Encontro Internacional dos Jovens Maristas
O Ir. João Carlos do Prado é Diretor do Secretariado da Missão que anima a Pastoral Juvenil Marista (PJM) no mundo. A poucos dias do início do 3º Encontro Internacional de Jovens Maristas, conversamos com ele sobre as perspectivas que o Instituto vive em relação aos jovens participantes do encontro que está por realizar-se no Rio de Janeiro.
O que motiva o Instituto a realizar um encontro internacional com representantes de jovens de todo o mundo marista?
Nosso Instituto tem uma forte identidade internacional. Estamos presentes em 79 países em todos os continentes. Se quisermos continuar crescendo em nossa identidade internacional é fundamental que as pessoas se encontrem, se conheçam, dialoguem e partilhem sobre suas culturas, sonhos, visão de mundo, de Igreja e de como viver o carisma marista hoje, junto às crianças e jovens. Nos últimos anos muitos encontros de Irmãos, leigas e leigos maristas foram organizados para favorecer esse diálogo e intercâmbio. Os jovens são parte desse processo. Eles estão no centro de nossa missão. É muito importante para o Instituto favorecer a criação de espaços como o Encontro Internacional para a escuta dos jovens e ao mesmo tempo para favorecer redes de intercâmbio e protagonismo entre eles, ao redor do mundo.
No Encontro Internacional de Jovens Maristas, realizado em Buitrago, na Espanha, em 2011, os participantes destacaram como importante a realização de intercâmbios culturais, entre Províncias e em nível regional. Diziam que esse tipo de encontro é importante “para que continuemos conscientes de que a realidade que vivemos em nossas comunidades é muito diferente daquela que se vive em outros lugares. São necessários encontros de jovens para partilhar experiências de vida e propiciar intercâmbios para promover a pastoral juvenil numa realidade diferente, porque isso favorece o crescimento pessoal e, ao mesmo tempo, é trabalho marista. Conhecer outras realidades faz nascer um compromisso para com os outros e nos dá uma visão global, na hora de trabalhar na dura tarefa de mudar o mundo.”
Como Instituto Marista queremos continuar respondendo a esses apelos da juventude. As experiências de Sidney (Austrália 2008) e Buitrago (Espanha 2011) mostraram que isso é possível e conta com o apoio e comprometimento de todos.
O carisma marista representa uma proposta concreta para os jovens de hoje?
Sim. O carisma marista representa uma proposta concreta para os jovens de hoje, à medida em que ele se somar à realização de sua grande vocação que é a felicidade. Todo ser humano é chamado à felicidade. Muitos fatores contribuem para a felicidade humana. A descoberta e a experiência de Jesus nos dão a possibilidade da felicidade plena e se revela no caminho construído dia a dia, ao longo da linda e apaixonante jornada da vida que se faz com o outro. Os jovens podem encontrar no carisma marista elementos que podem ajudá-los a viver sua vocação humana e cristã no cotidiano de sua vida. Isso independentemente de suas opções, lugar social… Ele poderá identificar-se com um grupo intercultural e internacional que partilha sonhos e desafios de vida.
Em conexão com outros os jovens podem percorrer um caminho de crescimento humano e espiritual tendo como referência o carisma marista. A identidade, a missão e a espiritualidade marista são atuais e com um grande apelo para a juventude de hoje. Se as respostas não têm sido as esperadas talvez tenha faltado ousadia e profetismo de nossa parte. Os jovens podem ajudar-nos a redescobrir a riqueza de nosso carisma e a melhor maneira de vivê-lo no mundo de hoje.
Na mensagem dos jovens reunidos em Buitrago, em 2011, aparecia claramente a vontade que têm de mudar as estruturas do mundo: estruturas civis, da Igreja e do Instituto. Foi isso que motivou a escolha do lema do encontro do Rio (Change)?
Também. O lema “Change: faça a diferença” quer ser uma resposta ao Encontro de Buitrago. Ao mesmo tempo responde ao 21º Capítulo Geral e a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que acontecerá logo mais no Rio de Janeiro. O último Capítulo Geral fala muito em novo, mudança de coração, de mente e na busca de uma consciência Internacional do Instituto Marista. A JMJ tem por tema e lema "Ide e fazei discípulos entre todas as nações" (Mt 28,19). A escolha do lema do Encontro Internacional de Jovens Maristas teve todos esses elementos presentes. No “change” toda a dimensão do novo, da mudança, da nova sociedade, Igreja, Instituto que começa com a conversão do coração e da mente e na JMJ a dimensão da missionaridade, de encontro e diálogo com o outro que permitem juntos construir a visão e maneira de construir o novo mundo.
Quais são os gestos concretos do Instituto que mostram a acolhida das aspirações dos jovens e como o Instituto os considera como protagonistas?
