Carta de Marcelino – 180

Marcellin Champagnat

1838-03-16

É carta de pesâmes, escrita de Paris, à viúva do mano.
Jean Barthélemy Champagnat era o segundo filho do casal Champagnat-Chirat, nascido em 1777, portanto 12 anos mais velho do que Marcelino. Casou-se em 11 de outubro de 1811 com Marie Clermondon. O casal teve seis filhos, sendo que os dois últimos se tornaram irmãos Maristas.
Na carta, o Padre fala: De 13 ou 14 que éramos, sobro eu por último. Não eram somente dez na família? E mesmo sendo dez, alguns morreram ainda pequeninos. Entende-se que a referência ao número de treze ou quatorze quer englobar outros parentes próximos, muito chegados, que viviam na casa.

Paris, 16 de março de 1838, Missões Estrangeiras, Rue du Bac, 120.
Querida cunhada,
Com muito pesar, não pude estar junto ao meu pranteado irmão, durante sua doença. Não pensava que fosse mortal. Tinham-me dito que estava indo melhor. Faz apenas alguns dias que em Paris me deram a notícia. Ofereci e também pedi a outros Padres que oferecessem o Santo Sacrifício por ele.
Não duvidei sequer um instante de que Deus lhe tenha feito misericórdia e tenha recebido sua alma na verdadeira paz.
Como é curta esta vida! Como é pouca coisa e de quantas tribulações anda cercada! Faz apenas alguns dias que estávamos todos reunidos na mesma casa onde você mora e na qual continuará ainda a morar por alguns dias, se Deus quiser. De treze ou quatorze que éramos, somente eu é que sobro. Meu Deus, como é infeliz o homem que não vive segundo vossa lei! Como é cego aquele que se apega a um bem que larga para nunca mais ver! Sigamos o que nos diz São Paulo: Usemos o que Deus nos deu, segundo a vontade do mesmo Deus sem nos apegar.? Coitados dos ricos!… O que é que eles têm a mais que nós? Mais tristeza ao deixar esta vida.
Minha querida cunhada, aquele que você chora e que choro também eu, se não lhe deixou muitos bens, deixou a você e a seus filhos o exemplo de uma vida muito cristã. É por isso que gosto de me lembrar que ele era meu irmão.
Não subo nenhuma vez ao altar sem me lembrar dele. Será que vamos ter que esperar muito para segui-lo no túmulo? O momento já está marcado, você não sabe qual é, nem eu tampouco, e pouco importa que saibamos. Preparemo-lo por uma vida toda para Deus e conforme Deus quer. Que nossas enfermidades, nossos sofrimentos sejam para nós outras tantas ocasiões de nos tornarmos mais agradáveis a Deus!
É com razão que podemos dizer que nossa felicidade está em nossas mãos, pois que, considerando bem as coisas, não existe nada que não contribua para nos granjear esta felicidade: os bens, a saúde, a pobreza, as doenças, os pesares.
Irei fazer-lhe uma visita, assim que voltar de Paris. Por ora, diga a toda a família que continuo muito unido a vocês.
Diga a Margot que ficarei feliz de conhecê-lo e que folgo de saber que ele será seu arrimo na velhice; aos dois sobrinhos, que os receberei em lHermitage quando quiserem.
A todos vocês, desejo que tenham, já não digo muitas riquezas, mas uma boa consciência, um amor acendrado para com Deus. Que Jesus e Maria sejam o único bem de vocês. Rezem por mim e para o bom resultado de minhas andanças.
Faz mais de dois meses que estou em Paris, quando pensava não demorar mais do que um mês. Minhas andanças ainda não terminaram, é bem possível que ainda esteja aqui por ocasião da Páscoa. Se Deus me ajudar, espero conseguir o que estou pleiteando. Gozo de muito boa saúde, não acho demorado o tempo, e aqui ficaria para o resto de meus dias se fosse vontade de Deus. O frio apertou bastante em Paris, embora não tenha caído neve. Chegou-se a vender um balde de água por quinze tostões. Várias pessoas foram encontradas mortas, enregeladas.
Adeus, meus queridos parentes. Tenho a honra de ser seu atento e afeiçoado
Champagnat
sup. dos I. M.

Edição: Marcelino Champagnat. Cartas - SIMAR, São Paulo, 1997

fonte: Daprès lexpédition autographe AFM 113-12, éditée dans A.A. pp. 236-237

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