18 de setembro de 2021 SíRIA

Nabil e os Maristas Azuis em Aleppo

Publicamos em seguida um Extrato do artigo de Chiara Zappa, publicado em Mondo e Missione e reproduzido no último boletim da FMSI.

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É uma missão difícil, a de Nabil Antaki, um gastroenterologista que, após a eclosão do conflito sírio, há dez anos, decidiu que faria todo o possível para levar conforto aos civis que a guerra havia convertido de repente em vítimas: deslocados, feridos, traumatizados, sem comida ou água. Assim nasceram os Maristas Azuis, um grupo de voluntários que, com o tempo, viria a se constituir em uma verdadeira máquina de solidariedade, com 155 pessoas operativas e uma quinzena de projetos em seu currículo, desde os primeiros socorros até a formação profissional, desde o apoio escolar até a reabilitação psicológica. […]

Hoje em dia, apenas alguns focos de conflito permanecem na Síria, como a província de Idlib e a região nordeste, mas “a paz ainda está muito longe e, paradoxalmente, as pessoas estão ainda piores do que antes, devido a uma crise econômica terrível”, afirma o médico que, juntamente com o Irmão George Sabé, relatou o sofrimento de seu povo no livro “Cartas de Aleppo”, publicado em novembro passado pela Harmattan Itália. Este alarme é confirmado por dados do Programa Mundial de Alimentos, segundo os quais, enquanto no país existem mais de 400 mil mortos e 12 milhões de deslocados, quase a metade no exterior, 60% dos que permanecem não têm certeza de poder comer todos os dias: o dobro que em 2018. Quase um milhão e meio de sírios não poderiam sobreviver sem a ajuda alimentar de organizações humanitárias. […]

Nesse contexto, o trabalho incansável dos Maristas Azuis representa uma pequena luz na escuridão cotidiana de muitos sírios. Como os idosos, que nos últimos meses se encontram ainda mais frágeis: “Muitos estão sozinhos porque não têm família ou porque os filhos fugiram da guerra, e as suas condições são muito miseráveis. Por isso, criamos uma cozinha onde alguns dos nossos voluntários preparam diariamente uma refeição quente para 190 idosos necessitados”. Depois, são os jovens das camisetas azuis que a distribuem pelas casas, levando um sorriso, um pouco de calor humano e um apoio integral: “Ao visitar essas pessoas, de fato, percebemos que muitas delas precisam de alguém que se ocupe da higiene pessoal, de limpar a casa, de comprar medicamentos”.

“Mas a categoria que tem sofrido as consequências mais graves do conflito é a das crianças, muitas das quais não conheceram nada além da guerra em suas vidas. À pobreza e à falta de educação – dois milhões de crianças ainda estão fora da escola – somam-se o risco de abusos, incluindo casamentos precosses e traumas difíceis de curar. Além da ajuda material, focamos em projetos educativos para crianças em idade pré-escolar cujos pais não podem pagar uma creche particular”, diz o médico sírio, “enquanto nossa equipe de psicólogos e voluntários atende crianças e adolescentes com transtornos psicossociais”.

Entre elas, se ainda é possível, são mais vulneráveis as crianças que cresceram em campos de refugiados. O de Al Shahba, a 40 km de Aleppo, acolhe 125 famílias curdas – 750 pessoas – que fugiram de Afrin após a invasão turca em 2018. “Nossos voluntários o visitam duas vezes por semana, carregando pacotes de alimentos e produtos sanitários, e organizam jogos e atividades educativas para crianças, enquanto, na área da assistência médica, colocamos à disposição um pediatra, um ginecologista e um farmacêutico”. […]

Mas, apesar de tudo, para o Dr. Antaki a guerra não conseguiu destruir um modelo de convivência interconfecional que era a norma na Síria: “Meus pacientes sempre foram predominantemente muçulmanos, assim como os beneficiários de nossos projetos são agora 70% muçulmanos. Aqui não fazemos diferença, todos nos sentimos sírios e o mais fica em segundo plano. Compartilhamos os mesmos valores humanos e não temos dificuldade em trabalhar juntos”.

O extremismo que a Síria viveu nos últimos anos e que também tirou o irmão mais velho do médico alepino, assassinado em 2013 por um grupo fundamentalista, “foi importado do exterior, não faz parte da nossa tradição. Pelo contrário, pessoas normais passaram a conhecer e a valorizar o trabalho de muitas ONGs e realidades cristãs que durante o conflito não pararam de levar ajuda a todo o mundo”. Isso é mais evidente do que nunca no caso do Dr. Nabil que, com sua cidadania estadunidense (graças a dois filhos que moram nos Estados Unidos há muito tempo), poderia ter deixado a Síria a qualquer momento, mas em vez disso, apesar da insistência de sua família, ele e sua esposa, ambos recuperados da Covid-19, decidiram ficar. […]

“Pedimos encarecidamente à comunidade internacional que ouça o clamor dos sírios, das crianças que não tiveram infância, dos jovens que já não têm sonhos. Unimo-nos ao apelo de numerosas realidades, incluindo as Igrejas locais e a Caritas, que pressionam para que se levantem as sanções que estrangulam o povo. E então imploramos, finalmente, a paz”.

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Extrato do artigo de Chiara Zappa, publicado em Mondo e Missione.

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