Ano Fourvière
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Sendo 2016 o Ano Fourvière, convém que seja evocado o ato fundador da Sociedade de Maria, em 23 de julho de 1816. Isso é muito importante porque, por muito tempo, os Irmãos Maristas subestimaram esse evento, dando preferência ao de 2 de janeiro de 1817.
Num artigo muito sóbrio, o Pe. Justin Taylor, exegeta, reúne o essencial daquilo que sabemos sobre essa declaração de intenção de 23 de julho, que deixa ainda muitas questões não resolvidas, em particular quanto às influências e inspirações que foram exercidas sobre os primeiros Maristas. Penso particularmente em São Paulo (2 Coríntios); talvez em Maria de Ágreda; e também nos regulamentos das AAs (Reuniões de Amigos) e das “pequenas sociedades”, pequenos grupos fervorosos existentes em todos os seminários. Acredito também que o modelo lassalista não inspira senão muito parcialmente o projeto de fundação de Marcelino Champagnat. Mantive breve correspondência com o Pe. Justin Taylor sobre essas questões, que precisaria debater mais longamente. Dito isso, o artigo do Pe. Justin Taylor tem a vantagem de apresentar realizações firmemente estabelecidas pela pesquisa marista sobre o ato fundador da Sociedade de Maria em Fourvière.
O artigo do Ir. Aureliano Brambila, sobre a ideia de refundação, me parece bem complementar com o precedente, pelo fato de juntar origens e tradição no conceito de patrimônio. E essa reflexão, que situa o laicado como elemento maior da refundação, nos introduz ao tema principal deste número dos Cadernos Maristas: o laicado marista.
Certamente, esse assunto já suscitou muitas intervenções, mas os Cadernos Maristas se mantiveram discretos sobre isso. Também o ano de 2016 nos possibilita oferecer um conjunto de reflexões e testemunhos que, cada qual a seu modo, pontualizam essa realidade una e diversificada.
O artigo do Ir. Javier Espinosa encara de maneira muito completa a realidade do laicado marista, embora sugerindo um futuro construído em torno do conceito de Igreja-comunhão e, portanto, de um Instituto também comunhão. Os Irmãos, de fato, não são proprietários de seu carisma; e partilhá-lo não é um empobrecimento, mas uma chance de renovação. Não se trata somente “de alargar o espaço da tenda”, mas de construir uma nova. Daí a necessidade de repensar nosso modelo institucional, com o cuidado de chegar a uma organização melhor do laicado maristas.
Heloisa Afonso de Almeida Sousa nos introduz a uma problemática a respeito do laicado que corresponde a uma interrogação, quase sempre implícita, de não poucos Irmãos Maristas: o que é que faz um leigo se apaixonar pela espiritualidade marista? Será o compromisso na missão? O conhecimento da espiritualidade e a vida com os Irmãos? Um apelo especial de Deus? E quatro leigos maristas (dois homens, duas mulheres) nos oferecem diversas respostas a essa questão: umas predominantemente existenciais, outras mais especulativas. Parece-me que muitos leitores poderão aí se encontrar em conivência com um ou outro desses quatro testemunhos e até com vários deles.
Com Rosangela Florczak, Marcelino Champagnat é considerado de alguma maneira fora do universo religioso: como um modelo de comunicador e de líder. Lendo seu artigo, pensei na circular de convocação da Conferência Geral, do Ir. Seán Sammon, de 7 de outubro de 2004: “Por uma liderança que gera vida”. A meu ver, os dois documentos são notavelmente complementares.
Não vou me alongar sobre os artigos seguintes e os documentos propostos. Eles são mais convencionais ou apresentam documentos cujo interesse cada um pode apreciar.
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F. André Lanfrey