Assembleia Europeia da Missão Marista
(16 de abril de 2015) A Assembleia de l’Hermitage vai caminhando para o fim. A comunhão que esteve presente em toda a Assembleia é sublinhada hoje de um modo especial. Quatro grupos são constituídos para chegar, tanto quanto é possível, a concretizar as intuições de Nairobi, repetidas aqui em l’Hermitage, várias vezes. Fala-se de uma comunhão europeia que avance para um novo começo”. E formam-se quatro grupos de trabalho para refletir sobre os desafios que Nairobi deixou sobre a comunhão, nos seus diferentes aspetos: iniciativas “inter”; as estruturas para fortalecer a vitalidade no Instituto; o trabalho vocacional; e as novas comunidades numa Europa marista de comunhão. O trabalho de cada um destes grupos seria ainda “mastigado” depois por províncias sempre na ânsia de chegar a elementos ou iniciativas bem concretas.
Aproveito para dialogar ainda com Nathalie Faure, da Província de l’Hermitage e Diretora da nossa Escola primária em Bourg-de-Péage. Foi um diálogo longo, interessante e muito agradável. É impossível registar aqui toda a riqueza do diálogo. Registamos algumas notas , sobretudo, sobre a comunhão.
“Senti-me estes três dias com este grupo tão heterogéneo como se fosse o meu grupo de há muito tempo. Por mais que estivéssemos estado separados, no passado, não me forram indiferentes o abraço amigo e tantas manifestações de amizade nestes dias. Mesmo a festa de ontem com todo o que teve de humor e de brincadeira foi um elemento de unidade; estivemos unidos no trabalho e na oração; também fomos capazes de estar unidos na alegria da festa. O que nos une é a dimensão marista que nos habita”.
Talvez não se tivesse falado tanto de comunhão como se falou da profecia e da mística. Para Nathalie isso não era nenhum problema. E parece dizer que a comunhão vive-se na experiencia da vida e não na teoria dos livros. E fala da dinâmica do triângulo equilátero que a Martha tinha apresentado na tarde de La Valla, para nos introduzir ao piso inferior da casa, o piso da mística, da oração, da intimidade com Deus. No triângulo equilátero todos os vértices se necessitam; há neles um equilíbrio; eu encontro-me continuamente em relação com o outro. No fundo essa simples figura geométrica é um símbolo de comunhão: eu tenho necessidade do outro e o outro tem necessidade de mim. E um desejo fundamental de Nathalie: que os Maristas de Europa se sintam os vértices de muitos triângulos equiláteros imaginários com uma capacidade grande de nos movermos ao longo do triângulo olhando as necessidades europeias e não apenas a dos nossos países.
Mas tinha havido mais ainda no que diz respeito à COMUNHÃO. E Nathalie refere o exercício de Emaús que, paradoxalmente tinha sido um exercício a três em vez de ser a dois, como de costume. A criatividade também se pode exprimir na interpretação de alguns dados evangélicos. E por aí vão, nos diferentes caminhos de l’Hermitage, os “três discípulos e discípulas” de Emaús. Quanta riqueza se terá partilhado nesta catequese de Emaús, agora adaptada a L’Hermitage. E Nathalie confessa que foi um momento alto que se traduziu também numa comunhão de vidas, com um pano de fundo marista. “Felizmente no meu grupo não houve barreira linguística e esse momento de Emaús foi um momento de grande, de mística e comunhão. Senti no pequeno grupo a simplicidade marista que nos fez partilhar abertamente os nossos sonhos e até as nossas vulnerabilidades. Falámos do texto de Galeano: com a riqueza que o Senhor nos tinha dado, eramos uma pequena luz no lugar onde estávamos. Gostaríamos que essa luz alumiasse mais ainda os projetos de hoje e os projetos de amanhã na Europa marista. O grupo lembra-se ainda de Maria e do apelo do Capitulo geral: partir depressa… Sinto que há uma grande diferença ainda ente os apelos do Capítulo e a minha vida. Mas estou aberta: o que é que o Senhor poderá dizer-me, como disse aos discípulos de Emaús, que eu possa anunciar na Europa Marista”.
A confissão de Nathalie continuou ainda com outros aspetos muito interessantes e muito pessoais:
”Sinto-me como uma pequena gota de água, como uma pequena luz referida no texto de Galeano que me apaixonou. Com o meu trabalho e o meu modo de ser marista gostaria de contribuir a esta chama que deve brilhar no mundo com a pequenina luz da minha lâmpada”. A simplicidade e a humildade maristas estão bem no coração de Nathalie, mas acrescenta logo: “Serei uma pequena luz, mas terei o meu brilho; a luz por mais pequena que seja não é inútil se não a colocamos debaixo do alqueire”, diz relembrando o texto evangélico.
