Entrevista a respeito do documento sobre a identidade do religioso irmão
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O Ir. José María Ferre, que foi secretário do Superior Geral durante os últimos seis anos, disse que se sente muito satisfeito com o documento sobre a identidade dos irmãos, recentemente publicado pelo Vaticano.
Trata-se do documento intitulado “Identidade e missão do religioso irmão na Igreja”, publicado pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), no dia 15 de agosto.
Em entrevista ao departamento de comunicações do Instituto, o Ir. José María dá sua opinião sobre o novo documento oficial da Igreja.
A CIVCSVA acaba de publicar este documento sobre a vocação do religioso irmão. Você o leu? O que pensa dele?
Sim, fiz uma leitura rápida. E a primeira impressão é de grande satisfação. É a primeira vez que o Vaticano publica um documento oficial sobre nossa vocação de Irmãos. É uma maneira de apoiar e dar a conhecer a nossa identidade e nossa missão.
Em alguns contextos, a vocação do religioso irmão não se compreende facilmente.
É verdade. Muitas pessoas conhecem as religiosas e os religiosos sacerdotes, mas nem sempre entendem o estilo de vida dos Irmãos: homens consagrados, que mantêm sua condição leiga. E, todavia, historicamente falando, a vida religiosa nasceu assim, sendo leiga.
A quem é dirigido o documento?
É dirigido não só aos Irmãos, mas a todos que querem conhecer, apreciar e promover a vocação do religioso Irmão na Igreja, sejam leigos, sacerdotes ou bispos. O documento diz que, devido à semelhança entre a nossa vocação e a das religiosas, existem elementos aplicáveis também a elas.
Que valor ele tem?
Não é uma Encíclica e nem uma Exortação Apostólica. Como outros documentos parecidos, é uma “instrução” emanada pela Congregação para os Institutos de Vida consagrada, com a aprovação do Papa. Ou seja, é um documento oficial da Igreja. É parecido com outros, tais como “Caminhar a partir de Cristo” ou “A vida fraterna em comunidade”, publicados pela mesma Congregação. Por outro lado, é um documento que não pode ser tomado isoladamente; muitos conceitos usados são explicados e comentados em outros documentos eclesiais.
O que significa esse documento para vocês, Irmãos?
Não acredito que o documento nos faça descobrir a nossa identidade na Igreja; há muitos séculos que os Irmãos existem e vivem sua vocação. Porém, sem dúvidas, o documento oferece pautas para compreender melhor nossa identidade, para atualizá-la, para focar em pontos essenciais.
Existem muitos Irmãos na Igreja?
Somos um quinto do total de religiosos homens. Alguns pertencem a institutos de clérigos; outros a institutos mistos. Outros estão integrados em institutos leigos, também chamados Institutos Religiosos de Irmãos, como acontece conosco. Outros ainda pertencem a ordens antigas. Todos temos um denominador comum, pelo fato de sermos Irmãos, mesmo existindo diferenças referentes ao estilo de viver a própria vocação e missão.
Como esse documento enfoca a vocação do Irmão?
O documento se baseia na noção de Igreja desenvolvida pelo Concílio Vaticano II: uma igreja que basicamente é uma comunidade, uma comunhão de pessoas que acreditam em Jesus. Isto é o essencial. Surgem daí diferentes carismas, funções e serviços. O documento insiste sobre o que nos une e partilhamos com todo o Povo de Deus: o fato de sermos Irmãos.
E como desenvolve a identidade do religioso irmão?
A palavra chave é fraternidade. No povo de Deus, os religiosos irmãos são chamados a viver e proclamar a fraternidade de Jesus. Essa fraternidade é um dom que recebemos (refletir a vida de Jesus-irmão); a fraternidade é um dom que partilhamos com nossa comunidade de irmãos consagrados; e a fraternidade como dom que entregamos aos outros, principalmente aos mais necessitados.
Tem alguma novidade no documento?
Mais do que novidade, vejo que o documento está muito fundamentado biblicamente e com muitas referências a outros documentos anteriores da Igreja, sobretudo Vida Consagrada e Christifidelis laici. Parece-me interessante o desenvolvimento que faz da nossa vocação de irmãos através de ícones tanto bíblicos quanto institucionais e atuais.
Talvez seja difícil que um documento destinado a toda a Igreja chegue a detalhes concretos?
Sim, é verdade. Não é o mesmo, por exemplo, um Irmão marista na Europa que um Irmão trapista na Oceânia. Mesmo assim o documento desce a níveis concretos quando trata de temas tais como a formação, os Irmãos idosos, o profetismo. Será necessário fazer uma interpretação cultural conforme os contextos, mas o vejo muito integrador e unificador.
O documento abre perspectivas de futuro para a vocação do religioso irmão?
Por mais positivo que seja, esse documento não pretende ser a última palavra sobre a vocação do religioso irmão. O mais bonito é que, como disse, a Igreja, pela primeira vez, oferece-nos uma síntese muito atualizada e profunda da identidade do Irmão. Teremos que ler o documento, meditá-lo, partilhá-lo e nos deixar interpelar por ele.
Gostaria de acrescentar algo?
Como irmão marista, eu gosto da referência do documento sobre a figura de Maria. Embora seja apenas uma página do documento, apresenta Maria como uma inspiração em nossa vida de fraternidade.