Há muitos gestos concretos que podemos mencionar e também desafios. Em nível internacional a própria realização dos Encontros Internacionais de Jovens a partir da realização do Festival Marista 2008, em Sidney, já é um sinal muito claro do novo entendimento das juventudes ao redor do mundo. Além desse encontro que começa a acontecer sempre às vésperas da JMJ, podemos destacar a organização e mobilização da juventude marista nos níveis locais, provinciais, regionais e internacionais. Percebem-se muitas iniciativas acontecendo. Algumas regiões do Instituto com uma experiência maior e outros fazendo os primeiros ensaios.
Podemos citar entre essas experiências a Pastoral Juvenil Marista (PJM), os grupos de escoteiros, grêmios estudantis, comissões e fóruns de juventude, grupos de projeto de vida e vocacional, grupos solidários… Há uma infinidade de experiências ao redor do mundo. O documento “Evangelizadores entre os jovens” é um catalisador dessas experiências e um incentivo a seguir avançando aonde elas vêm acontecendo e a dar passos concretos onde esse tipo de experiência está começando.
Nos últimos anos acentuou-se muito o trabalho com as juventudes em situação de vulnerabilidade. A criação da Fundação Marista Internacional de Solidariedade (FMSI) com um escritório em Genebra, na Suíça, permitiu um novo olhar marista nas perspectivas dos direitos das crianças e juventudes. O acento está na luta por políticas públicas para a juventude. Há um potencial muito grande no FMSI para o trabalho com as juventudes que podemos explorar ainda mais.
O grande desafio é de escutar mais os jovens e dar-lhes o seu espaço de direito, inclusive em nossas obras, para que ele consiga exercitar sua cidadania. Isso significa fazer e refletir com os jovens e não para os jovens.
Que resultados trazem os EIJM para a PJM nas Províncias?
O maior resultado é a dimensão de comunhão e de rede internacional das juventudes. No Encontro do Rio de Janeiro estarão participando quase 300 jovens de 40 países. São 25 Províncias e Distritos Maristas presentes. É uma grande oportunidade para se conhecerem, dialogarem, intercambiarem experiências e descobrirem as oportunidades e o potencial que têm de articulação e mobilização para iniciativas comuns ao redor do mundo. Eles perceberão que em grandes cidades ou em lugares remotos do mundo eles fazem parte de uma mesma comunidade, de uma mesma rede.
A experiência vivida no Rio de Janeiro contribuirá para a consciência da identidade internacional da PJM. Será uma oportunidade para partilhar como cada região está organizada e como a PJM está acontecendo. Com certeza isso contribuirá muito para o fortalecimento das experiências em cada uma das Províncias e Distritos.
Será preciso dar espaço para que os participantes possam partilhar sua experiência do Rio de Janeiro na sua Província ou Distrito de origem e ao mesmo tempo dar-lhes oportunidade para contribuir para a melhoria dos processos da PJM na sua realidade.
A grande acolhida que o Encontro Internacional de Jovens Maristas está recebendo de todas as Províncias e Distritos já pode antecipar o fortalecimento da mesma e a maior articulação em nível regional e internacional.
Quais são os desafios que a PJM apresenta ao Instituto Marista hoje?
Podemos falar de desafios Institucionais e pessoais.
Em nível Institucional acredito que o grande desafio para o Instituto hoje é oferecer um processo de educação na fé para os grupos da PJM e também subsídios que ajudem a compreender melhor a PJM e como trabalhar com grupos de jovens. Isso faz muita falta, de maneira especial, para aquelas Províncias e Distritos que estão implantando a PJM.
Para as Províncias e Distritos com maior experiência e tradição em PJM o desafio é oferecer alguns critérios e indicadores que possam ajudar a avaliar os projetos em andamento de maneira a responder melhor ao contexto do mundo e da Igreja de hoje. Para as Províncias o desafio é oferecer as condições necessárias para que a PJM possa avançar: pessoas, espaços físicos, recursos etc. É necessário fazer um grande investimento na formação de lideranças da PJM.
No entanto, o maior desafio está no nível pessoal. Precisamos cada vez mais de pessoas apaixonadas pela juventude e que não tenham medo de fazer processo com ela. A PJM acontece com pessoas concretas: jovens, leigos, leigas, Irmãos. Os jovens querem líderes, amigos, companheiros que não tenham medo de “perder tempo” junto a eles. Que curtam sua companhia, os escute, saiba dialogar e caminhar com eles, entrar no seu mundo. Assumir a PJM exige mais que algumas horas semanais ou quinzenais dedicadas aos jovens. É uma opção de vida que, mesmo à distância, nos faz sempre estar junto a eles.