VIII Capítulo – 1883, Saint-Genis-Laval
04/1883 – 45 Irmãos participantes
Contexto social e político
“A tormenta já se instalara na França; havia começado a substituir os religiosos nas escolas oficiais. O governo não os podia substituir a todos de uma só vez; por isso, foi por etapas, e em dez anos isso estaria concluído.”
Hoje é-nos difícil ter uma ideia da quantidade de negociações que foi preciso fazer, quer junto dos responsáveis pelas escolas livres, quer junto dos inspetores que implicavam com os professores das últimas escolas livres, ainda sob a direção dos Irmãos; por causa dos textos escolares, de uma oração ou de uma lição de catecismo ou outra coisa qualquer, junto das autoridades municipais que podiam avançar ou retardar a partida dos Irmãos. Tudo isto num clima de luta, de nervosismo e de inquietação.
Graças ao apoio da população, aborrecida com a política escolar que lhe era imposta, graças à implicação do episcopado e do clero que animavam as escolas privadas, o número dos alunos acabou por se manter como no passado. Chegou-se mesmo a fundar novas escolas, visto que as intenções dos programas oficiais pretendiam banir o nome de Deus, tirar os crucifixos e proibir a aula de catecismo.
O governo do Irmão Teofânio prosseguiu no meio de constantes preocupações, durante os primeiros dez anos. Veio depois uma trégua de sete a oito anos. Nesse tempo era preciso viver no cumprimento dessas leis, aprovadas uma depois da outra, e cujo único fim era a laicização.
Em 1886 foi decretada a lei da laicização de todas as escolas do estado: os religiosos tiveram que abandoná-las. De acordo com a lei, ficavam isentos do serviço militar apenas os professores das escolas públicas.
Em 1888, o governo deixou de aceitar o compromisso de isentar do serviço militar os religiosos que se dedicassem por 10 anos ao magistério. Todas as diligências que para isso se fizeram em Paris, deram em nada, e os Irmãos tiveram que apresentar-se para o serviço militar, em novembro desse ano. Os religiosos deviam fazer três anos de serviço, enquanto os professores civis faziam apenas um ano, já que, uma vez terminado o primeiro, podiam pedir a isenção.
Os Superiores seguiram de perto este primeiro grupo de jovens irmãos e também os dos anos seguintes; testemunharam-lhes solicitude e interesse por causa dos perigos morais em que podiam encontrar-se e para ajudá-los em suas necessidades materiais.
As Circulares fazem eco das recomendações dos Superiores aos irmãos soldados, bem como das cartas deles aos Superiores, em que os Irmãos contam as suas dificuldades, suas preocupações, suas vitórias, seu apostolado, etc. Alguns Irmãos aproveitavam os dias de folga, indo para uma comunidade, quer do Instituto, quer de outra congregação religiosa.
Em 1891, antes de darem entrada no quartel, os 80 irmãos de Saint-Genis, l’Hermitage e Varennes juntaram-se para um retiro de três dias. Em 1892, voltaram os primeiros Irmãos que tinham feito três anos de serviço militar; também fizeram um retiro a fim de se retemperarem no espírito da vida religiosa.1
Contexto religioso
Durante o pontificado de Pio IX, propagam-se na Igreja três grandes devoções, promovidas pelo próprio Papa: a devoção ao Santíssimo Sacramento (adoração noturna, adoração perpétua e a
adoração reparadora), sobretudo para se contrapor ao jansenismo; a devoção ao Sagrado Coração de Jesus (foi ele a introduzir a sua festa no calendário litúrgico); e a devoção a Nossa Senhora (proclamou o dogma da Imaculada Conceição). Pio IX foi também o papa da Ação Católica.
Convocação do Capítulo e incidentes
O Reverendo Irmão Nestor, pela sua Circular de 26 de dezembro de 1882,2 convocou um Capítulo geral, para a reeleição dos Irmãos Assistentes chegados ao término do seu mandato, conforme as Constituições aprovadas pela Santa Sé.
