A partir da experiência uma reflexão
Crise! Apenas se fala de crise! Mesmo os belos projetos de um jovem casal ou a espera de um filho criam hoje confusão… Ninguém está pronto, ninguém está preparado, porque ninguém nos preparou para o imprevisível.
Há pouco, era Natal: talvez permaneça apenas uma vaga lembrança, mas o Natal tinha o seu sentido claro, forte, imprevisível: hoje nasceu para nós um Salvador! Significa uma Esperança que se opõe aos nossos temores: deve existir alguém tão forte de modo a proteger a vida, a dar um sentido a este nosso tempo e fazer com que vislumbremos uma luz… “O povo que caminhava nas trevas viu um grande luz” dizia a profecia de Isaías… Alguns povos de então, os pastores de Belém, acreditaram nisso e colocaram-se a caminho para descobrir o mistério do “menino que jaz na manjedoura”.
Quanto seria útil, hoje, aprender a tarefa de pastor, a nós que somos gente de cidade, do bem-estar, do consumo; gente que tem ou tinha tudo e continua a ter fome e sede de tudo… O ofício dos pastores: vigiar, guardar, ir procurar, tomar cuidado. Aprender a tarefa de cuidar: da família, do mistério da vida, dos pequenos, de quem está ao redor de nós, de quem descobrimos sermos ‘próximo’. O apóstolo Paulo recomendava aos cristãos dos quais cuidava, de “crescer e superabundar no amor recíproco e para com todos”. Façamos nosso esse convite, usemos mesmo palavras diferentes: animar a solidariedade, não fechar-se em si mesmo, menos egoísmos pessoais e mais coragem pública!
Na história dos Irmãos Maristas há um pouco dessa coragem. Bastam dois exemplos: antes de 1968, os Irmãos eram quase 10.000 e atendíamos em torno de 200.000 jovens. Depois a crise… Hoje os Irmãos são apenas 3.500, mas aprenderam a condividir com tantos outros sua missão e seu estilo educativo: em torno de 50.000 pessoas, sob diversos títulos, desenvolvem atividades em estruturas maristas, alcançando mais de meio milhão de jovens, em 79 países e trabalham com profissionalidade e paixão, especialmente com os pequenos e marginalizados.
Outro exemplo: a FMSI – Fondazione Marista per la Solidarietà Internazionale.
Com esta entidade pública reconhecida, o Instituto pode relacionar-se com outras entidades não lucrativas, apresentar projetos, encontrar novos recursos para as obras voltadas para os mais necessitados. Um escritório central em Roma cuida dessas relações e procura coordenar as organizações maristas de solidariedade. Mas, sobretudo, há um escritório em Genebra com a função de empreender iniciativas pela promoção dos direitos das crianças. Um tema novo, no qual ninguém era especialista; no entanto, depois de uma fase de aprendizagem ao lado do “Franciscan International”, a FMSI já conseguiu o estatuto consultivo da ECOSOC (ECOnomic and SOcial Council), que lhe permite de participar em sessões da ONU, dedicadas à avaliação dos direitos humanos e, em particular, dos direitos da criança, nos 193 Estados membros. Missão marista não é apenas ser bons educadores cristãos, mas é também ‘advocacia’ (= denúncia, controle, promoção) junto aos organismos competentes, isto é, parte ativa da sociedade civil que pode e deve influenciar as políticas dos Estados ou Países.
Crise não è sinônimo de morte: havendo coragem, experimenta-se que renasce uma vida nova: inauguremos, pois, um novo estilo de vida; menos lamentos, mais abertura, participação e corresponsabilidade… Olhemos ao redor, construamos itinerários de encontro, de escuta, de relação, de partilha, de solidariedade. “I care” (eu cuido) seja o nosso novo estilo de vida.
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Mario Meuti, FMS
FMSI – Diretor – Escritório de Roma
http://www.fmsi-onlus.org/