Irmãos e leigos maristas
Esse artigo apareceu no Boletim "Mensagem de Vida" do MChFM (Ano VII – n° 24 – 2014), da Umbrasil.
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O apelo fundamental do último Capítulo Geral contempla a urgência de “uma nova relação entre Irmãos, Leigas e Leigos, fundamentada na comunhão e buscando juntos maior vitalidade para o carisma, no mundo de hoje”. Faz parte do sonho que Deus tem para os maristas, Irmãos e Leigos, e para nosso Instituto. Intentamos oferecer uma simples aproximação da nossa realidade marista com esse segundo apelo.
Se o Capítulo Geral chama todos os maristas a uma “nova relação”, significa que precisamos mudar algo na “antiga relação”. Certamente, não tudo, pois há coisas boas; algumas, no entanto, devem mudar. Como em todo processo de mudança, no coração das pessoas, nascem temores e obstáculos; e também, esperanças e ilusões. Esse chamado desafiador nos impulsiona a gerar, corresponsável, fiel e criativamente, novo modelo institucional que nos ajude a encontrar nosso lugar, acolha nossa vocação comum e nossas vocações específicas.
Na diversidade de sensibilidades e de realizações, nas Regiões e Unidades Administrativas, há ecos que se vão tornando comuns, assinalando que estamos no caminho: nossa relação está baseada na comunhão; a comunhão nasce do mesmo seguimento a Jesus; leigos, leigas e Irmãos partilhamos o mesmo carisma; juntos devemos favorecer nova época para esse carisma; nossas vocações se complementam e enriquecem; termos mais elementos em comum do que específicos …
O processo de comunhão, que se vive no Instituto, foi cristalizando-se em distintas formas de expressar essa relação e num mútuo enriquecimento entre Irmãos, Leigas e Leigos maristas. Algumas Províncias promoveram comunidades mistas ou ampliadas, em que, com igualdade de condições, Irmãos, Leigas e Leigos tecem o caminho espiritual da experiência, o estilo comunitário, a partilha de bens, os horários, a animação comunitária, a autonomia e o desenvolvimento da própria identidade. Acentua-se a comunicação a partir da abertura sincera, o diálogo e a escuta. Vive-se o desafio de aceitar o pluralismo e de construir a convivência.
Foram implantados os assim chamados Grupos de vida marista, Grupos maristas de encontro, Grupos de espiritualidade marista. Eles surgiram nos últimos anos e aparecem em umas cinco Províncias da Instituto. Os sinais de identidade desses grupos manifestam-se no âmbito da vida fraterna, da espiritualidade e da missão. Participam deles Leigos e Irmãos. O grupo é reconhecido como espaço privilegiado de crescimento humano, cristão e marista. Cada grupo se organiza com ritmos e estilos próprios.
Nesse caminho de comunhão multiplicam-se os retiros de Irmãos e Leigos. Da partilha desse caminho espiritual marista resulta uma experiência de comunhão que se enraíza no Evangelho, no seguimento do Senhor e na vitalidade do carisma. O bonito é que a animação desses retiros é compartilhada tanto por Irmãos como por Leigos. Igualmente as experiências de formação conjunta ajudam a crescer em comunhão. Realizando-a, conjuntamente, deseja-se expressar que, Leigos e Irmãos, sentimo-nos reciprocamente necessitados de recriar nossa identidade marista comum e nossas identidades específicas.
A dimensão leiga vem assinalada, atualmente, em variadas experiências, como a já conhecida das Fraternidades do Movimento Champagnat, os Missionários Maristas, da Ciudad Juárez, as Comunidades leigas, de Santa María de los Andes, os Grupos missionários, da Austrália ou a Associação marista de leigos, do Canadá.
Avanços
O caminho da nova relação fala-nos de conversão e de mudança, de deslocamento e itinerância. Sentimos que há consciência disso, no Instituto, mesmo se o ritmo, às vezes, é lento. Essa consciência manifestou-se na implicância progressiva de leigos na animação de processos, como o caso do Secretariado Ampliado dos Leigos e os codiretores em nível de Instituto, as Comissões provinciais, continentais e internacionais.
