Henri Vergès e a mística
A residência de Henri Vergès em Sour-El-Ghozlane permitiu-nos de aprofundar nosso conhecimento sobre a mística em geral, sobre sua presença em Argel, com a direção da escola ‘Saint Bonaventure’. Sua vida profissional não lhe permitira o tempo livre necessário para aprofundar o conhecimento sobre o Islã, em toda sua dimensão. Seus contatos restringiam-se quase exclusivamente à comunidade católica de Argel.
Ao chegar em Sour-El-Ghozlane, Vergès dispunha de tempo livre. Esse tempo permitiu que nos enriquecêssemos, mutuamente, no plano espiritual. Isso permitiu-lhe descobrir o Islã em suas dimensões morais, humanas e, sobretudo, espirituais. Ele fez com que eu descobrisse a história da Igreja escrita por Daniel Rops e vários escritos de santos cristãos que meditávamos juntos, especialmente Santo Agostinho e, em particular, seu livro “As Confissões”. Ele sempre me pedia que lhe falasse e lhe fizesse a síntese de minhas leituras.
De minha parte, falava-lhe da caminhada espiritual, digamos, do « aspirante », em árabe “el mourid”: o muçulmano versado no caminho da mística. Ele não escondia sua admiração ao constatar a grande semelhança que havia entre o islã e o cristianismo.
Um dia, descrevi-lhe as disposições do aspirante em sua caminhada espiritual e a santidade no Islã. “El mourid”, o aspirante, é aquele que não deseja nada a não ser seu Senhor e Mestre.
É possível distinguir três categorias. A primeira, a pessoa que se dispõe voluntariamente a receber as bênçãos e a proteção divina, mas cuja aspiração é fraca ou tolera muitos apegos mundanos. A segunda categoria é a da pessoa que nutre a vontade de chegar à presença divina, o que caracteriza as pessoas desapegadas e firmemente determinadas. A terceira é constituída daqueles que têm vontade de atingir o coroamento ou a gnose perfeita, dos que têm manifestamente o dom da inteligência, e cujo mérito atingiu a perfeição, seu êxito tendo sido proclamado por um “schaykh”, grande mestre espiritual, ou por uma via interior verídica, “hatif”.
Vergès seguia com muita atenção minha explicação. Acontecia-me, com frequência, de não encontrar as palavras exatas em francês, precisando dar a explicação exata com a terminologia árabe do sufismo.
Era no mosteiro dos Trapistas, em ‘Médéa’, e com os monges desse mosteiro que discutíamos esses temas. Em meu interior, eu procurava conhecer o grau de espiritualidade desses monges, depois de muitos anos de oração, de austeridade e meditação. Essa foi uma das razões que nos levou a pensar na criação do jornal “O Elo”, “RIBAT” em árabe.
Concluo este testemunho pedindo a Deus e a seus santos em favor da paz entre todos os povos.
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Sour-el-Ghozlane, 5 de setembro de 2007.