26 de maio de 2015 REPúBLICA CENTRO-AFRICANA

Ouro e diamante na República Centro-Africana alimentam dois anos de terror

Os Irmãos Maristas estão se empenhando para ajudar os cidadãos e as crianças da República Centro-Africana (RCA) a voltar à normalidade após dois anos de terror alimentado por interesses internacionais nos diamantes e no ouro do país.

"Milhares de muçulmanos nas fronteiras dos países vizinhos não podem voltar ao país por causa da milícia Anti-balaka, e aqueles que conseguem refúgio em dioceses e igrejas não podem voltar para suas cidades e casas", disse o irmão Elías Pérez, um dos cinco irmãos no país.

"Nossa comunidade tem oferecido assistência financeira e alimentos para o Bispo que, em várias ocasiões, manteve centenas de muçulmanos em sua propriedade por mais de um ano", declarou em entrevista ao escritório de comunicações da Casa Geral Marista em Roma.

Ir. Elías, originário do México, é diretor do Liceu São Marcelino Champagnat, uma escola de ensino fundamental e médio em Berberati, localizada a 100 km da fronteira com Camarões. Três outros irmãos, dois da RCA e um do Congo, ensinam matemática, francês, educação moral e cívica e catequese. O quinto irmão, da França, é diretor da escola de educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental.

Ir. Elías destacou que muitas pessoas temem que os mulçumanos se vinguem caso retornem às suas casas.

Enquanto o mundo testemunha a ultrajante perseguição cristã no Oriente Médio, os muçulmanos estão sendo perseguidos na RCA pelo grupo Seleka, que tomou conta do país em 2013. 

“Os jornalistas cometem um grande equívoco ao considerar os Anti-balakas como “Milícias cristãs”, pois nada têm a ver com as igrejas e não obedecem a ninguém,” afirmou o Ir. Elías. “Eles mataram centenas de mulçumanos e forçaram milhares de pessoas a se exilar em países vizinhos.”

“Em alguns lugares, a vida está começando a se reorganizar, mas a extrema pobreza resultado de mais de dois anos de violência é muito difícil e teme-se o que pode vir a ocorrer,”disse Ir. Elías.

A República Centro-Africana permanece instável desde sua independência da França em 1960 e é um dos países menos desenvolvidos no mundo.

Após vários golpes de estado, seguido de um regime sob as ordens de um autodeclarado imperador, Jean-Bedel Bokassa, o grande golpe mais recente foi quando um grupo mulçumano rebelde formado por milícias do Chad, Nigéria, Sudão e, de acordo com a CNN, possivelmente da Al Qaeda – “Seleka” –  ocupou a capital Bangui, em 24 de março de 2013 (Domingo de Ramos) e expulsou o presidente. 

A RCA é um dos países mais pobres do mundo, mas rico em ouro e diamantes. Seu comércio ilegal é usado para financiar diferentes grupos. Os Selekas tentaram promover a divisão do país: ao norte ficariam os mulçumanos  e ao sul os cristãos. Mas o Ir. Elías observou que “isso foi impossível para os Africanos da RCA aceitarem, porque essa proposta veio de outros países.”

 class=imgshadownA Força Multinacional da África Central, a francesa “Operação Sangaris” e a Missão de Apoio Internacional à República Centro-Africana liderada pela África (MISCA), que mais tarde se tornou a Missão das Nações Unidas na África Central (MINUSCA), forçaram a retirada dos Selekas para o norte.

De acordo com o Ir. Elías, os Selekas estão agora controlando uma grande área do centro-norte do país onde as autoridades nacionais não conseguiram prevalecer.

Mas a violência não terminou aí, aumentada pelo surgimento de um novo grupo em 2014, “Anti-balaka”, um grupo de milícias que se autodenomina “cristão” mas comete as mesmas atrocidades que os Selekas.

“Na medida em que os mulçumanos não voltam ao seu país, às suas casas, e os Selekas permanecem em certas regiões, e conforme os Anti-balakas ocupam áreas maiores, será impossível voltar à vida normal,” destacou.

Mas com todo o terror, pobreza e desnutrição, os Irmãos  Maristas continuam no esforço de ajudar seus estudantes, que têm sido bastante afetados.

“Muitos de nossos alunos chegam sem o café da manhã, e sua primeira refeição acontece quando voltam para casa depois das 15h,” disse o Ir. Elías.

“A escola investe muito na ajuda às crianças doentes, que todos os dias chegam à administração da escola com  malária, febre tifoide, cárie, vômito e diarreia,” acrescentou.

Ele ressaltou que “não são poucos os jovens que vêm conversar comigo na hora do recreio  dizendo que estão com fome, e eu então ajudo aqueles que eu sei que são realmente pobres.”

Revelou ainda que em momentos de grande violência em diferentes partes do país, “os Sangaris, Miscas ou Minuscas estavam presentes e puderam testemunhar pessoalmente a matança de milhares de pessoas pelos Selekas e Anti-balakas, mas ninguém intervém.”

“Algumas pessoas dizem que entram em acordo com os grupos e fornecem armamentos ou deixam que fiquem à vontade para fazer o que quiserem,” salientou. “Outras os acusam de envolvimento no comércio de ouro e diamantes e ficam contentes por serem bem pagos.” 

“As forças de paz da ONU vêm de diferentes países, mas não são avaliadas da mesma forma: algumas são consideradas sérias, outras corruptas, outras ainda covardes e que não querem se comprometer,” acrescentou. 

Ressaltou que "a verdade é que há milhares de soldados da ONU incapazes de enfrentar os Selekas e Anti-balakas, muito menos armados e preparados.”

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