Fazendo as malas
Há 18 anos os Irmãos Maristas chegaram a Bucareste, Romênia. O Centro S. Marcelino Champagnat é o espaço que criaram para resgatar a dignidade e a esperança de muitas crianças e jovens sem família nem lar. Atualmente são 32 acolhidos no Centro. O relato que segue expressa os sentimentos de Stefania, jovem romena com 18 anos recém-completados, com um passado cheio de experiências de rejeição e abandono, que agora, chegada à maioridade, deixa o Centro.
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Passaram-se mais de 8 anos desde julho de 2006. Desde então até agora, o Centro foi minha casa. A partir de amanhã minha casa será outra. Ou dizendo melhor, minha casa continuará sendo o Centro S. Marcelino Champagnat, mas começarei uma nova vida em outro lugar. Sei que conto com o apoio de meus educadores, que Juan Carlos me disse muitas vezes que não vão me abandonar, inclusive insistem para que eu passe pelo Centro uma vez por semana. Tudo isso é certo, porém agora, fazendo as malas, sinto em mim uma contradição.
De um lado quero continuar a crescer, sei que é a minha melhor opção agora e para o futuro, porém de outro lado sinto um medo que você não é capaz de imaginar. Estes últimos dias tenho dito a Juan Carlos que estou sentindo um medo que “me faz doer o estômago, há dias que não tenho comido”. Ontem, quando me falaram que me esperavam no domingo na nova casa, me senti melhor, contudo temi que não me aceitassem ou me dissessem que meu lugar estava ocupado. Quando me disseram que me esperavam no domingo, outro temor surgiu: “E se eu não me adaptar, se minhas novas companheiras não me aceitarem, se eu não gostar do lugar para onde vou?…” Tenho medo de deixar minhas amigas e amigos do Centro, deixar meus educadores, deixar os Irmãos. Todos eles têm sido minha família nestes oito anos que vivi no Centro.
Sei que o Centro me abrirá sempre as portas cada vez que eu vier e os educadores sempre me acolherão. Isso eu vi com os jovens que deixaram o centro e agora vivem em suas casas, com seu trabalho, sua família… Sempre puderam vir quando quiseram, sempre foram acolhidos, sempre se dialogou com eles. Espero manter minhas boas relações e, de verdade, confio que continuem a me ajudar: preciso deles.
Meu objetivo este ano é terminar os estudos do ensino médio e obter o certificado de educação básica para poder entrar na Universidade. A partir de agora terei de comprar minha comida, lavar minha roupa, cuidar de mim mesma. Sei que é um aprendizado necessário que devo fazer. Como repetem sempre, agora devo começar a viver por mim mesma. Conto com o apoio e a ajuda dos educadores e dos Irmãos: todos me dizem que é uma oportunidade. Também me dizem, porque me conhecem, que tudo o que é novo custa e assusta.
Desejo ser feliz e me sentir bem. Agradeço a todos vocês que, nestes 8 longos anos, me ajudaram, a todas as pessoas maravilhosas que passaram pelo Centro durante esse tempo, sobretudo os voluntários que vinham de fora da Romênia. Nos verões me sentia bem com eles e asseguro que os levarei em minhas recordações e no meu coração.
Muito obrigado e sucesso a todos.
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Stefania (Fanuta)