Testemunho de leigo marista – Pep Buetas i Ferrer

20/03/2008

Minhas primeiras experiências como marista remontam à minha infância. Meu irmão mais velho entrou no colégio marista Les Corts pouco depois que tinha sido inaugurado e abriu o caminho aos outros. Sou o terceiro de quatro irmãos e houve um ano em que todos nós, os quatro, estávamos matriculados no colégio. Meus pais participavam da associação de pais e mestres e naquele momento tinham muito contato com os irmãos. Digo tudo isto porque, no meu caso, a experiência do mundo marista teve uma dimensão familiar muito importante, de maneira que a minha casa era um prolongamento da escola e vice-versa. Ainda hoje, tudo aquilo que se refere aos maristas tem grande ressonância entre nós.

Em minha passagem pelo colégio tive vários irmãos como professores. Mas foi principalmente durante as aulas da 6ª série, mas também na 7ª e na 8ª, quando tinha entre 12 e 14 anos de idade, que tive mais consciência de conhecer e me sentir atraído pelo carisma marista.

Na 6ª série tive o Ir. Feliu Martín como orientador e em várias ocasiões, falando com meus pais e comigo, mas sempre de uma forma alegre e informal, ele nos dizia que me levaria ao seminário, para que eu pudesse ser marista. Naquele momento, ao mesmo que via o exemplo de um amigo que estava um ano mais adiantado do que eu e que tinha seguido estes passos, aquelas palavras me tocaram profundamente e me lembro de ter chorado quando meus pais não concordaram diante da proposta: «Quando você tiver 18 anos e for maior de idade, se quiser ir, poderá fazê-lo». Desta maneira, eu teria que esperar.

Lembro-me também, quando estava na 7ª série, que houve um concurso escolar sobre a vida de Marcelino, e nessa ocasião me dediquei à leitura da biografia de Marcelino e de textos sobre a história do nascimento dos maristas. Naquele momento então o Ir. Agustí Cassú fez um convite a toda a classe para aprofundássemos o conhecimento sobre a vida de Marcelino e nos ofereceu a possibilidade, a quem quisesse, de ler a biografia que tinha sido escrita por Juan B. Furet. E ali estava eu, juntamente com um outro companheiro, pedindo-lhe o livro, quando tinha meus 13 anos de idade. Eu penso que estes dois anos ficaram marcados profundamente em mim pelo amor que tinha pelos maristas.

O que eu tinha descoberto em Marcelino e nos primeiros irmãos e que tanto me entusiasmava? A personalidade de Marcelino que emanava dos escritos, sua proximidade com as crianças, com os jovens e os irmãos, seu amor por eles, sua compreensão e afabilidade, sua capacidade de se comover diante das necessidades e sua tentativa para encontrar respostas… e me entusiasmava também o seu projeto, que não era exatamente «seu». Ele tinha um tesouro e não tinha dúvidas de querer fazê-lo chegar aos demais. Para mim, tudo aquilo que descobria eu via concretamente nos irmãos que me cercavam.

Depois disso eu prossegui a escola normalmente, mas sempre cercado pela presença dos irmãos. Começamos a fazer parte de grupos e movimentos de juventude, meu irmão e minha irmã mais velhos eram escoteiros e o menor seguia nossa estrela.

Ao chegar aos 17 anos, alguns fatos, casuais ou não, fizeram renascer em mim com muita força, tudo aquilo que tinha surgido quando eu tinha 12 e 13 anos. Isto é, resumindo em poucas palavras, tive inesperadamente a possibilidade de ser monitor de um acampamento, em seguida participei também de maneira inesperada em um curso para obter o diploma de monitor, e neste encontro nasce por acaso a amizade com um jovem de Lleida, com quem trocava idéias sobre nossos projetos maristas. Falei em minha família sobre a possibilidade de ingressar no noviciado e desta vez a idéia foi aceita. Estive praticamente dois anos no noviciado marista, até que fiz a profissão temporária dos votos. Naquele período, algo me dizia interiormente que meu caminho não era aquele de ser irmão marista. Sempre disse, no entanto, que aqueles dois anos tinham sido fundamentais para a minha identidade marista e para a minha maneira de ser cristão.

