Testamento espiritual do P. Marcelino Champagnat

Marcellin Champagnat

1840-05-18

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TESTAMENTO ESPIRITUAL De MARCELINO JOSÉ BENTO CHAMPAGNAT, PADRE SUPERIOR E FUNDADOR DO INSTITUTO DOS PEQUENOS IRMÃOS DE MARIA,

falecido em Notre-Dame de l’Hermitage, Saint-Chamond (Loire), França, em 6 de junho de 1840.

 

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

 

Aqui, na presença de Deus, sob os auspícios da SS. Virgem e de são José, querendo deixar conhecida a todos os Irmãos de Maria a expressão de meus últimos e mais caros desejos, recolho todas as minhas forças para redigir, de acordo com o que acredito ser mais conforme à vontade divina e mais útil ao bem da Sociedade, meu Testamento Espiritual.

Primeiramente, suplico muito humildemente àqueles que eu poderia ter ofendido ou escandalizado de qualquer modo, embora desconheça que tenha voluntariamente ofendido alguém, queira perdoar-me em consideração à Caridade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo e de unir suas orações às minhas para obter de Deus que ele se digne esquecer os pecados de minha vida passada e receber minha alma em sua infinita misericórdia.

Morro cheio de respeito, de reconhecimento e de submissão ao Superior Geral da Sociedade de Maria e nos sentimentos da mais perfeita união com todos os membros que a compõem, especialmente com todos os Irmãos que o bom Deus tinha confiado à minha solicitude e que foram sempre tão caros ao meu coração.

Desejo que uma inteira e perfeita obediência reine sempre entre os Irmãos de Maria; que os inferiores encarem nos superiores a pessoa de Jesus Cristo, a eles obedeçam de coração e de espírito, renunciando sempre, se for necessário, à própria vontade e ao próprio critério. Que eles se lembrem de que o religioso obediente contará vitórias e de que a obediência é que é principalmente a base e o sustentáculo de uma comunidade. Nesse espírito, os Pequenos Irmãos de Maria submeter-se-ão cegamente, não somente aos primeiros superiores, mas também a todos aqueles que forem propostos para dirigi-los e conduzi-los. Compenetrar-se-ão desta verdade de Fé, que o superior representa Jesus Cristo, e que deve ser obedecido quando manda, como se fosse Jesus Cristo mesmo quem mandasse.

Eu vos peço também, meus queridos Irmãos, com toda a afeição de minha alma e por toda afeição que tendes por mim, que procedais sempre de tal modo que a santa caridade se mantenha sempre entre vós. Amai-vos uns aos outros como Jesus Cristo vos amou. Que não haja entre vós senão um mesmo coração e um mesmo espírito. Que se possa dizer dos Pequenos Irmãos de Maria como dos primeiros cristãos: “Vede como eles se amam”… É o mais ardente voto de meu coração neste último momento de minha vida. Sim, meus caríssimos Irmãos, escutai as últimas palavras de vosso pai, pois são aquelas de nosso amado Salvador: “Amai-vos uns aos outros”.

Desejo, meus caros Irmãos, que esta caridade que vos deve unir todos juntos como membros do mesmo corpo se estenda a todas as outras congregações. Ah! Eu vos peço, pela caridade sem limites de Jesus Cristo, não vos permitais nunca ter inveja de ninguém, sobretudo daqueles que o bom Deus chama a trabalhar como vós, no estado religiosos, na instrução da juventude. Sede os primeiros a vos alegrardes por seus êxitos e lastimardes suas desgraças. Recomendai-os muitas vezes ao bom Deus e a sua Divina Mãe; cedei-lhes sem constrangimento. Não deis nunca atenção a conversas capazes de prejudicá-los. A glória de Deus e a honra de Maria sejam unicamente vosso objetivo e toda a vossa ambição.

Como vossas vontades devem identificar-se com as dos Padres da Sociedade de Maria na vontade de um Superior único e geral, desejo que vossos corações e vossos sentimentos também se identifiquem sempre em Jesus e Maria. Os interesses deles sejam os vossos; vosso prazer seja ajudá-los pressurosamente todas as vezes que a isso fordes solicitados. Um mesmo espírito, um mesmo amor vos ligue a eles como ramos a um mesmo tronco e como filhos de uma só família a uma boa mãe, Maria. O Superior Geral dos Padres, na qualidade de Superior dos Irmãos, deve ser o centro de união de uns e de outros. Como os Irmãos sempre demonstraram inteira submissão, desejo igualmente que o Superior Geral encontre sempre a mesma obediência da parte deles. Seu espírito é o meu e sua vontade é a minha. Encaro essa concordância perfeita e essa inteira submissão como a base e o sustentáculo da Sociedade dos Irmãos de Maria.

Peço ainda a Deus e desejo com todo o ardor de meu coração que persevereis fielmente no santo exercício da presença de Deus, alma da oração, da meditação e de todas as virtudes. A humildade e a simplicidade sejam sempre a característica dos Pequenos Irmãos de Maria.

Uma devoção terna e filial por vossa boa Mãe vos anime em todo o tempo e em todas as circunstâncias. Tornai-a amada por todos, tanto quanto vos for possível. Ela é a primeira Superiora de toda a Sociedade.

Juntai à devoção a Maria, a devoção ao glorioso são José, seu digníssimo esposo. Vós sabeis que ele é um dos nossos primeiros patronos.

Vós exerceis o papel de anjos da guarda dos alunos que vos são confiados: rendei também a estes puros espíritos um culto particular de amor, de respeito e de confiança.

Meus queridos Irmãos, sede fiéis à vossa vocação, amai-a e perseverai nela corajosamente. Conservai-vos num grande espírito de pobreza e de desapego. A observância diária de vossas santas regras vos preserve de jamais faltar ao voto sagrado que vos liga à mais bela e à mais delicada das virtudes. Para viver como bom religioso exige-se sacrifício; mas a graça suaviza tudo. Jesus e Maria vos ajudarão; aliás, a vida é bem curta e a eternidade jamais acabará. Ah! Como é consolador, no momento de se apresentar diante de Deus, lembrar-se de que a gente viveu sob os auspícios de Maria na sua Sociedade! Digne-se esta boa Mãe vos conservar, multiplicar e santificar!…

A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunicação do Espírito Santo estejam sempre convosco! Deixo-vos todos, confiante, nos sagrados corações de Jesus e Maria, esperando que nos possamos reunir todos juntos na eternidade bem-aventurada. Tal é minha última expressa vontade, para a glória de Jesus e de Maria.

O Presente testamento espiritual será entregue às mãos do Pe. Colin, Superior Geral da Sociedade de Maria.

Dado em Nossa Senhora de l’Hermitage a 18 de maio de 1840, na presença das testemunhas abaixo relacionadas:

O Superior e Fundados dos Pequenos Irmãos de Maria,

Padre Marcelino José Bento Champagnat.

Irmão Francisco

Ir. Luís Maria

Ir. João Batista

Ir. Luís

Ir. Estanislau

Ir. Boaventura

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fonte: OM 417

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