Experiência dos animadores comunitários
Os dias recentes, passados no El Escorial, foram para nós tempo de Patrimônio Espiritual Marista. Primeiro, houve uma experiência de dois dias de estudos em grupo, animados pelo Ir. Patrício, e depois a peregrinação aos lugares maristas, em torno de l’Hermitage, com o grupo de Animadores de Comunidade de Manziana, perto de Roma.
O estudo com o Ir. Patrício tinha como objetivo a possibilidade de descobrir, ou redescobrir algumas dimensões do Carisma marista. Para isso nos servimos fundamentalmente das 70 cartas que nosso Fundador escreveu aos Irmãos, da legislação marista do período inicial, das resoluções e alguns outros escritos do tempo do Fundador.
Tinha também o objetivo de fazer-nos conhecer os lugares em que viveu Marcelino Champagnat e um método simples que nos permitisse de continuar a interiorizar e a discernir a partir das fontes do carisma.
Foi um período intenso de trabalho em torno de oito perguntas relativas a um conceito de carisma, baseado em três aspectos complementares: missão, espiritualidade e comunidade. Na síntese final projetamos um rosto de Champagnat vivo, ativo, cheio de ternura, paciência e firmeza. Um Champagnat, pai e mãe, rosto de Maria, em quem confiava plenamente, e a quem recorria continuamente. Preparamos assim nosso coração para a peregrinação que empreendemos, no dia 7, quarta-feira, rumo a Lyon.
Já a caminho, um primeiro momento importante foi a espera pelo grupo de Manziana e o encontro com esses Irmãos de língua inglesa. O encontro, a viagem e a chegada conjunta a l’Hermitage foi uma experiência interessante: podíamos ser Babel ou Cenáculo. O testemunho final dado pelo Ir. Justin, no último dia, nos tranquilizou; prevaleceu a experiência de Cenáculo, ao redor de Maria, e com a força do Espírito. O Ir. Justin lembrou o esforço que fizemos para falar e compreender a língua do outro, em todo sentido.
Pouco a pouco se configurou nossa comunidade internacional: os 30 que vinham de Manziana e de El Escorial, mais os 8 Irmãos e Colette, da comunidade de acolhida “Notre Dame de l’Hermitage”; Renée, leiga do México que coordenou um estudo, na semana anterior, o capelão marista e os dois Irmãos da Administração geral: Eugène Kabanguka e César Rojas. Muitas línguas, muitas nacionalidades, muitas maneiras de encarnar um carisma, muitos dons e limites. A maioria do grupo já conhecia l’Hermitage.
A primeira peregrinação foi pelo interior da casa e de suas dependências, orientada pela comunidade local. Nessa etapa fomos convidados a encontrar o tesouro de nossas raízes nesta casa, tesouro que partilhamos, em seguida, na Eucaristia, na mesa e na recreação.
Marlhes e Rosey marcaram a segunda etapa de nosso itinerário. A caminhada da paróquia até Rosey, com uma paisagem nevada, fez com que descobríssemos o caminho que Marcelino e sua família fizeram tantas vezes e com climas variados. Ele vivera ali 16 anos de sua vida: aí forjara sua personalidade. Depois da Eucaristia e da refeição, um vídeo sobre sua família ajudou-nos a compreender esse processo de sua vida. O grupo de Manziana, que animava essa etapa, convidou-nos a partilhar nossas próprias raízes familiares. O retorno foi feito por Saint Sauveur-en-Rue, onde Marcelino vivera sua preparação para ingressar no seminário; ainda por Bourg-Argental, para onde veio Marcelino com o Ir. Estanislau para visitar o jovem Ir. João Batista, enfermo. Dali, subimos para a Maison Donnet, agora desmoronada, mas que, naquela noite de nevasca, fora luminosa e acolhedora. Ali cantamos o “Lembrai-vos”. Terminamos essa experiência visitando o lugar do encontro com o jovem Montagne: Les Palais de Bessat. Aí recordamos os ‘Montagnes’ de hoje.
