que te amam de coração.
Ainda que não tenhas nascido santo, eu acredito firmemente que Deus te escolheu, te chamou desde a eternidade para seres um luzeiro, um farol a brilhar por entre as noites escuras dos tempos sombrios da pós-revolução, para despertar mentes e corações adormecidos pela ignorância reinante naquela época, para acordar a aurora de um novo tempo de luz trazida pelo conhecimento de Deus e de sua mensagem transmitida através da educação cristã para dar um rosto às crianças sem faces definidas.
A luz cúprica que tua mãe viu saindo do teu peito e se espalhando por todo o quarto, não seria, por certo, como ela mesma pensava, um sinal da predileção de Deus por ti? Não queria Deus dizer, de uma maneira luminosa, que o teu destino era ser luz, e que Ele já havia plantado no teu coração a primeira centelha que incendiaria todo teu coração e transformaria tua vida numa torrente inexaurível de amor? E foi assim que tiveste que te deixar queimar em tua própria chama para poder iluminar a milhares de outros pelo mundo.
Deus pronunciou o teu nome, tu o ouviste e respondeste: “Eis-me aqui, Senhor”, eu serei padre! Ainda que não soubesses completamente o que dizias, assinaste com o teu sim uma aliança de amor, cujo encantamento pelo Bem-amado foi crescendo à medida que caminhavas ao encontro dele, mas só virias a conhecê-lo plenamente quando tua vida foi imolada por inteiro em total doação.
Ainda que não soubesses inteiramente o que estavas respondendo, nem muito menos o que significava a responsabilidade de tua decisão, corajosamente empreendeste tua caminhada em direção àquele que te chamou. Com teu gesto generoso deste o primeiro passo no caminho que haveria de te conduzir aos braços daquele que sempre te amou. E não tiveste nenhum temor de iniciar uma difícil jornada, que exigiria de ti grandes sacrifícios, grandes renúncias, grandes atos de desprendimento e generosidade, pois intuías que somente através de uma vida inteiramente doada no amor poderias alcançar, ao final da estrada, a real transfiguração.
Sim, fizeste de tua vida uma oferta de amor. Porém, antes de alcançares a santidade, percorreste com maestria por entre os territórios humanos, pelas sendas da alma e do coração onde se escondem as grandezas e as fraquezas que compõem o ser. Acompanhaste, viste de perto tantos dramas e tragédias no palco da existência de muitos Irmãos. Aprendeste a lidar com as fraquezas e a pequenez humanas, mas sabias perceber a bondade, a ternura, a transparência e sinceridade de coração daqueles que recorriam a ti, pois compreendias que a força do amor poderia transformar todas as limitações em grandeza de alma. Eras sempre capaz de ver o melhor de cada um dos teus Irmãos. A tua sabedoria dizia-te que, antes de seres santo, era preciso ser plenamente humano, era necessário identificar as imperfeições da mente e do coração e lutar incansavelmente contra elas, fazendo de cada dia uma oportunidade para recomeçar o caminho. E foi assim que desde jovem praticaste a paciência com os mais lentos, a bondade com os sofredores, a compaixão pelos mais fracos, o respeito pelos pecadores, e sempre acolheste com misericórdia aqueles com a alma ferida e humilhada por sentirem-se fracassados em sua luta para serem pessoas melhores.
Por tudo isso, pelo que foste e pelo que és, o meu coração se alegra por tua presença luminosa na Igreja e no mundo. Meu coração se regozija por tua vida límpida e profunda, pois tu me motivas a querer percorrer o teu caminho, seguir teus passos, buscar em teus ensinamentos a mesma porta pela qual entraste e que te conduziu ao altar da imolação, onde tua vida foi ofertada generosamente, dia após dia, aos teus Irmãos.
Quando Deus bateu suavemente à tua porta tu o ouviste e não temeste responder. Disseste sim, disseste aqui estou, disseste eu deixarei tudo e irei aonde tua mão me conduzir. Deixaste Deus entrar na tua tenda e nela Ele fez sua morada. Como recompensa Ele te deu sabedoria para mudar a história, deu-te forças interior para transformar vidas e corações, deu-te asas para alcançar as alturas, deu-te graças para conquistar a glória dos céus. Parabéns Champagnat!
Ir. Manoel Soares (Ir. da Província Brasil Centro-Norte, missionário em Timor Leste)