?Viajeros de Esperanza? – Uma história paralela dos fundadores dos quatro ramos maristas

21/02/2008

Acaba de ser publicado o livro ?Viajeros de esperanza? (Portadores de Esperança), uma tradução ao espanhol, pelo Ir. Carlos Martín Hinojar, da obra ?Travellers in Hope?, escrita em 1994, pelo Irmão Frederik McMahon, da Província de Sídnei. Essa publicação suscita um duplo interesse. Por uma parte, traz a atrativa contribuição de apresentar as vidas dos fundadores e fundadoras das quatro congregações maristas, num mesmo cenário, relacionando-as entre si e oferecendo uma visão sincronizada do que aconteceu nas origens. Por outra, destaca a figura de Marcelino Champagnat, no papel desempenhado para o nascimento dos ramos maristas, o que levou o Papa Bento XV a referir-se a ele como ?co-fundador da Sociedade de Maria?.
Não é um livro a mais, na bibliografia marista, mas é uma obra com características próprias. Escrito num estilo ágil e atraente, atrai a atenção do leitor, desde o primeiro momento. O autor se apóia num esquema de faixas cronológicas, abordando, de maneira sinótica, a história dos pioneiros maristas, relacionando-a, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento da Sociedade de Maria.
A obra se divide em três partes. Na primeira, recolhe as preocupações dos protagonistas que viveram perto uns dos outros, e de alguma maneira trabalharam juntos, animados pelo ideal marista. Na segunda, mostra as histórias desses personagens que, seguindo seus caminhos próprios, perdem um pouco o espírito comum originário que os marcara, para darem maior relevo a seus projetos respectivos. Na terceira parte, apresenta a síntese da história da Sociedade de Maria, de 1845 até 1875, quando morre o Pe. Colin.
Esta edição foi acompanhada pelo Irmão Pedro Herreros, Conselheiro delegado pelo Conselho geral, para manter o contacto e a relação com os irmãos que estudam o patrimônio do Instituto.

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Entrevista com o Ir. Frederick McMahon, autor do livro

O Irmão Frederick McMahon vive em Sídnei, numa casa de irmãos idosos, no subúrbio de Randwick, próximo ao ?Marcellin College?. Em sua vida marista foi professor na escola secundária, ensinando Religião, História, Inglês e Francês. Em 1985, os superiores convidaram-no a transferir-se para L?Hermitage para pesquisar sobre as origens maristas e com o objetivo de escrever uma biografia popular de Champagnat. Entretanto, antes de chegar a L?Hermitage, mudaram os planos e terminou indo a Roma, porque soube que a maior parte do material necessário para a pesquisa havia sido transferido para lá, formando parte dos arquivos gerais do Instituto. Nesse entretempo, escreveu uma pequena biografia sobre Marcelino, intitulada ?Stronger Mind, Gentle Heart?. Depois disso, continuou a investigação e escreveu um livro para os peregrinos que vão aos lugares maristas, na França, terra de Marcelino. O título dessa obra é ?Marist Milestones?.

AMEstaún. Em meio a todos estes trabalhos de pesquisa, o senhor concebe uma nova idéia. O material encontrado inspira-lhe um projeto novo?
Frederick McMahon.
Sim, tive a idéia de escrever sobre os quatro ramos da Família marista. Isso me pareceu interessante porque minha pesquisa e nossas peregrinações estavam centralizadas em l?Hermitage, ao sul da Lyon, e não tínhamos considerado o território ao norte de Lyon, onde estavam os Padres e as Irmãs maristas.
Quando refletia sobre isso, fiz uma peregrinação especial, com um grupo constituído por irmãos, padres e irmãs maristas e por irmãs maristas missionárias. Pediram-me de acompanhar o grupo, na peregrinação pela França. A partir dessa experiência, concluí que seria útil escrever algo sobre as quatro congregações e sobre seu desenvolvimento. Assim, de volta a Roma, dediquei-me a esse trabalho.

Foi fácil harmonizar as quatro vidas paralelas? Como conseguiu organizar a reflexão em torno de vivências tão diferentes?
Organizei meu trabalho considerando, aproximadamente, períodos de cinco a dez anos, analisando e escrevendo o que acontecia em cada grupo, durante o período concreto. O resultado dessa pesquisa é o livro chamado ?Travellers in Hope?, traduzido agora ao espanhol com o nome de ?Viajeros de esperanza?. Os protagonistas são os fundadores das congregações maristas.

