Irmão Silvestre relata Marcelino Champagnat

Lembranças pessoais, as que recolheu de outrem, o relacionamento com o Fundador, Reflexões sobre sua obra Ir. Silvestre

1886

Entre os relatos que possuímos, concernentes ao Padre Champagnat, ressalvada a biografia oficial, o do Ir. Silvestre se reveste de importância particular, primeiramente pelo volume, depois, pelo caráter pessoal das recordações apresentadas. Se bem que a composição do texto, no conjunto, veja-se também nos detalhes, deixe muito a desejar, os fatos em si guardam o valor de testemunho de uma forma de viver hoje muito ultrapassada, mas ao mesmo tempo significativa de um espírito sempre adaptável à nossa mentalidade moderna. Daí o interesse pela nova edição deste documento.

O AUTOR

Jean-Félix TAMET nasceu em Valbenoîte, Saint-Etienne, Loire, a 12 de janeiro de 1819. Relata nas páginas a seguir o ingresso e os inícios de sua vida religiosa. O que não conta, é que apenas lhe foi possível emitir votos, na primeira vez, somente por três meses, em 08.09.1832, votos que renova por igual período  em 08.12.1832, em seguida, por seis meses em 17.03.1833 (RVT 1, p. 33), tão incerta era sua aceitação no Instituto.
Obteve o certificado para o ensino em Grenoble em 08.04.1839, enquanto lecionava na Côte-Saint-André. Pelo que sabemos dos anos levianos de sua juventude, podemos pensar que adquiriu certo domínio da profissão de educador. Se acrescentarmos a isso que era conhecido do Ir. Luís Maria, seu diretor durante alguns anos, subitamente projetado nas esferas administrativas, compreende-se que, em breve, seria colocado na casa-mãe como formador dos Irmãos. Será fato consumado quando assumir o compromisso definitivo com o Instituto pelos votos perpétuos, emitidos em 13.09.1843. Em primeiro lugar como professor, depois como diretor, exercerá essa função por 43 anos, seja em N.D. de l´Hermitage, seja em Grange-Payre e em Saint-Genis-Laval. Será exonerado desse encargo apenas um ano antes da morte, ocorrida em 1886. Ora, nesse ano, pela circular de 2 de fevereiro, o Irmão Teofânio, Superior geral, anunciava a introdução da Causa  do Fundador. Nessa circular o Superior «solicita aos Irmãos que tiveram a ventura de conhecer o Padre Champagnat, aos que ouviram falar dele pelos primeiros Irmãos ou outras pessoas, de colocar por escrito tudo o que soubessem…Para redigir essas notas, os Irmãos lerão, com muita atenção, a biografia do Padre Champagnat e indicarão, conforme virem ou souberem, os pontos da vida que confirmam, modificam ou seria necessário acrescentar…» (C. VII, pp. 256-257). O Ir. Silvestre, apesar de seus 67 anos bem vividos, faz-se o dever de responder escrupulosamente ao apelo do Superior geral. Restar-lhe-á pouco mais de ano para executar a tarefa, porque falecerá em 16 de dezembro de 1887. (Veja-se a notícia biográfica nas Cartas de M. Champagnat, vol. 2, Repertório, pp. 476-478).