Ao deixar o Instituto eu continuei com a idéia de prosseguir no magistério para me dedicar à educação. Isto ficou muito claro para mim: dedicar-me às crianças e aos jovens. Depois de um certo tempo, convencido de que a fé deve ser vivida em comunidade, eu passei a fazer parte de um grupo marista de jovens universitários que se propunha a uma revisão de vida. Termino meus estudos e começo a trabalhar como professor em uma escola leiga. No grupo, animado pelos irmãos Pere Ferré e Emili Turú, iniciamos um processo para formar uma fraternidade do Movimento Champagnat da Família Marista. Ali também encontrei Mercè, a pessoa com quem, depois de algum tempo, eu comecei a fazer um projeto de vida familiar. Ela também é professora e tem uma tradição familiar marista, com uma grande sensibilidade por tudo o que se refere ao social. Ela participou do primeiro campo-missão que se realizou no Paraguai, no ano de 1992.

Depois de dois anos em minha primeira escola, eu vi claramente que o meu lugar era em uma escola marista e quando se apresentou a possibilidade de ser professor na Maristes La Immaculada, de Barcelona, eu não tive dúvidas em tomar a decisão.

Tendo já constituído a fraternidade, Mercè e eu ouvimos as palavras do Ir. Benito Arbués, que na época era o superior geral, pedindo voluntários para ir a Ruanda. Não tínhamos os requisitos exigidos, mas aquilo servia para dar corpo a uma idéia que estávamos alimentando já há alguns anos, isto é, de fazer uma experiência no Terceiro Mundo. Foi assim que, depois de participar de um campo-missão com refugiados bosníacos, no verão de 1995, nos oferecemos aos irmãos para irmos trabalhar como cooperadores internacionais durante um ano. Fomos «destinados» a Mariscal Estigarribia, no pantanal paraguaio, e ali vivemos entre 1996-97 a nossa maior experiência como casal marista. Fizemos parte da comunidade de irmãos e seguimos o seu ritmo em tudo: nas orações, nas celebrações, nos projetos pastorais, etc. Pudemos participar de sua vida comunitária, de suas belezas e de suas dificuldades, em um contexto paraguaio que parecia facilitar tudo isso. Ali participamos realmente de um «mini-noviciado» e cresceu ainda mais nossa estima por tudo o que era marista.

Posteriormente a essa experiência, continuamos o nosso trabalho educativo, cada um em sua respectiva escola, mas com uma pequena mudança. Agora éramos pais. No Maristes La Immaculada eu assumi a responsabilidade da animação e da coordenação do curso primário durante oito anos. Também participo das equipes de administração e de animação da província. Minha identidade marista se concretiza no dia a dia, que é quando procuro viver a realidade com um olhar profundo e confiante, na simplicidade, no espírito de família, na alegria e no amor ao trabalho.

Durante este tempo a fraternidade deixou de funcionar e Mercè e eu buscamos um lugar para partilhar nossa fé. Felizmente encontramos este lugar em nossa própria paróquia, fazendo belas experiências em espaços como a Páscoa familiar e no grupo Kairoi.

Paralelamente, há quem conta conosco para que participemos da equipe provincial de reflexão sobre a identidade marista. Fomos convidados também a participar de um Capítulo provincial. Fruto deste tempo de reflexão, junto com outros leigos, decidimos começar a dar alguns passos para fazer uma conexão de toda a vida marista leiga que existe na Catalunha. A este projeto estamos dando o nome de Movimento leigo marista e a ele dedicamos boa parte de nossas energias, acompanhados pelos irmãos. Entendemos que o laicato tem muitas formas de expressão e que o carisma marista está em muitos corações que batem em sintonia.

A realidade é que o projeto de Marcelino tem ainda validade e está pleno de sentido. O meu sonho é que, desta maneira, a vitalidade do carisma, a vitalidade da missão marista, esteja tanto nos irmãos como nos leigos. Mas, muito bem, devemos enfrentar isto com a mesma atitude de Marcelino, isto é, fazendo o máximo para que o sonho frutifique, sempre conscientes de que não se trata de um projeto «nosso», mas de Deus. Atualmente estamos pretendendo que o laicato marista tenha consciência de sua identidade e que tenha uma identificação com a missão que torne possível este sonho. Também é necessário que os irmãos continuem aprofundando seu relacionamento com os leigos, de forma que este processo seja fonte de enriquecimento mútuo para irmãos e leigos.
Ainda que a prioridade seja, sem dúvida, a missão, eu penso que não devemos deixar de lado os «tesouros» que foram se depositando nos corações de tantas pessoas ao longo da realização desta missão, como nos ex-alunos, nos pais, etc. Estou certo de que estes tesouros são fonte de vitalidade e de entusiasmo para todos nós que estamos em contato direto com a missão de educar e que devem ser canalizados e aproveitados. Eles são, igualmente, uma forma de viver os valores do Evangelho a partir de uma visão marista, ali onde o leigo se encontre.

Pep Buetas i Ferrer, Barcelona, Catalunya, Espanha
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