Dia Internacional da Mulher (8 de março)
Recentemente, celebramos o Dia Internacional da Mulher (8 de março). É uma oportunidade para recordar uma pessoa que honrou o mundo feminino pela capacidade de liderança, pela metodologia participativa que implantou em seus projetos, pela doação de si, pelo idealismo e pelo amor cristão com que contagiava a todos. Essa mulher foi a Dra. Zilda Arns, falecida em plena atividade, no terremoto que assolou a cidade de Porto Príncipe, no dia 12 de janeiro de 2010.
É edificante saber que essa heroína, mãe de cinco filhos, contava com dois manos sacerdotes na Ordem Franciscana e com três manas religiosas das Irmãs Escolares de Nossa Senhora. É irmã de Dom Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo. Outro seu irmão foi o Dr. Osvaldo Arns, de saudosa memória, que desempenhou o cargo de Reitor da PUC de Curitiba e foi professor de Grego e Latim. A fé e o ideal da educação aproximaram, notoriamente, os Irmãos Maristas e essa família.
A pedido da Conferência dos Bispos do Brasil, essa médica pediatra e sanitarista, criou, organizou, expandiu e coordenou ? além da Pastoral do Idoso – a Pastoral da Criança, no Brasil e, progressivamente, em muitos países da América Latina, da África e da Ásia. O início foi em setembro de 1983. A semente lançada veio a ser Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sob o nome de Fundação da Pastoral da Criança. Em 26 anos de atividade, no Brasil, atingiu 42 mil comunidades, 7.000 paróquias em todas as Dioceses brasileiras. Acompanha 1,9 milhões de gestantes e crianças menores de seis anos e 1,4 milhões de famílias pobres.
A Dra Zilda afirmava, em Porto Príncipe, um pouco antes de morrer, em palestra que proferia, na Conferência dos Religiosos, com o objetivo de motivar líderes e voluntários da Pastoral da Criança desse país: ?Por força da solidariedade fraterna, foi criada uma rede de 260 mil voluntários, dos quais 141 mil são líderes que vivem em comunidades pobres, 92% são mulheres, e participam permanentemente da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno, a serviço da vida e da esperança. Cada voluntário dedica em média 24 horas ao mês a essa missão transformadora de educar as mães e famílias pobres, compartilhar o pão da fraternidade e gerar conhecimentos para a transformação social?.
Essa pastoral conseguiu controlar a desnutrição e reduzir a mortalidade infantil. No início do projeto, de mais de 50% de desnutridos chegou-se, agora, a 3,1%. A mortalidade infantil, em 1983, era de 82,8 mortes sobre mil nascimentos; agora foi reduzida a 13 mortes por mil nascimentos, nas comunidades em que atua a Pastoral da Criança. Os bons resultados conquistaram o apoio do Ministério da Saúde, da Unicef, do Banco HSBC e de várias empresas para capacitar pessoas em atividades básicas de saúde, nutrição e educação. O custo criança/mês é de menos de US$ 1.
Zilda, em seu último discurso, em Porto Príncipe, 12 de janeiro, dizia:
?Estou convencida de que a solução da maioria dos problemas sociais está relacionada com a redução urgente das desigualdades sociais, com a eliminação da corrupção, a promoção da justiça social, o acesso à saúde e à educação de qualidade, ajuda mútua financeira e técnica entre as nações, para a preservação e restauração do meio ambiente. Para não sucumbir, exige-se uma solidariedade entre as nações. É a solidariedade e a fraternidade aquilo de que o mundo mais precisa para sobreviver e encontrar o caminho da paz.
Como pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho nas árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los?.
Frei Betto, op, escritor e jornalista, assim recorda a Dra. Zilda:
?Ela, sim, fez o milagre da multiplicação dos pães, ou seja, da vida. Aonde chega a Pastoral da Criança, o índice de mortalidade infantil cai, no primeiro ano, no mínimo 20%. Zilda Arns nos deixa, de herança, o exemplo de que é possível mudar o perfil de uma sociedade com ações comunitárias, voluntárias, da sociedade civil, ainda que o poder público e a iniciativa privada permaneçam indiferentes ou adotem simulacros de responsabilidade social.
Se milhares de jovens e adultos brasileiros sobrevivem, hoje, às condições de pobreza em que nasceram, devem isso em especial à Dra. Zilda Arns, que merece, sem exagero, o titulo perene de Mãe da Pátria?.
NB.- O governo lançará no dia 23/3, em Curitiba, um selo em sua homenagem e com a inscrição: ?Para que todas crianças tenham vida?.