A OBRA

O resultado do trabalho é um conjunto de 12 cadernos, formato escolar, totalizando perto de 400 páginas manuscritas. Esses cadernos foram numerados de 1 a 12.
Os 7 primeiros seguem-se sem transição; devem ser considerados obra única em diversos folhetins. O segundo caderno apenas leva título, a saber: Capítulo IV (seqüência) o que prova muito bem que não pode ser separado do primeiro que contém o início desse capítulo IV. Os 5 outros seguem-se da mesma forma sem interrupção passando, às vezes, de um para o outro no meio de uma frase, como é o caso do Nº 3 ao Nº 4.
Os cadernos 8 a 11 seguem-se do mesmo jeito formando no conjunto apenas uma obra cujo título é :«Apêndice», título posteriormente explicitado a lápis da maneira seguinte: «compreendendo 3 capítulos:
1º Meu relacionamento com o Venerável Pai;
2º Algumas de suas virtudes principais;
3º Notas particulares».
Enfim, o caderno 12 está completamente à parte. É mais volumoso do que os outros. É caderno de 96 páginas cujas três últimas estão em branco. Leva o título :«Pequeno apêndice à Vida do Padre. Champagnat em dois volumes in-doze – Notas, fatos, reflexões – Seu espírito».  Diversas passagens desses cadernos já se encontram, por vezes, textualmente, no «Apêndice» (cadernos 8 a 11). Por outra parte, esse caderno assemelha-se ao caderno N.º 1: mesmo papel, que não resistiu ao tempo, amareleceu, tornou-se quebradiço e se pulveriza, seu formato de alguns centímetros menos longo que os demais e mesmas faixas vermelhas, ao passo que o papel dos outros é menos espesso, mais resistente e não é colorido. Tudo isso faz pensar que o caderno N.º 12 é de fato anterior aos demais e deve ser classificado cronologicamente, não após os onze outros, como o fez mecanicamente algum arquivista, mas no começo e levar o Nº 1, se a gente quiser absolutamente guardar a numeração.
No entanto, depois de tudo o que se acaba de dizer, essa numeração nada representa de significativo e não tem razão de ser preservada. Por conseguinte, a obra do Ir.Silvestre apresenta-se em três parte;
1)Pequeno Apêndice à «Vida do Padre Champagnat» do Ir. João Batista;
2)Resumo da Vida do Padre Champagnat;
3)Apêndice ao Resumo da Vida do Padre Champagnat.
 
É o plano que esta edição seguirá.

O TEXTO

Essa estrutura não altera em nada o texto aqui reproduzido na íntegra.
O original comporta muitas correções feitas a lápis, seja de palavras ou de passagens riscadas, seja, na maioria dos casos, de acréscimos entre as linhas. Dada a natureza destes últimos, tem-se o direito de pensar que são do próprio autor, sem contudo ter certeza absoluta. Sem dúvida, pela escrita não é possível fazer o confronto: facilmente aplicável no texto escrito a tinta é menos espontâneo nos acréscimos a lápis.  Julgue-se isso pela adenda final, que encerra a obra. A última frase enunciava-se primeiramente como segue: «Possam os Pequenos Irmãos de Maria mostrar-se em tudo e em toda a parte e sempre fotografias vivas e eloqüentes de N.V. Fundador. Assim seja». Posteriormente riscou-se o «Assim seja» e continuou-se a frase por: «e não borrada como tive a infelicidade de ser uma delas. Assim seja». Como pensar que alguém, além do próprio autor, se tenha permitido acrescentar esse complemento? Baseando-se sobre essa probabilidade, esta edição apresenta o texto corrigido, mesmo sem o aparato crítico julgado de pouca utilidade, visto a natureza da obra, e, o conjunto dos leitores a que se destina. As correções mais importantes, contudo, especialmente quando modificam a idéia da frase ou lhe acrescentam alguma coisa, são assinaladas em nota.
Os erros de ortografia que escaparam ao autor aparecem igualmente corrigidos. Aliás são pouco numerosos; erros são principalmente  as omissões de termos, as faltas de concordância ou de acentos circunflexos nos imperfeitos do subjuntivo.
A pontuação, de que o autor não se mostra pródigo, fica retificada segundo as regras atualmente em uso.
As abreviações, como PP., FF. ou simplesmente f. e v. foram transcritas por extenso padres, Irmãos ou Irmão e Venerável. Outras abreviaturas mais comuns como R.P. ou Mgr. não foram modificadas.
Esta edição desejaria responder à preocupação de apresentar texto claro, fácil de ler, embora ficando escrupulosamente fiel ao original.
_________________
Ir. P.S. (Paul Sester)
Roma, 8 de setembro de 1991

Edição em português por CEPAM

Edição: Versão em Françês publicada em 30 de março de 1992, em Roma - Esse texto em Português disponibilizdo pelo CEPAM

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