Buscando o dom do encontro
O "Encuentro Project", na fronteira entre México (Ciudad Juárez) e Estados Unidos (El Paso), oferece serviços de planejamento e hospedagem para viver experiências de encontro com os migrantes. O projeto inclui trabalho direto com requerentes de asilo, migrantes e refugiados. Também oferece educação social católica sobre projetos de migração e realidades nas fronteiras, através de visitas, reflexão e acompanhamento espiritual.
O "Encuentro Project" é uma iniciativa intercongregacional protagonizada pelos Jesuítas, Irmãos Maristas, Irmãs de São Francisco da Sagrada Família e conta com a participação de leigos e do Instituto Fronteira da Esperança.
Os Irmãos Maristas Todd Patenaude (Província dos Estados Unidos) e Eduardo Navarro De La Torre (Província do México Ocidental), que trabalham no projeto, formam uma comunidade marista em El Paso, Estados Unidos.
O Ir. Tod, coordenador do programa e gerente da casa do projeto, abaixa nos conta mais detalhes desta obra missionária.
Ler mais sobre o projeto, em inglês
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O projeto nasceu do apelo do último Capítulo Geral para que os Irmãos fossem às margens ou às fronteiras. As províncias do México e dos Estados Unidos decidiram realizar um projeto conjunto para lidar com a imigração e os problemas enfrentados pelos migrantes.
Durante um ano, fomos encarregados de investigar e estudar o fenômeno da migração, os problemas e as possíveis maneiras pelas quais o Instituto dos Irmãos Maristas poderia ajudar. Durante um ano nos educamos o máximo que pudemos, seja lendo, encontrando pessoas familiarizadas com todos os aspectos da imigração, tais como advogados de imigração, assistentes sociais, pessoas que trabalham em abrigos de emergência e lares para imigrantes, políticos, agentes de patrulhamento de fronteiras, bispos, sacerdotes e outros religiosos e leigos que trabalham na diocese de fronteira e/ou com os próprios imigrantes.
Também nos reunimos com muitos imigrantes (tanto no México quanto nos Estados Unidos), legais e sem documentos – incluindo refugiados, requerentes asilo, menores desacompanhados, beneficiários do DACA e deportados. Viajamos ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos, de McAllen, Texas, até San Diego, Califórnia, e em muitos pontos de acesso migratório no México, incluindo a fronteira sul do México em Tabasco.
Aprendemos muito sobre as razões pelas quais as pessoas migram, seja devido aos "fatores de pressão" que forçam as pessoas de seus países de origem ou aos "fatores de atração" que atraem as pessoas para os Estados Unidos e outros países de destino.
Aprendemos muito sobre as razões pelas quais as pessoas migram, seja por causa dos "fatores de pressão" que forçam as pessoas a migrar ou dos "fatores de atração" que atraem as pessoas para os Estados Unidos e outros países de destino.
Também nos reunimos com muitos imigrantes, tanto no México quanto nos Estados Unidos, legais e sem documentos – incluindo refugiados, requerentes asilo, menores desacompanhados, beneficiários do DACA (Ação Diferida para Chegadas da Infância) e deportados. Viajamos ao longo da fronteira sul dos Estados Unido – de McAllen, Texas, até San Diego, Califórnia – e em muitos pontos de acesso migratório no México, incluindo a fronteira sul do México em Tabasco.
Aprendemos muito sobre as razões pelas quais as pessoas migram, seja devido aos "fatores de pressão" que forçam as pessoas de seus países de origem ou aos "fatores de atração" que atraem as pessoas para os Estados Unidos e outros países de destino.
No início, quando nos reunimos com os especialistas em imigração, explicamos que nós (como uma congregação) queríamos iniciar um projeto para atender às necessidades não atendidas, e perguntamos quais eram essas necessidades. Muito em breve, fomos informados de que havia muitas necessidades no campo da imigração, que a melhor coisa era concentrarmo-nos em aspectos particulares do problema onde estávamos preparados para ajudar. Algumas áreas temáticas de interesse logo começaram a surgir. Essas áreas incluíam hospitalidade: atender às necessidades básicas dos migrantes, como alimentação, água e abrigo, e também incluíam enormes necessidades, tais como educação, defesa e proteção.
No final de ano, propusemos quatro projetos diferentes ao nosso governo provincial. Depois foi decidido iniciar um projeto em El Paso, Texas, que chamamos de “Encuentro Project”. O projeto é uma colaboração conjunta entre os Irmãos Maristas, os Jesuítas, as Irmãs Franciscanas e a Arquidiocese de El Paso, e começou em agosto de 2018. Nossa missão é trabalhar diretamente com migrantes em abrigos de emergência e a criação de um programa de imersão fronteiriça, para educar grupos de pessoas sobre as realidades da fronteira, da imigração e do ensino social católico.
Com quantos imigrantes e refugiados trabalha?
No abrigo onde eu e o Ir. Eduardo trabalhamos, recebemos de 150 a quase 500 imigrantes por semana. No entanto, o abrigo onde trabalhamos é apenas uma parte do sistema de abrigo em El Paso. O maior sistema é a Casa da Anunciação, que vem recebendo de 500 a 2500 imigrantes por semana.
De onde vêm os imigrantes e quem são eles predominantemente?
Os imigrantes são geralmente da Guatemala, El Salvador e Honduras. No entanto, às vezes recebemos imigrantes também do México, África, Ásia e Rússia. E, recentemente, temos recebido numerosos imigrantes de Cuba e do Brasil.
No abrigo onde trabalhamos, recebemos os chamados "requerentes de asilo não detidos", que são formados principalmente por famílias (geralmente pais solteiros, mãe ou pai e um ou mais filhos) ou mulheres grávidas solteiras.
