Emergência educativa?
Faz uns meses, ?navegando? pela internet, deparei-me com uma carta que o Papa Bento XVI enviou para um Congresso de Educadores Católicos que era celebrado em Roma. Vem datado de 29 de maio de 2009. Na mencionada carta o Papa Bento XVI abordou alguns temas básicos da escola católica e seu futuro, situando-os no contexto do relativismo atual que dificulta a transmissão dos ?valores fundamentais da existência? e que levou o Papa a falar de uma autêntica ?emergência educativa? (veja o texto). Bento XVI formulava então esta pergunta: ?Como propor, a partir da educação, aos mais jovens e transmitir, de geração em geração, algo válido e certo, regras de vida, um autêntico sentido e objetivos convincentes para a existência humana, seja como pessoas seja como comunidades?? Não damos uma resposta correta a essa pergunta ? continua escrevendo o Papa ? quando a educação se reduz ?à transmissão de determinadas habilidades ou capacidades de fazer, enquanto se procura satisfazer o desejo de felicidade das novas gerações, enchendo-as de objetos de consumo e de gratificações passageiras?.
Se uma escola católica abdica a seus princípios fundamentais, por razões de ?mercado ou por pressões de outro tipo??, ela perde sua identidade: face a esse perigo, é preciso ter sempre presente o fim da educação, ?que consiste na formação da pessoa para capacitá-la a viver em plenitude e dar sua contribuição ao bem da comunidade?.
Ante a emergência educativa, sublinha o Papa, falta ajudar as crianças, os adolescentes e jovens ?a encontrar-se com Cristo e estabelecer com Ele uma relação duradoura e profunda. E no entanto, este é, precisamente, o desafio decisivo para o futuro da fé, da Igreja e do Cristianismo; portanto, é uma prioridade essencial de nosso trabalho pastoral e educativo: aproximar de Cristo e do Pai a nova geração que vive num mundo, em grande parte, longe de Deus?.
Se quisermos ser coerentes com a fé e com um projeto educativo cristão, precisamos compreender e afirmar que a escola católica não pode renunciar a seus princípios básicos para fazer-se mais atrativa ou ?competitiva?, estabelecendo isso como elementos ?prioritários e quase exclusivos?. Não podemos permitir que o sal ?se torne insosso?. Uma escola católica que assumisse ideários e métodos contrários aos princípios básicos da fé seria um contrassenso e até uma fraude contra as famílias que desejam uma boa formação cristã para seus filhos, e contra toda a Igreja que confia nas escolas católicas como autênticas promotoras de uma cultura imbuída do Evangelho.
No documento ?Missão Educativa Marista? (1998), somos definidos assim: ?A escola marista é um centro de aprendizagem, de vida e de evangelização. Como instituição escolar, leva os estudantes a ?aprender, a conhecer, fazer, conviver e a amadurecer como pessoas e crentes?. Como escola católica é uma comunidade em que se vive a transmite a fé, a esperança e o amor, e na qual os educandos, progressivamente, são iniciados no permanente desafio de harmonizar fé, cultura e vida. Como escola católica de tradição marista, adota a abordagem educativa de Marcelino Champagnat para a educação das crianças e dos jovens, do jeito de Maria? (nº 126). Significa que nossa escola marista parte da concepção do valor da pessoa e de sua inserção positiva e solidária na sociedade; é um ensino que oferece a VERDADE e acompanha até sua descoberta.
O projeto educativo-evangelizador marista é o ?eixo transversal? de qualquer regulamento interno, de programações didáticas e outras previsões. Significa uma fé que vive e ilumina a cultura. Não estariam por aí algumas soluções, simples mas válidas, para resolver a ?emergência educativa??
A tarefa da Igreja, em nosso contexto cultural, é enorme, e a escola católica é chamada ? e por isso também nosso Colégio Champagnat de Bogotá – a fazer um trabalho imenso em favor da educação da fé. Bento XVI, na carta citada anteriormente, expressava-o com estas palavras: ?O compromisso da Igreja de educar na fé, no seguimento e no testemunho do Senhor Jesus assume, mais do que nunca, o valor de uma contribuição para que a sociedade em que vivemos saia da crise educativa que a aflige, colocando uma barreira à desconfiança e ao estranho ?ódio a si mesma? que parece ter-se convertido numa característica de nossa civilização?.
Este é um chamado claro e exigente para que a educação cristã se desenvolva num autêntico contexto de amor, sobretudo, para superar o clima de isolamento, de competitividade, enfrentamento e solidão, tão próprio de nosso tempo e de nosso país, tanto historicamente quanto atualmente. Diante desse clima, resulta decisivo o acompanhamento pessoal e grupal que se dá a partir da orientação geral do Colégio e de seu ideário educativo, das matérias, atividades e valores, principalmente a partir da vida e da presença dos educadores e educadoras. Mas, um modo especialmente importante é a Educação Religiosa Escolar (ERE) e as diversas propostas especificamente pastorais que o Colégio proporciona a seus estudantes e famílias.
Bento XVI especificava ainda mais essa ideia: ?esse acompanhamento deve levar a descobrir que nossa fé não é algo do passado, mas que ela pode ser vivida hoje, e que, vivendo-a, encontramos realmente nosso bem. Assim, podemos ajudar os adolescentes e jovens a se liberarem de preconceitos generalizados e a darem-se conta que o modo cristão de viver é realizável e razoável, e mais ainda, é de muito o mais razoável?. (Carta de 29 de maio de 2009)
Isso não implica em deixar de lado a necessária atenção às questões econômicas e profissionais com boa estrutura administrativa e econômica. Mas o que nunca pode faltar numa escola católica é esse ambiente de fé partilhada, cunho mariano, esperança e caridade e, acrescentamos também, de alegria; tudo isso é tão próprio do carisma marista e muito ajuda aos alunos e a seus pais a progredirem em sua vida cristã e na responsabilidade social. Essa é a tarefa que assumem e vivem os verdadeiros educadores católicos que, por sua vez, esperam e necessitam do apoio e do compromisso das famílias.
São Marcelino Champagnat também o entendeu assim, num tempo de muitas revoluções e descrenças? como era a França, na primeira metade do século XIX, quando encontrou uma sociedade em verdadeira ?emergência educativa?. A resposta de Marcelino foi: ?FORMAR BONS CRISTÃOS E CIDADÃOS RESPONSÁVEIS?.
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Ir. Ramón Benseny / Bogotá, abril de 2010