O Reverendo Irmão Nestor morria no dia 9 de abril, em Saint-Genis-Laval, três meses depois de ter enviado a Circular de convocação do Capítulo. Não lhe passou pela ideia que estava a convocar aqueles que se veriam na obrigação de lhe dar um sucessor. O homem propõe e Deus dispõe. 3
O Ir. Teofânio, Vigário, fixou a abertura desse Capítulo para ao dia 22 de abril de 1883; terminou no dia 30 do mesmo mês. O Irmão Teofânio foi logo eleito no primeiro escrutínio. Foi a 25 de abril de 1883. “Os votos do Capítulo caíram sobre o Ir. Teofânio, primeiro Assistente, e, a este título, associado desde 23 anos à administração do Instituto. As suas eminentes virtudes e a sua longa experiência, a direção sábia e esclarecida que constantemente dera aos Irmãos, atraíram-lhe os nossos sufrágios. Assim, a sua eleição foi acolhida com uma viva satisfação tanto na Casa-mãe como por cada um de nós”. 4
As eleições do dia 26 de abril de 1883 deram-nos como Assistentes: Ir. Philogone, Ir. Euthyme, Ir. Procope, Ir. Norbert, Ir. Gérald, Ir. Bérillus, Ir. Adon, Ir. Stratonique. “Como vêem, estes Irmãos são muito bem conhecidos: os seis primeiros já estavam em funções, e os dois novos dirigiam casas importantes, o Ir. Adon, a nossa Casa Provincial de Saint-Paul-Trois-Châteaux, e o Ir. Stratonique, o Internato de Valbenoîte-Saint-Etienne. Entre os Assistentes, os seis reeleitos mantiveram-se nas mesmas funções. O novo Superior geral confiou a Província de Saint-Genis ao Ir. Adon, e a de lHermitage ao Ir. Stratonique, seu sucessor”.5
Na sequência, o Capítulo ocupou-se de diversos pontos do interesse da Congregação. O Capítulo ficou muito sensibilizado com a diminuição considerável dos compromissos financeiros do Instituto, durante estes três últimos anos, e considerou que era um dever atribuir o principal mérito disso à solicitude do querido Ir. Nestor e ao bom espírito dos Irmãos Diretores. A direção das casas provinciais foi considerada incompatível com o trabalho do Irmão Vigário provincial. Cada casa provincial será dirigida por um Ir. Diretor especial, de acordo com as Regras e as Constituições.
O Capítulo votou, por unanimidade, a consagração do Instituto ao Sagrado Coração de Jesus. Esta consagração foi feita na Casa-mãe, na tarde de 29 de abril de 1883, pelo Capítulo geral, durante a bênção do Santíssimo Sacramento.
O Capítulo também admitiu a comunhão da primeira sexta-feira do mês, dia especialmente consagrado ao Coração de Jesus, como comunhão de devoção.
A importante questão do ensino religioso e moral, nas escolas públicas,6 atraiu a atenção do Capítulo, que recomendou insistentemente a todos os Irmãos, professores nessas escolas, de se aterem às instruções dadas a este propósito, nas Circulares de 8 de junho e de 26 de dezembro 1882, observando as regras de prudência, para não se oporem à lei. Um grande número de escolas maristas eram então escolas oficiais. O Capítulo achou por bem renovar a decisão tomada em 1876, de impedir que os Irmãos se façam tratar de “senhor” por seus alunos. 7
1 Ir. Luis di Giusto ‘Historia del Instituto de los Hermanos Maristas’, Provincia Marista Cruz del Sur, Argentina, 2004, p. 113-114.
2 Circulaires, T.7, p. 71-75
3 Fr. AVIT, Annales, caderno 7, p. 784.
4 O voto dos Irmãos capitulares tinha sido praticamente unânime. O Ir. Teofânio tinha tido 39 votos entre 45 votantes. Os Irmãos Assistentes também tinham sido eleitos por uma maioria não menos imponente.
Cf. Nos Supérieurs, Economato Geral dos Irmãos Maristas, Saint-Genis-Laval, 1954, p. 244.
5 Ir. AVIT, Annales, caderno 7, p. 784-785.
6 Que nossos Irmãos dirigiam, então, em muitas povoações da França.
7 Circulaires, T. 7, p. 136-138.