7 de maio de 2014 CASA GERAL

8 de maio de 2014

No dia 8 de maio de 1994, na Argélia, o Irmão Henri Vergès foi assassinado, em seu birô, na biblioteca da rua Ben Cheneb, em Argel, com a Irmãzinha Paul-Helène. Vinte anos após sua morte, nós lhes propomos a conclusão do prefácio escrito por Dom Henri Teissier, arcebispo de Argel, para o livro de Robert Masson, publicado em 2004 nas edições «Palavra e Silêncio»: Henri Vergès, um cristão na casa do Islão. Esse prefácio, que é um testemunho, tem por título «Um caminho de Evangelho».

"Quero sobretudo sublinhar a excepcional fidelidade de Henri à sua vocação de religioso e de educador. Durante as horas em que procuramos juntos viver as etapas de sua vida de 1981 a 1994, nunca o vi desejar outra coisa senão a realização dessa fidelidade à sua vocação de Irmão Marista educador. 

Cada uma das 19 vítimas de nossa comunidade, durante a crise argelina, ilustra um tipo de fidelidade à sua vocação: Pierre Claverie, como bispo e dominicano; os Irmãos de Tibhirine, como trapistas em mundo rural muçulmano; as religiosas, cada uma no seu bairro, com as proximidades espirituais próprias de seu carisma. Mas Henri Vergès dá, nessa família de nossos mártires, um testemunho realmente específico. Ele encarnava a fidelidade à sua dupla vocação de religioso marista e de educador, sem que seja possível encontrar em sua vida, um só instante, uma só preocupação, um só pensamento que não estivesse ordenado a essa vocação. Tudo isso baseado na fidelidade excepcional à sua vida de oração e na relação bem forte com sua congregação.

À medida que ia se inserindo na Argélia, ele amadurecia também uma nota harmônica nessa sua fidelidade. Sua vida de religioso marista e de educador tornava-se uma vida na Argélia muçulmana, para os Argelinos e com os Argelinos. O aumento dos perigos, de que estava bem consciente, nada mudava nessa orientação fundamental, mas lhe acrescentava uma vontade de solidariedade espiritual com o Islão e os muçulmanos cujo Ribat o ajudaria a esclarecer todo o significado. Suas amizades, particularmente com o Irmão Christian, os monges e outros membros do Ribat aprofundavam nele esse apelo.

Quando a violência levou Henri, pareceu-nos que nele ela feria nossa vocação em sua realização mais perfeita. Nenhum dos que o conheciam podia discernir, nas suas escolhas e utilização do tempo, outra coisa que não fosse a decisão constantemente renovada de cumprir a vontade de Deus, conforme sua vocação, e de acordo com as orientações espirituais que sua existência na Argélia lhe dava. Talvez tenha sido essa sua correspondência, entre a vocação recebida e a vida cotidiana, que quiseram abater. Ao feri-lo, feriam nosso ideal numa de suas realizações mais comoventes. Feriam nossa própria missão. Talvez tenha sido isso que, no final dessa crise, nos mereceu reencontrar essa missão tão claramente presente em nossa Igreja e, como nunca, reconhecida por nossos amigos algerianos muçulmanos, pelo menos por aqueles que acreditam, como nós, num futuro de diálogo espiritual entre as duas comunidades. Um futuro que, em 1994, ignorávamos poder vivê-lo, com mais plenitude que nunca, em 2004. Henri Vergès, Paul-Hélène e todos os seus companheiros, com seu sacrifício, deram novos alicerces à nossa Igreja».

Henri Teissier, Archevêque d’Alger

Dom Henri Teissier aceitou participar da organização que a Diocese de Perpignan, com o concurso da Fraternidade «O Ribat», de Espira-de-l’Agly, prepara para os dias 17 e 18 de maio próximo, em comemoração do 20º aniversário da Páscoa de nosso Irmão Henri. Agradecemos-lhe vivamente.

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Irmão Alain Delorme

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