Ex-alunos maristas: Uma palavra sobre nossas origens (Blog marista ? Ir. Pau Fornells)

13/03/2008

A Associação dos ex-alunos maristas (ADEMAR) de Málaga, cidade do sul da Espanha, onde há uma forte presença marista e que faz parte da província Mediterrânea, publicou um pequeno documento muito sugestivo, que seus integrantes fizeram questão de entregar ao Ir. Seán Sammon durante a sua recente visita à província. Inicialmente, farei a transcrição aqui somente de uma parte deste texto. O assunto referente aos ex-alunos maristas quase não tem sido tratado neste blog. Para mim, que sou ex-aluno do colégio La Inmaculada, de Girona, na Catalunha, que pertence à província de L?Hermitage, este é um tema muito querido. Em minhas visitas às diferentes províncias do Instituto, fiquei sempre muito positivamente surpreso ao encontrar algumas associações de ex-alunos muito ativas, e que também lutam para encontrar «novos caminhos» para desenvolver o dom que um dia receberam durante as aulas nas escolas maristas. Deixo em aberto, portanto, a possibilidade de uma reflexão conjunta sobre o presente e o futuro das associações dos ex-alunos maristas.

Alguns dizem que aqueles eram… «outros tempos».

Os irmãos maristas que conhecemos, nós que somos seus ex-alunos e que temos em torno dos 50 anos de idade, eram homens normais, geralmente de origem rural, filhos de famílias numerosas e com poucos recursos. Apesar disso, eram dotados de um carisma singular e atrativo.

A maioria deles tinha recebido a formação básica necessária para se dedicar ao ensinamento. Os mais jovens estavam cursando o bacharelado eclesiástico, outros já possuíam o título para o magistério e muito poucos eram licenciados. Para nós, todos eles pareciam «sábios».

Com alguns recursos muito limitados, alguns livros escolares de tipo «enciclopédico» e uma pedagogia diferente daquela que era empregada em outros centros educativos, aos poucos eles iam-nos «tirando a casca», forjando o nosso intelecto.

Suas vidas eram humildes e não dispunham de muitas comodidades. O vestuário deles se resumia à batina e à cruz no peito. Eram sempre pontuais na hora de começar as aulas. Sóbrios, mas carinhosos; rigorosos, mas compreensivos. A presença deles em meio a nós, quando estávamos no pátio ou no momento de entrarmos ou sairmos das salas de aula, era uma coisa constante.

Eram homens de fé, podia-se notar. Viviam em comunidade e trabalhavam seguindo um mesmo estilo. Mais tarde, ficamos sabendo que era justamente ali, na vida comunitária, na oração e no apostolado, que eles retiravam toda a sua força. Em suas vidas podia-se notar a experiência do amor e da fidelidade de Deus e a confiança na proteção maternal de Maria.

Alguns deles, há alguns anos, tinham sido perseguidos por causa de sua fé, ou tinham irmãos ou amigos que haviam sido martirizados. Mas, apesar das marcas da dor, eles nos ensinaram que aquelas «flores do martírio» eram sementes de novas vocações, e que a fé, quando é inquebrantável, move montanhas.

Estes homens nos ensinaram para que conseguíssemos tirar o melhor de nós mesmos, para que trabalhássemos com espírito de superação das dificuldades, para que desfrutássemos os benefícios dos esportes, a fazermos amigos… E também nos ensinaram a rezar, a amarmos Jesus e Maria, nos ajudaram a preparar a nossa Primeira Comunhão, nos falaram do então beato Marcelino e nos fixaram na memória que Maria, aquela que hoje chamamos a Boa Mãe, era o nosso «recurso ordinário».

Eles nos ensinaram a sermos caritativos com os mais necessitados, a colaborarmos com o DOMUND ou a Infância Missionária, nos convidavam para os acompanhássemos nas lições de catequese que, uma vez por semana, à tarde, eles proporcionavam às pessoas das periferias da cidade. No Natal, eles preparavam com entusiasmo a Campanha da Caridade, para «despertar a nossa generosidade, dentro e fora do âmbito escolar».

Com o passar dos anos, alguns professores leigos foram se incorporando ao quadro docente do centro. No começo, nos pareciam diferentes, mas logo compreendemos que os irmãos e os outros professores compartilhavam uma mesma missão.

Dotados de um entusiasmo excepcional e com uma vocação que nos parecia «heróica», estes educadores, irmãos e leigos, fizeram de nós homens ? e alguns anos mais tarde, também mulheres ? à maneira marista: bons cristãos e cidadãos honrados.

Quando olhamos para as nossas origens, não temos dúvidas: nós, os ex-alunos, somos frutos da constância, da generosidade e de um trabalho bem feito. Somos frutos do exemplo de nossos educadores, de sua dedicação e de sua presença.

Somos frutos do trabalho evangelizador de alguns irmãos, que nos mostraram que Jesus e Maria nos querem bem e nos ensinaram a querê-los bem. Também somos frutos de um período maravilhoso, anos plenos de experiências compartilhadas, de jogos, de brincadeiras inesquecíveis e de amizades que continuam até hoje.

Uma constante durante aqueles anos foi a presença dos ex-alunos na vida do colégio. Algumas vezes era porque na nossa sala de aula tinha algum companheiro cujos pais ou irmãos tinham sido alunos dos maristas; outras vezes era porque aparecia no colégio de vez em quando algum ex-aluno, que os irmãos e os professores saudavam com um carinho todo especial.

Também, em cada número da revista do colégio se recordava que existia uma associação dos ex-alunos. Nós líamos essas notícias com certa inveja, conhecendo as maravilhosas atividades que eles organizavam e as fotografias dos encontros que promoviam, e sonhávamos chegar logo ao bacharelado para que algum ex-aluno nos fizesse uma conferência, ajudando-nos a planificar bem o nosso futuro. Havia também, em quase todas as salas de aula, um companheiro cuja família recebia uma bolsa de estudos da Associação, graças à qual seus filhos podiam estudar no colégio.

Se a presença dos irmãos e dos professores em nosso meio era um traço distintivo de nosso colégio, a participação dos ex-alunos maristas não era menos característica.

Nós, os alunos, sabíamos perfeitamente que os irmãos tinham uma vocação à vida consagrada e que a maioria dos professores leigos trabalhavam no colégio por causa de sua vocação de educadores. Mas, e os ex-alunos? O que os movia a estar ali? Por que eles concediam bolsas de estudos? Por que eles vinham conversar conosco? Por que ? como ficamos sabendo alguns anos depois ? eles ajudavam financeiramente a comunidade e o colégio? Por que eles ofereciam seus serviços de maneira altruística?

Havia somente uma resposta: a gratidão.

Quando os ex-alunos maristas fundaram a ADEMAR (Associação dos ex-alunos maristas), o fizeram movidos somente pela gratidão. Eles queriam, de alguma maneira, devolver gratuitamente, o que tinham recebido gratuitamente.

Depois de contemplar as nossas origens e valorizar a riqueza das pessoas e das experiências que nos forjaram, observando a vida de nossa Associação a partir da perspectiva de ex-alunos, avaliando as atividades que organizamos, a motivação que temos para fazer parte dela e a fé que nos incentiva, nos perguntamos: Eram realmente, «outros tempos»?
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ADEMAR ? Málaga: «Nós, os ex-alunos», pág. 6-7. Málaga, fevereiro de 2008.

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