Fundação do Instituto dos Irmãozinhos de Maria

Marcelino, quando vê crianças e jovens sem instrução nem catecismo, exclama: “Necessitamos irmãos”. E a 2 de janeiro de 1817 inicia com dois jovens o projeto do Instituto dos Irmãozinhos de Maria.

Por que fundou o Instituto

Elevado à dignidade sacerdotal em 1816, fui enviado a um município do cantão de Saint-Chamond (Loire). O que constatei com meus próprios olhos nessa nova situação, com relação à educação dos jovens, me lembrou as dificuldades que, por falta professores, eu mesmo experimentara na idade deles. (Champagnat, a Sua Majestade a Rainha Marie- Amélie, Carta 59)

Uma boa educação é o meio mais seguro de obter bons elementos para a sociedade. Infelizmente, a maioria dos municípios rurais não tem essa vantagem: a insuficiência dos recursos municipais, a penúria dos habitantes não lhes permitem confiar a educação de seus filhos aos Irmãos das Escolas Cristãs, cujo mérito e capacidade são conhecidos de todo o mundo; daí a triste necessidade, ou de deixar que suas crianças estagnem numa ignorância funesta, ou (o que talvez seja mais pernicioso ainda) entregá-las a professores pouco capazes de formá-las na ciência e nas virtudes necessárias a bons cidadãos.

Para obviar esses inconvenientes, o senhor Champagnat, abaixo assinado, padre da diocese de Lião, vendo o zelo que o Rei e seu governo empregam em proporcionar a todas as classes da sociedade o grande benefício da instrução, propôs-se formar, perto da cidade de St. Chamond, uma associação de professores para o primário, sob o nome de IRMÃOZINHOS DE MARIA, e redigiu os estatutos seguintes, com o fim de obter uma autorização que possibilitará aos membros dessa sociedade o meio de exercer sua importante e penosa função de maneira legal e por isso mais vantajosa. (Champagnat, a Sua Majestade, Louis-Philippe, Rei da França, Carta 34)

Por que Irmãos?

Nascido no cantão de Saint Genest Malifaux (Loire), tive dificuldades enormes para aprender a ler e a escrever. Por isso, senti a urgente necessidade de fundar uma Sociedade que pudesse com poucos gastos proporcionar às zonas rurais o ensino que os Irmãos das Escolas Cristãs ministram nas cidades. (Champagnat, ao Senhor Antoine Nicolas Narcise Achille de Salvandy, Ministro da Instrução Pública, Carta 159)

A Sociedade de Maria

Nesse tempo (1812-1815) foram lançados os primeiros alicerces da Sociedade de Maria. Alguns seminaristas, à frente dos quais se achavam Colin e Champagnat, se reuniam freqüentemente para animar-se na piedade e no exercício das virtudes sacerdotais. O zelo pela salvação das almas e a procura dos meios para consegui-la eram o assunto mais comum de seus encontros. Da comunicação recíproca dos sentimentos e dos projetos, surgiu a idéia da fundação de uma sociedade de padres…

A devoção especial desse grupo de elite para com a Santíssima Virgem levou-os a colocar a nova Sociedade sob o patrocínio da Mãe de Deus, denominado-a Sociedade de Maria… Além disso, ele mesmo quis participar do grupo, pôs-se à frente e, de tempos em tempos, reunia-os para dirigi-los e animá-los e com eles traçar os planos da nova associação. Numa dessas sessões combinaram fazer juntos uma peregrinação a Fourvières, a fim de colocar aos pés de Maria o plano da nova associação…

Entretanto, no plano da nova agremiação, ninguém cogitara de Irmãos para o ensino. Somente Champagnat acalentou o projeto dessa instituição e o realizou sozinho. Freqüentemente repetia aos companheiros: “Precisamos de Irmãos, precisamos de Irmãos que ensinem o catecismo, ajudem os missionários e eduquem as crianças”. (Vida, Edição do Bicentenário, pp. 27-28)

A experiência “Montagne”

Chamado a confessar um jovem doente num povoado, (P. Champagnat) pôs-se imediatamente a caminho, conforme seu costume. Antes de ouvi-lo em confissão, fez-lhe uma série de perguntas para saber se tinha as disposições necessárias para receber os sacramentos; estremeceu ao verificar que ele ignorava os principais mistérios, não sabendo nem mesmo se Deus existia. Aflito por encontrar um rapaz de doze anos mergulhado em tão profunda ignorância, e temendo vê-lo morrer nessa situação, sentou-se ao lado do doente e começou a ensinar-lhe os principais mistérios e as verdades essenciais da salvação. Assim, levou duas horas para instruí-lo e confessá-lo. Não foi sem grandes dificuldades que conseguiu ensinar-lhe as coisas mais indispensáveis, pois o jovem se encontrava tão doente que mal entendia o que ele falava. Depois de o ter confessado e feito repetir, várias vezes, atos de amor a Deus e de contrição, a fim de dispô-lo a bem morrer, deixou-o para atender a outro doente, na casa vizinha.

Ao voltar, perguntou como estava o rapaz: “Morreu instantes após sua saída”, responderam os pais em lágrimas. Então ficou muito alegre, por ter chegado a tempo, mas também temeroso, em razão do perigo em que estivera o jovem…

Voltou todo compenetrado desses sentimentos, cismando: “Quantos outros meninos se encontram, todos os dias, na mesma situação, correndo o mesmo risco, por não haver ninguém que os instrua nas verdades da fé”. E então, o pensamento de fundar uma sociedade de Irmãos, destinados a prevenir tão sérias desgraças, ministrando às crianças a instrução cristã, perseguiu-o com tamanha insistência, que foi ter com João Maria Granjon e lhe comunicou todos os seus planos. (Vida, Edição do Centenário, pp. 56-57)

Formou os jovens Irmãos em La Valla

O Padre Champagnat… desejava ardentemente que chegasse a hora de seus Irmãos poderem assumir uma escola. Entretanto, julgando-os ainda bastante despreparados, resolveu chamar um mestre de primeiras letras que, na sua opinião, era necessário para dupla finalidade: dar às crianças da paróquia a intrução primária, aperfeiçoar os Irmãos nos conhecimentos já adquiridos e iniciá-los nos métodos de ensino…

O professor viveu em comunidade com os Irmãos; na residência deles abriu a escola que logo se lotou de crianças. Os Irmãos ajudavam na instrução dos alunos. Observavam como ele fazia, imitavam-no e aprendiam seu método. No intervalo das aulas recebiam orientações particulares sobre as diversos seções do ensino. (Vida, Edição do Bicentenário, pp. 68-69)