Destaca-se o ingente esforço para a atualização do Movimento Champagnat; processo promovido pelos próprios leigos para revitalizar e recriar o Movimento. O encontro promovido em Roma, pelo Ir. Emili, sobre a Vinculação e Pertença teve um tom de profundidade para os processos laicais. E foi nomeada uma comissão, sob a responsabilidade do Secretariado dos Leigos, para dar impulso às sugestões surgidas no encontro.
Foi percebida natural a proposta de um Curso de capacitação para a animação leiga, a ter lugar em Roma, em 2015. Resulta uma experiência aberta à internacionalidade laical, como ocasião para reconhecer-se, criar linguagens comuns e promover processos de vitalidade. Nessa mesma linha, pensa-se, para 2016, num encontro de todas as Comissões continentais que possam trazer contribuições para a reflexão do XXII Capítulo Geral. Talvez, seria o primeiro passo para um futuro Capítulo ou Assembleia de leigos.
Em algumas Províncias, reflete-se sobre possibilidades de associação de Irmãos e Leigos para expressar a corresponsabilidade na animação das obras educativas e a comunhão na vivência do carisma. A Província da Austrália está caminhando para constituir uma Associação pública de fiéis, com a participação de Irmãos e Leigos. Em todas essas formas de associação introduz-se a vinculação e a pertença laical.
Perspectivas
O processo que vivemos no Instituto está reafirmando o que expressou o XXI Capítulo Geral: “Contemplamos nosso futuro marista como uma comunhão de pessoas no carisma de Champagnat, onde nossas vocações específicas vão enriquecer-se mutuamente”. A fidelidade criativa, necessária para manter e continuar o carisma marista na Igreja, já não dependerá apenas do Instituto que até agora o representava, mas também dos leigos e leigas maristas.
Num olhar de futuro, parece normal pensar na integração dos leigos e leigas, nos órgãos de governo: especialmente no que tange à missão, mas também no que se refere à vida, ao carisma, à instituição … Sabemos muito bem que partilhar o carisma vai além de gerir tarefas ou repartir funções…Trata-se de compartilhar uma herança espiritual, de fazer-nos dela corresponsáveis e participar da consciência comum de servir à utopia do Evangelho. Nesse futuro de comunhão ser-nos-á fácil falar de pastoral vocacional conjunta, de comunidades leigas, de itinerários de discernimento vocacional e de formação para leigos e leigas, de leigos formadores para ajudar os companheiros leigos e os próprios Irmãos, de disponibilidade missionária de leigos e leigas nas Províncias ou no Instituto, de centros internacionais de formação compartilhados.
Isso nos dizia o Ir. Emili: “O horizonte da celebração dos 200 anos do Instituto nos estimula a abraçar nossa vocação itinerante, nas pegadas de Maria”. O futuro de comunhão implica em mudança de mentalidade, muito discernimento, grande disponibilidade, renúncia a seguranças, assumir riscos e profunda confiança em Deus, a exemplo de Maria. Partilhamos nossa vocação itinerante com leigos, leigas e Irmãos. Para estes, as novas respostas não podem proceder apenas dos leigos, mas será difícil consegui-las sem eles. Para Antonio Botana, a nova relação com os leigos pode conduzir a uma verdadeira refundação e à origem de nova forma de vida carismática.
O carisma marista é um carisma de futuro eclesial porque um de seus traços distintivos é a fraternidade, agora vivida pelos Leigos, Leigas e Irmãos. Nossa comum vocação marista nos convida a caminhar juntos, numa Igreja de comunhão, integradora de todos, esperançosa e desafiante, de rosto mariano, acolhedora e misericordiosa, firmemente enraizada na experiência das primeiras comunidades cristãs e dos primeiros Irmãos maristas.
Para terminar, lembremos o que diziam os leigos da Venezuela, num de seus encontros: “Os Leigos e Leigas maristas de Champagnat se comprometem com os Irmãos no desafio de suscitar o nascimento da aurora de uma nova vida marista e de fortalecer a existente, tornando-a mais criativa, fiel, dinâmica e profética”. A nova aurora, segundo o espírito do Papa Francisco, nos indicaria uma vida marista mais bem do avental, que se faz servidora do mundo, se prostra no chão, como fez Jesus, para lavar os pés do povo.
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Ir. Javier Espinosa e Raúl Amaya