Quando escreve sobre Champagnat, que sentimentos despertam em seu interior?
O estudo de Champagnat levou-me a admirá-lo. Quanto mais investigo sua vida, tanto mais me encanta. Ao contemplar as dificuldades que enfrentou, descubro como e quanto confiou em Deus. E mais, observo como sua personalidade lhe acarretou problemas, especialmente em sua relação com as autoridades. Sua inibição não era apenas fruto de alguma carência provocada pela deficiente escolarização inicial, mas também do profundo respeito que tinha para com as autoridades, mormente eclesiásticas. Deve ter sido difícil negociar com as autoridades e tratar das questões mais espinhosas do Instituto. Penso que Marcelino não se sentia à vontade, quando tratava com altas autoridades, tanto eclesiásticas quanto civis, e inclusive com pessoas muito instruídas.
Gostaria de fazer algumas apreciações sobre seu caráter e seus sentimentos mais profundos. Temos algumas cartas famosas, escritas entre 18826-27, em que transparecem essas características. São quatro cartas escritas às autoridades (cartas 3-7), nas quais pede ajuda, depois dos grandes problemas ocorridos com os padres maristas Courveille e Terraillon, em l?Hermitage. Temos também uma carta, creio de 1834, em que podemos ver a marca das lágrimas que Marcelino derramou, enquanto escrevia. Isso basta para mostrar que nosso Fundador era uma pessoa com marcados sentimentos. E, como disse, quanto mais o estudo, mais aumenta minha admiração por ele.

Quais os principais documentos para sua pesquisa? Onde se inspirou?
Minha principal fonte de pesquisa são os quatro volumes da obra ?Origines Maristes?, em que os padres J. Coste e G. Lessard colecionaram e organizaram numerosos documentos maristas. Esses documentos são fundamentais. Apoiei-me também nas biografias que li sobre Champagnat e em algumas notas organizadas, desde os anos 70. Foram essas as minhas principais fontes para escrever o livro.

Nas páginas que escreveu sobre a realidade marista, sem dúvida, deve ter encontrado algum episódio mais impressionante ou então, sintonizou mais com algum personagem peculiar? Que descoberta impactou sua pessoa?
Penso que, na elaboração do livro, a passagem referente a Courveille é marcante. É notável sobretudo sua ?ressurreição?, isto é, o fato de voltar ao bom caminho e de colocar novamente suas qualidades e seus talentos de sacerdote a serviço dos demais. De fato, possuímos cartas de párocos que elogiam seu trabalho missionário, nas paróquias.

Quanto tempo levou para escrever seu livro?
Não lembro bem, mas em torno de um ano e meio. Enquanto estava em Roma, não pude dedicar-me apenas a escrever o livro, pois realizava outros serviços na Casa geral.

Sua pesquisa encontrou novidades? Qual foi a maior surpresa, em relação com as outras congregações maristas?
Uma coisa que me surpreendeu foram as qualidades demonstradas por Colin; primeiro, ao superar as dificuldades iniciais, apoiando-se em Maria e fazendo dessa confiança a força motriz de sua vida. Ademais, destaco sua capacidade de organização e de ajustar as coisas de modo acertado. Naturalmente, estamos diante de um homem que também tem limites. Para dar um exemplo: O tratamento que dispensou à irmã Jeanne-Marie Chavoin não é bem aceito por nós, hoje. Pode ser atribuído à sua formação e à mentalidade da época. Colin é uma grande figura e tinha, em Maria, a inspiração de sua vida.
Em relação às congregações maristas, em geral, apareceram muitas coisas novas para mim. Na verdade, eu tinha um conhecimento muito geral das outras congregações maristas, quase superficial. A pesquisa ajudou-me a melhorar meu conhecimento. Em termos globais, impressiona o sonho da Sociedade de Maria, tal como o anunciou Courveille, no seminário, e o concretizaram Colin, Champagnat, Chavoin e uma missionária independente, Marie Françoise Perroton, através das irmãs missionárias. Existia a Socidade de Jesus. Por que não, uma Sociedade de Maria?

