Carta de Marcelino – 309

Marcellin Champagnat

1839-12-27

Vimos na Carta no 229 que o Padre Dorzat promete usar sua influência junto aos examinadores para a concessão do brevet (Diploma) de professor. Mais uma vantagem: O cura da catedral de Grenoble, Padre Guérin, hospedaria os Irmãos que fossem mandados fazer os exames.
Segundo o Irmão Avit, a escola de Roches-de-Condrieu foi aberta no final de 1838, mas sem a possibilidade de receber internos, por falta de dormitórios apropriados. O Padre Dorzat pensa neste problema; quer conseguir internos para enfrentar a concorrência com duas escolas que têm pensionistas. Para montar as instalações necessárias, ele quereria reservar uma parcela do pagamento dos alunos que viessem dos municípios vizinhos, mas o Padre Champagnat pensa, antes de mais nada, em garantir a subsistência dos Irmãos, através dos recursos minguados que costumam conseguir, além do pagamento feito pela municipalidade.

Senhor Pároco,
Fiquei deveras surpreso com a notícia das pequenas dificuldades de que os Irmãos me falaram, relativas a seu estabelecimento. Parece-me que depois de tanto trabalho para fundá-lo, o senhor tem tanto como nós interesse em sustentá-lo e fazer com que prospere. Mas, o senhor deve dar-se conta que para atingir este objetivo, é necessário que nossos Irmãos possam viver em Roches, prover às suas necessidades, e como quaisquer outros educadores, poupar alguma coisa para os dias da velhice. Longe, porém, de haverem os Irmãos atingido este resultado no ano passado, ficaram pelo contrário devendo 150 francos nas contas daquilo que estritamente deveriam entregar à casa mãe. Não deixei de mandar que os Irmãos verificassem se talvez não tinham feito demasiadas despesas. Responderam-me que se ativeram ao que prescreve a Regra, que a horta não contribuía com nada, sendo eles portanto obrigados a recorrer continuamente às mercearias, onde tudo é muito caro.
Senhor Pároco, o senhor é muito inteligente e generoso demais para, diante de uma situação dessas, estar criando dificuldades a respeito de mensalidades que ninguém nos contesta em lugar nenhum e que são coisinha pouca que não representa mais do que um suplemento ao reduzidíssimo pagamento que exigimos.
Não tenho lembrança alguma, senhor Pároco, de lhe haver dito que os alunos dos municípios vizinhos seriam matriculados nas mesmas condições que os de Roches, e que as contribuições deles ficariam para o senhor. Tanto mais motivo tenho de dizer que não lhe fiz esta concessão que em qualquer outro lugar seguimos o costume contrário. O Irmão Visitador explicou ao senhor a maior parte de nossas razões, porém, a de mais peso, independente de qualquer acerto ou convênio, é que de algum jeito os nosso Irmãos precisam ter do que viver, o que não parece possível com o pagamento rigorosamente fixado em 1.200 francos para três Irmãos.
Portanto, senhor Pároco, espero que aceite nossas justas ponderações e que, para o bem e a prosperidade de sua obra, antes de estar sonegando aos Irmãos a pequena compensação que podem obter das contribuições dos meninos dos municípios vizinhos, o senhor pelo contrário aumente essas entradas favorecendo a matrícula de tais alunos.
Já não falarei do internato para o primário que o senhor poderia criar na casa dos Irmãos. A meu ver, isto seria um meio excelente de garantir o êxito e proporcionar a seu estabelecimento o bem-estar justo e razoável que contribuiria para o bom andamento de uma instituição de educação. A maioria dos municípios conhecem muito bem as vantagens desse sistema e são os primeiros a nos oferecer um local apropriado.
Cumpre também observar que nós temos o costume de lhes conceder uma porcentagem sobre as mensalidades dos alunos do próprio município que se matriculam como internos. Quanto aos demais, os encargos e benefícios são dos Irmãos.
Com sua clarividência, senhor Pároco, o senhor verá o que poderá fazer no caso em questão.
Queira …
Champagnat

Edição: Marcelino Champagnat. Cartas - SIMAR, São Paulo, 1997

fonte: Daprès la minute, AFM, RCLA 1, pp. 162-163, nº 207

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