Doutrina Social da Igreja
O ano de 2011 foi declarado pelo Conselho de Ministros da União Europeia como Ano Europeu das atividades voluntárias que promovam uma cidadania ativa.
Numa perspectiva cristã, o voluntariado ilumina-se com os princípios da Doutrina Social da Igreja, como são a dignidade da pessoa humana, o bem comum, a subsidiariedade e a solidariedade, e segue os valores da verdade, liberdade, justiça e paz, trabalhando para o desenvolvimento integral da pessoa humana.
O Voluntariado está aberto a todos aqueles que se sintam particularmente motivados pela sua consciência a oferecer à comunidade um tempo de gratuidade ao serviço dos outros. Isto é particularmente verdadeiro para os cristãos.
A vivência espiritual cristã, marcada pela cultura da gratuidade, cria uma disponibilidade interior para os outros, até à radicalidade da entrega, para servir as necessidades reais das pessoas que interpelam a consciência.
Para o cristão, em diálogo com todas as pessoas de boa vontade, a comunhão com a Pessoa de Jesus implica chegar às causas ou raízes das difíceis questões que geram pobreza, exclusão, abandono ou indiferença. Quem é coerente com a fé cristã transforma a vida e adopta gestos de fraternidade, busca o conhecimento das situações a socorrer e sonha vias criativas de solução para os problemas.
A atenção generosa e gratuita de muitos cidadãos ao bem do próximo revela uma cultura de solidariedade e abertura ao outro, capaz de indicar uma nova política nacional e internacional; a verdadeira concepção de vida solidária é chamada a superar os riscos de novas e velhas injustiças. O contributo de um autêntico voluntariado não se restringe somente a acções primárias, mas luta também pela transformação da sociedade.
As iniciativas de voluntariado situam-se no espírito do princípio da subsidiariedade e não se substituem aos serviços sociais dos poderes públicos. Dar vida à subsidiariedade é mobilizar para a responsabilidade de uma cidadania activa desenvolvendo ao máximo as energias da comunidade local e das redes de proximidade.
O compromisso com a justiça social e o incentivo a alterações estruturais positivas serão fatores determinantes de credibilidade das pessoas e instituições dedicadas ao voluntariado. Pelo mérito da sua dádiva gratuita, o trabalho voluntário é uma mais-valia ética em relação ao trabalho remunerado; ambos dignificam o ser humano e caracterizam-se pela competência e organização.
O voluntariado assume uma pluralidade de rostos e formas, junto dos que a sociedade esquece, rejeita, maltrata, empobrece, bem como na ajuda a uma educação para o serviço e para o desenvolvimento cultural.
Eis, brevemente, algumas das vertentes do multiforme voluntariado:
1. O voluntariado agregado a movimentos e obras sociais, já com larga tradição. Dentro deste tipo se situa o trabalho específico em hospitais, em prisões e em instituições de solidariedade social, para o qual se exige uma preparação adequada e uma integração nas normas das instituições onde actuam.
2. O voluntariado na resposta a situações de pessoas sós que necessitam de visita e companhia, de ajuda em diversos serviços. Muitos voluntários, integrados ou não em associações, exercem um serviço carregado de humanidade e paciente cuidado dos mais abandonados e esquecidos.
3. O voluntariado na educação, com bastante relevância, seja através dos alunos na resolução dos problemas da vida real, seja na participação das famílias e das comunidades nas actividades da escola: ajudar a fazer os trabalhos de casa, acompanhar visitas de estudo, colaborar na orientação vocacional, apoiar a construção ou reparação de uma determinada estrutura ou equipamento escolar.
4. O voluntariado ao serviço da evangelização, especialmente nas paróquias e movimentos, exercido em fecunda e apreciada dedicação na transmissão do Evangelho. Conta com milhares de voluntários, gratuitamente empenhados nas diversas acções eclesiais, nomeadamente a catequese, a animação litúrgica, a pastoral familiar, a participação nos órgãos de administração e corresponsabilidade pastoral.
5. O voluntariado missionário, próximo do Voluntariado Internacional para a Cooperação, sobretudo destinado para acções fora do país, inserido em projetos de promoção humana e social, em áreas como a educação e formação, a saúde, o associativismo, o apoio comunitário e social, a capacitação técnica de agentes locais. Procura ser sinal de fraternidade global, despertando a opinião pública para as questões do desenvolvimento.
6. O voluntariado na dimensão cultural, que ganha cada vez mais adeptos. Dedicar os tempos livres ao cultivo da música, seja em filarmônicas ou grupos corais, à conservação e promoção do patrimônio, arquivos, bibliotecas, museus e outros centros culturais valoriza quem se dedica e permite disponibilizar os bens culturais à comunidade, de modo mais rápido e económico.
7. O voluntariado de socorro de emergência, sobretudo através de instituições como os Bombeiros, a Cruz Vermelha e a Cáritas, tão atraente para muitos jovens dispostos a aventuras e riscos da própria vida na ajuda imediata em situações de particular aflição.
8. O voluntariado no campo ecológico, que conquistou espaço na vida contemporânea, tão necessitada da defesa do ambiente.
9. O voluntariado dos direitos humanos, com especial significado na defesa da vida, na promoção da justiça e da paz entre as pessoas e entre os povos.
Verifica-se que o voluntariado tem constituído para muitos um lugar de enriquecimento humanizante que faz repensar projetos de vida, preparar para embates, aliviar as tensões e relativizar os próprios problemas. Entre as muitas vantagens do voluntariado, podemos salientar, no atual contexto, o fato de ser escola de realismo duro da vida e promover uma educação capaz de olhar de frente os problemas concretos, as dificuldades e os sofrimentos, e uma ocasião para o anúncio da mensagem cristã.
O entusiasmo e o crescente número de pessoas que aderem ao serviço voluntário não devem fazer esquecer a sabedoria do saber dar-se. Lançar-se no trabalho voluntário requer conhecimento da realidade e qualificação das organizações. Deve igualmente ser dada particular atenção às condições de maturidade humana por parte de quem oferece o seu tempo e competência ao bem comum, sob perigo de causar dano em vez de benefício.
Gostaria que estes diferentes campos de actuação no voluntariado dessem margem a tantos amigos maristas de se comprometerem em algum deles. No sequenciado projeto AD GENTES, começamos agora a falar de Cooperação Missionária Internacional. É uma nova dimensão do mundo marista onde os voluntários se podem comprometer por mais ou menos tempo.
É um momento próprio para mim neste momento manifestar o meu profundo reconhecimento e apreço pela multidão de voluntários maristas que ao longo de tantos anos tem ajudado em projetos na América Latina, na Ásia e na África para ajudar a criar um mundo melhor.
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Teófilo Minga, fms – Coordenador Ad gentes
(Observação: este artigo inspira-se numa nota dos Bispos portugueses sobre o voluntariado).