17 de setembro de 2014 BRASIL

Maristas na Amazônia: missão inculturada em favor da vida

O Bioma amazônico vem deixando de ser considerado cenário de fundo de quintal e passa a ser praça central do Planeta. Os Maristas, presentes na região desde 1903, se sentem interpelados a dar uma resposta efetiva ao clamor por VIDA no Planeta, para a qual a Amazônia contribui significativamente. Com o lema Maristas na Amazônia: missão inculturada em favor da vida”; motivados por Aparecida (475) “criar consciência nas Américas sobre a importância da Amazônia para toda a humanidade”; e ainda com o crescente incentivo do Conselho Geral, reunimo-nos em Tabatinga, na tríplice fronteira Peru, Colômbia e Brasil, para dar prosseguimento a um Projeto Marista para a região.

Na ensolarada manhã do dia 18 de agosto, desfrutamos um gostoso café matinal temperado com frutas e quitutes regionais. Depois, na beira do lago do Centro Frei Ciro, todos se encontraram para num momento de espiritualidade entrarem no clima do encontro. O Sol matutino estava abrasador, mas iluminava a todos. Ao som de músicas regionais, fomos tecendo uma rede e com essa dinâmica nos apresentamos e mergulhamos no espírito dos trabalhos a serem realizados.

Participaram do Encontro um Irmão de Santa Maria de Los Andes, uma leiga representando Cruz del Sur, três Irmãos do México, um Irmão de Roma (Cmi), dois Irmãos do Brasil Centro Norte, um Irmão do Rio Grande do Sul, oito Irmãos do DMA, um leigo da Umbrasil, um voluntário da AVESOL, duas Irmãs de Nossa Senhora Cônegas de S. Agostinho, uma leiga do CIMI e dois sacerdotes Jesuítas. Em diversos momentos também estiveram presentes o Bispo Dom Alcimar, uma Irmã Catequista Franciscana da Comunidade Itinerante e uma leiga de Santa Rosa – Peru.

O Ir. João Gutemberg sintonizou a todos nos objetivos do encontro. Salientou que continuávamos um processo iniciado em dois outros eventos anteriores. Recordou que na Conferência de l’Hermitage alguns Irmãos dialogaram sobre a importante presença marista na Amazônia. O Ir. Antonio Peralta apresentou a carta do Ir. Emili Turú sobre o Projeto “comunidades internacionais para um novo começo” a se efetivar em 2017, o que foi aprofundado em um momento de trabalho grupal. Em outro momento foi apresentada a Mensagem dos Irmãos Conselheiros Gerais, Josep Maria Soteras e Eugène Kabanguka.

Como os participantes eram de origem diversificada, dedicou-se um bom tempo para que todos pudessem sintonizar com o contexto amazônico. O Ir. Ferrarini apresentou dados do bioma amazônico, suas potencialidades e as ameaças à sua vida. Inseriu esses temas no conjunto dos problemas do Planeta.

Abundante artesanato local, chuva torrencial, natureza exuberante circundante, tudo contribuía para manter vivo o objetivo do encontro. E na noite desse primeiro dia, Verônica Rubi partilhou sua experiência de vida e missão em Moçambique. Ela dará continuidade  esse trabalho agora no Alto Solimões, na Região da Tríplice Fronteira.

A tranquilidade da noite recompôs as forças para, no dia 19, todos partirem para nova jornada. Café com forte toque regional, acompanhado pelo canto dos japis (japiim, japós), convidava para uma boa caminhada. Agora o convite era conhecer a realidade local, percorrendo os caminhos da natureza e do povo. Orla do Solimões, travessia do rio, Comunidade Santa Rosa,

 Avenida da Amizade e Letícia, tudo foi cenário para, com sentidos bem despertos, perceber e captar as mensagens. O diálogo com lideranças da Comunidade Santa Rosa (Peru), deu o tom dos apelos do povo e da Igreja.