O dia seguinte foi marcado pelo estudo em casa. Ajudados pelo Ir. Alain Delorme fomos descobrindo a realidade da vida de alguns dos primeiros Irmãos. Percebemos o carisma em construção, com pedras vivas, numa empresa coletiva, liderada por nosso Fundador, mas provocada pelo Espírito de Deus e sustentada pela mão de Maria. Além da exposição do Ir. Alain, um trabalho por línguas sobre feitos de Champagnat, segundo o testemunho do Irmão Lourenço, enriqueceu nossa compreensão e interiorização.
Continuamos com a subida para Maisonnettes e La Valla. Na casa de Francisco também refletimos em grupos e depois caminhamos até La Valla, refazendo um caminho que muitas vezes percorreram Marcelino e os primeiros Irmãos, para dar a conhecer Jesus Cristo e torná-lo mais amado entre os habitantes dispersos no campo. Em La Valla tivemos um encontro caloroso com o lugar fundacional e com a comunidade local de Irmãos. Tivemos uma celebração em torno da mesma mesa, feita por Marcelino e os primeiros Irmãos. Depois almoçamos e caminhamos até a Pietà. Invocamos com fervor a Maria pelas vocações maristas de hoje, Irmãos e Leigos. Lembramos com carinho os jovens que estão em nossas casas de formação ou em processo de discernimento. Baixamos, depois, para a ‘Croix Rousse’, contemplando nossas missões atuais e rezando por elas.
Na segunda-feira fomos convidados a olhar a encarnação de nosso carisma com outra perspectiva: fizemos uma viagem a Genebra, Suíça, para conhecer nova atuação da missão marista, a FMSI e seu escritório, perto da ONU, para estar presente, em nível mundial, na tarefa da promoção e da proteção dos direitos da criança e do adolescente. A comunidade local nos acolheu; comemos com eles, explicaram suas atividades e fomos visitar a ONU. Descobrimos um mundo complexo de foros internacionais, cuidando da promoção e defesa dos direitos humanos, além de outros temas de desenvolvimento e progresso. Fomos acompanhados por Mercedes que nos fez observar as duas faces da moeda. Saindo, vimos rapidamente o escritório da FMSI, partilhado com outras fundações. Percorremos uma parte do centro histórico da cidade e vimos seu lago.
No dia seguinte, o Ir. André Lanfrey introduziu-nos no amplo mundo da Sociedade de Maria. Fez-nos compreender a lenta caminhada de nossa Congregação – dentro da Sociedade de Maria – para amadurecer, seja a intuição fundacional, seja a resposta concreta que deveria dar em sua época. Assim iluminou um pouco nosso horizonte de hoje, na caminhada de renovação do Carisma do Instituto. De tarde peregrinamos até La Neylière, casa-mãe, em seu tempo, dos Padres maristas e lugar em que o P. Colin compôs a Regra e passou os últimos anos de vida. Conhecemos o museu dos Padres e o da Oceania. Celebramos a Eucaristia junto ao túmulo do Padre Colin. Regressando, passamos por Valfleury, lugar de peregrinação do Ir. Francisco e de Marcelino…
A coroação de nossa peregrinação foi Fourvière, santuário mariano da Igreja de Lyon e da França, lugar da promessa da Sociedade de Maria. Celebramos ali a Eucaristia e conhecemos lugares de interesse marista, como a catedral onde Marcelino foi ordenado, e o palácio episcopal que ele visitava com certa frequência. Tomamos conhecimento da “Providência de Saint Nizier”, onde Marcelino e os primeiros Irmãos assumiram um centro para órfãos.
Concluímos a experiência com um retiro pela manhã, oração mariana ao redor do túmulo de nossos primeiros Irmãos, e uma partilha de grande grupo para avaliar o que vivemos nesses dias e projetar essa vivência aos lugares de nossa vida e missão. Cada um teve oportunidade de expressar o que lhe ia pelo coração. A celebração litúrgica ajudou-nos a agradecer. Foi-nos dada a bênção final, junto ao relicário de nossos predecessores.
Tudo isso foi o exterior. Cada um viveu também uma peregrinação interior…, processos, laços tecidos como uma rede do Espírito que apanha toda espécie de peixes, e como o caminhar de Maria que nos convoca a ir depressa.