Que tipo de ajuda ou serviço lhes oferece?
Geralmente, quando as pessoas são liberadas do ICE (Bureau of Immigration and Customs Enforcement), elas têm pouco ou nenhum dinheiro: têm roupas ou apenas as que estão usando e raramente têm recursos financeiros para comprar passagens de transporte ou comida. Os centros de recepção ocolhem estas pessoas, dão alimentos, fornecem-lhes uma cama, um chuveiro, uma muda de roupas novas e comunicam com os seus patrocinadores para comprar-lhes passagens. Nós também organizamos voluntários para levá-lo do centro de recepção para o aeroporto, estação de trem ou ônibus. Também lhes proporcionamos comida suficiente para chegar ao seu destino.
Todavia, talvez a coisa mais importante que fazemos seja acolhê-los de braços abertos, tratá-los com dignidade, amor e respeito e ajudá-los a se sentirem seguros depois de terem vivenciado traumas graves nos lugares de onde vieram, nas suas viagens e no tratamento que receberam das autoridades do governo dos EUA, desde o momento em que chegaram à fronteira. É incrível ver que o poder do amor transforma as pessoas, que estão tão assustadas, traumatizadas e aterrorizadas, em pessoas felizes, sorridentes e sempre muito gratas. É de partir o coração ver crianças pequenas chegarem assustadas, exaustas, famintas e frequentemente doentes. No entanto, é incrivelmente reconfortante vê-las transformadas, em poucas horas, em crianças felizes e novamente brincalhonas.
Vocês têm uma equipe de trabalho?
Trabalhar em abrigos requer literalmente um exército de voluntários. Precisamos de pessoas para acolher imigrantes, fornecer-lhes comida, roupas, lençóis e toalhas, produtos de higiene pessoal, cuidados médicos básicos, telefonemas e transporte, e muitos pequenos detalhes para fazer todo o sistema de trabalho funcionar.
Há muitas congregações religiosas que ajudam: Irmãs, Irmãos, Sacerdotes e missionários leigos. Para ser honesto, as Irmãs e os leigos estão fazendo o trabalho pesado. Há várias Irmãs e um Irmão Marista (Eduardo) que se dedicam aos centros de hospitalidade como um trabalho de tempo integral, e tem havido um fluxo constante de Irmãs (de pelo menos uma dúzia de congregações diferentes) que vieram para ajudar por um período que vai de uma semana a alguns meses. Um Padre Jesuíta (Rafael García) e eu trabalhamos no abrigo durante dois ou três dias por semana. Os irmãos e sacerdotes são poucos, mas felizmente isso está começando a mudar… Teremos conosco outro Irmão Marista (Peter Guadalupe), de 7 de fevereiro a 17 de março.
A colaboração intercongregacional e a camaradagem são fantásticas aqui em El Paso. Todos nós trabalhamos para uma missão comum e todos nós trazemos os nossos carismas individuais e forças individuais. Em minha opinião, este é um modelo do que deve ser a Igreja Católica e a vida religiosa!
A equipe do “Encuentro Project”, até agora, é formada por um Irmão Marista, um Padre Jesuíta, uma Irmã Franciscana e alguns leigos que ajudam ocasionalmente. Tivemos nosso primeiro grupo pouco antes do Natal, e tivemos mais dois grupos, com outros onze grupos agendados para os próximos meses. A demanda por este tipo de experiência é alta, e ainda não começamos a anunciar, ainda não temos um site, ou qualquer outro material de marketing que não seja o folheto, que está aqui em anexo. Claramente, precisamos recrutar mais ajuda. Na verdade, você pode ver que o projeto está crescendo rapidamente, pois há muitas necessidades e um sincero interesse em tudo o que foi exposto até agora.
Foto de Claire Peterson ©Jesuits USA Central and Southern Province
Tráfico de pessoas
Como mencionei anteriormente, descobrimos que as necessidades são muitas… Das quatro propostas que apresentámos, não tenho dúvidas de que escolhemos a correta, mas muitas vezes penso em outras necessidades, que não estamos a abordar. Estou preocupado por uma em particular. Durante nossa pesquisa descobrimos o quão grande é o problema do tráfico de pessoas. Isto envolve milhões de pessoas aqui nos Estados Unidos. Sei que inicialmente é difícil de acreditar, mas basta considerar a elevada taxa de prostituição em todas as grandes cidades, sem ignorar as pequenas cidades onde também existe prostituição. Basta também olhar para a quantidade de pornografia infantil na Internet, para ver quão grande é o problema – e isto apenas se considerarmos o tráfico sexual – para não mencionar o tráfico de mão de obra, que também é enorme.
Reunimo-nos com algumas Irmãs (na Califórnia e em Nova York) que administram casas seguras para mulheres resgatadas do tráfico e descobrimos que a necessidade desse tipo de ministério supera em muito a oferta. Mas o que me incomoda é que, como nos disseram as irmãs, não há absolutamente nenhum serviço para os homens que foram traficados. Muitas vezes penso nisso, quando vejo milhares de pessoas vulneráveis, especialmente crianças, que são forçadas a migrar e são os principais alvos dos traficantes.
Descobrir que aproximadamente 90% dos requerentes asilo que vêm para os Estados Unidos acabam perdendo e recebendo ordens de deportação – o que expõe suas vidas a situações e tratamentos perigosos – é algo que pesa muito no meu coração.
Espero que as pessoas que lerem este artigo se sintam inspiradas a abordar a questão ou considerar qualquer uma das inúmeras necessidades não atendidas relacionadas à imigração e às pessoas deslocadas.
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Ir. Todd