Na tarde desse dia foi feita uma ressonância do que se vivenciou pela manhã. Mais luzes foram chegando com a partilha de trabalhos feitos pelos maristas junto aos povos originários na América: conhecemos o trabalho da Província Norandina em Sucumbios e Tucupita; do DMA (Ir. Nilvo) na Terra Indígena do Javari, de Santa María de Los Andes com a Universidade M. Champagnat (DATEM) e a Casa Hogar em Puerto Maldonado; do México em Chiapas (Ir. Javier) e Tarahumara (Ir. Alfredo), Misión Nueva Pompeya (Provincia de Chaco Argentina). Essas lindas experiências dão luzes para o perfil da obra que se deseja inaugurar na Amazônia e mesmo sobre a mesma temática em nível de América.

À noite, todos se dirigiram à Comunidade São Marcelino para a celebração Eucarística, presidida pelos padres Rafael e Valério. Foi um momento forte de espiritualidade e comunhão com a comunidade, que se mostrou muito animada e comunicativa.

As cuias continuavam presentes por todos os lados da casa interpelando a todos para a inculturação, para a realidade do bioma e do povo amazônico e para uma espiritualidade encarnada. O soturno piado dos bacuraus (corujas) convidava ao repouso. E já pela manhã do dia 20, o vai e vem da criançada que chegava para as aulas na escola ao lado, acordava quem ainda insistia em ficar na cama. A isso se juntava a harmonia da natureza que convidava a todos para as lides de um novo dia. Os japis continuavam a tecer seus ninhos do alto da muirapiranga em incessantes voos de subida e descida. Nós também continuávamos a tecer nosso Projeto.

O momento orante desse dia foi em perspectiva Maia, orientado pelo Ir. Javier. Tudo convidava a mergulhar no mistério divino-humano: música, movimento, cores, fumaça. Apaziguados pelos Espíritos, acolhemos diversas experiências e projetos de trabalho na região: A Equipe Itinerante nos falou de sua história, mística, trabalho e perspectivas; o Pe. Valério comunicou o Projeto dos Jesuítas para a Amazônia; a Ir. Arizete, o Projeto das Irmãs de Nossa Senhora; a Raimunda (Rai) falou sobre o trabalho do CIMI; o Ir. João contou o trabalho do SARES. Ouvimos também uma mensagem de Dom Pedro Casaldáliga: “Não deixar cair a profecia”.

Esse  tempo  de  escuta  de  tantas  experiências  anseios  foi encerrado com um momento de silêncio e interiorização ao som melodioso do canto do curió.

As crianças da escola contígua, em contínuo vai e vem, nos apontavam sempre para o nosso carisma. Muitos Irmãos nesses momentos interagiam com elas.

No início da tarde do dia 20, o Ir. Chris Wills falou-nos um pouco de sua experiência de missão na Oceania e na Cooperação Marista Internacional. Em seguida provocou-nos com uma reflexão a partir dos dados e anseios que colheu nos dias anteriores. Isso nos ajudou no trabalho que se seguiu. Refletimos sobre os anseios surtos do Encontro de Manaus, em 2012, com a mensagem da Conferência Geral de l’Hermitage de 2014 (que leva o título de “Místicos e Profetas: um novo começo”), tentando identificar as afinidades entre essa mensagem.

Dia 21, despertamos com o ruído das crianças e do canto dos japis que continuavam a tecer seus ninhos. Nós também íamos avançando na tessitura do perfil da “comunidade global” desejada pelo Conselho Geral. A Guajajara, aleitando em seu seio um filhote de anta, motivou nossa oração inicial. Pintados com urucu e ao ritmo de uma dança roraimense, tendo também a presença do bispo, D. Alcimar, nos dispusemos para os trabalhos finais.

Um trabalho de grupo e um painel trouxeram à baila as luzes e os sinais percebidos nesses dias; os gritos e os clamores da região; um perfil da Comunidade Marista Internacional; passos concretos para a realização do projeto. A manhã finalizou com uma avaliação dos dias de encontro.

Todos parecíamos cientes de que uma comunidade marista internacional na Amazônia poderá ser um sinal de vida e de esperança.

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Ir. Sebastião Ferrarini, cronista
Informativo do Distrito Marista da Amazônia | n. 150 – 30/08/2014

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