Depois, passeando pelas margens do rio Gier, continuamos a partilha:
“Sabes, tenho uma grande esperança na Europa marista, apesar da minha pequenez. A oração destes dias tocou o meu coração: a oração à volta da tenda; a oração à volta da mesa, a Eucaristia final…As palavras unidas à força simbólica das fotos enviam-nos ao mundo real dos Montagne de hoje… A comunhão traz-me um olhar diferente e inspira-me novos modos de estar na escola. Também ali tenho crianças difíceis que me pedem uma mudança de olhar. Devo abrir mais o meu coração, sem deixar de abrir a inteligência, para melhor descobrir o meu aluno. Sabemos quão forte é a pedagogia da presença, mas ainda luto para, às vezes, sair do meu isolamento. Esta Assembleia teve esse dom maravilhoso de abrir horizontes e construir mais comunhão. Não quero esquecer esta lição.”.
A conversa continuou ainda por um bom tempo. Com grande profundidade. Nem tudo pode ser anotado. Mas o Senhor estava ali, como esteve com os discípulos de Emaús de outrora. E Nathalie diz ainda antes de descermos a estrada, vinda do jardim, para depois nos perdermos no caminho que nos leva à grande capela: “Vou estar atenta ao que o Senhor me diz, para melhor ver o que posso partilhar depois com as gentes da minha escola”.
Ficou entusiasmada com a missa, a sua riqueza de símbolos, como as velas (sempre a luz que somos chamados a ser), o avental, oferecido depois da comunhão, símbolo agora tão comum no mundo marista para dizer o serviço; as orações dos fiéis, algumas das quais lembravam as NOVAS MESAS que somos chamados a inventar. Saudei a Nathalie naquele abraço da paz: depois da nossa partilha tinha um sabor especial. Toda a Eucaristia a tinha deslumbrado. E dizia-me como gostou de um modo especial do canto de entrada e do avental oferecido no momento de ação de graças. Do canto sublinhava a terceira estrofe que a tinha tocado de modo especial e que era um bom resumo de tantas coisa que se tinham vivido na Assembleia: “Atentos aos pequenos / fazer nascer a esperança / anunciar Jesus Cristo / e dar outra vez a confiança / Estar ao serviço, à escuta / pôr o avental / caminhar na estrada / dar a dignidade.” O avental que lhe fora dado seria uma boa lembrança para pôr em prática os dizeres desta estrofe.
Já na rota dos aviões quis ainda saber o parecer dos Conselheiros gerais para a Europa sobre esta Assembleia:
Diz o Irmão Antonio Ramalho:
“Foi uma excelente Assembleia onde Narobi esteve sempre presente. Há boas bases para concretizar na Europa as grandes orientações de Nairoibi. Os participantes mostraram ter uma grande qualidade, vista nas suas intervenções e nas suas partilhas. A Assembleia pode provocar novos ventos no campo da profecia, da mística e da comunhão. Acontecimentos como este, com um bom número de leigos, especialmente jovens, podem desencadear na Europa iniciativas comuns que um futuro próximo vai pedir. Estamos numa Comunidade Europeia onde as barreiras caíram. Creio que também na Europa marista estas iniciativas ‘inter’ vão multiplicar-se no futuro. Os 54 participantes nesta belíssima Assembleia podem ser os melhores embaixadores da nova Europa marista”.
E o Irmão Ernesto Sanchez acrescenta:
“Confirmam-se na Europa as grandes intuições da Congregação e de Nairobi: o trabalho com os mais pobres; o desenvolvimento, porque se sente a necessidade, da espiritualidade e o trabalho com os laicos, cada vez mais profundo e mais multiplicado. Já não são só tendências irreversíveis, são dados adquiridos. A Assembleia deu um impulso enorme a estes temas e diz-nos que os Maristas na Europa têm futuro. Há uma plataforma extraordinária de colaboração que se desenha neste caminho para o bicentenário e mais além do bicentenário. Temos que começar a pensar como se a Europa fosse uma só grande província. Lembraria a frase: ‘pensar globalmente e agir localmente’. Já no fim da nossa visita a Europa e depois de ter visto esta Assembleia eu posso dizer com muita convicção: ‘A Europa marista tem futuro’”.