Pensa em escrever algo mais sobre Champagnat? Qual é o próximo projeto?
Estou escrevendo alguns estudos sobre a relação de Champagnat com Colin, Courveille, Pompalier, Cattet e os bispos Jean Paul Gaston de Pins e Alexandre Raymond Devie. Os estudos estão em dia e tenho o material gravado num CD.
Gostaria também de escrever sobre Champagnat e Mazelier, Champagnat e Ferréol Douillet. Desejo também estudar as cartas de Champagnat para descobrir seu processo de crescimento espiritual e humano. Mas, é um projeto futuro.

Em sua opinião, o que precisariam descobrir os leigos, em termos de patrimônio espiritual marista, para poderem envolver-se mais na vida do Instituto?
Agora que falamos em vocação marista, não exclusiva ao religioso irmão marista, parece ser muito importante os leigos descobrirem as qualidades de Marcelino e as de outros maristas, enquanto pessoas espirituais e humanamente marcantes. Esse estudo e cultivo poderá ajudá-los a enriquecer suas vidas e a desenvolver sua própria espiritualidade e suas qualidades humanas. Como temas de estudo sobressaem a história marista e a história do apostolado marista. Ajudará a dar sentido para a própria missão e a imitar o que descobrem na história marista.

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Entrevista com o Ir. Pedro Herreros

O Irmão Pedro Herreros, Conselheiro geral, é encarregado pelo Conselho geral para coordenar as políticas do Conselho para as atividades do Comitê do Patrimônio, que dedica esforços, tempo e coração a pesquisar em torno de nosso Patrimônio marista. Através dele chegou à direção de Comunicações a decisão de imprimir o livro ?Viajeros de esperanza?, escrito pelo Ir. Frederic McMahon. O livro se tornara conhecido na língua original. Alguns irmãos de língua espanhola que o tinham lido, em inglês, descobriram o valor das contribuições trazidas pelo Ir. MacMahon. O Ir.
Pedro, em interessante conversa, mostra como este livro chegou aos irmãos de língua espanhola.

AMEstaún. Como e por que foi promovida a edição espanhola do livro ?Travellers in Hope??
H. Pedro. Em Roma, temos o costume de reunir representantes das quatro congregações maristas, para partilhar sobre nosso patrimonio espiritual. Cada congregação apresenta a situação das pesquisas sobre o patrimônio, em sua família, e os esforços feitos para incluir, na formação inicial e permanente, o estudo das origens carismáticas. Um participante desses encontros resumiu assim sua experiência: ?o conhecimento das origens de cada uma de nossas congregações não é possível sem referência obrigatória e iluminadora às origens das outras?.
O Comitê do Patrimônio do Conselho geral dos irmãos maristas sugeriu publicar a tradução da obra do irmão Frederick McMahon, escrita em 1994, para tornar conhecida, entre os leitores de língua espanhola, essa visão iluminadora de nossas origens, no contexto de um projeto comum.

O livro do Ir. MacMahon foi concebido na conjuntura de uma peregrinação que o autor fez aos lugares maristas, acompanhando um grupo de irmãos, padres, irmãs maristas e irmãs maristas missionárias. O senhor acredita que essa obra vem preencher um vazio em nossa bibliografia institucional?
É possível encontrar biografias de Jean Claude Colin, de Jeanne Marie Chavoin, de Marcelino Champagnat e das pioneiras fundadoras das irmãs maristas missionárias. Mas é difícil encontrar um relato que apresente, ao longo das diversas etapas de concretização do projeto fundador, a relação entre os protagonistas, suas influências recíprocas, o papel de co-fundador que desempenharam uns em relação aos outros. Além disso, apresentado como uma trama que se tece e constrói, ante os olhos atentos do leitor. Este é o mérito da obra do Ir. McMahon, situando-nos numa perspectiva esperançosa, pois, se nossos fundadores ?não conseguiram levar a bom termo seu sonho primeiro, transmitiram, no entanto, um espírito e uma história aos que vieram depois?.

Um dos aspectos delicados da transposição das ideáis de um idioma para outro é encontrar a pessoa que se encarregue da tradução. Como encontraram a pessoa adequada?
A cuidadosa tradução do irmão Carlos Martín Hinojar, a que estamos acostumados, desde sua chegada a Roma, como tradutor oficial à língua espanhola, permite-nos desfrutar esse tesouro, em nossa própria língua. Carlos realizou essa tarefa ao mesmo tempo em que se dedicava às tarefas ordinárias de sua função, que não são poucas. Obrigado, por este esforço extra!

Que futuro deseja para essa nova obra, entre irmãos e leigos?
Penso que serão muitos os irmãos e leigos que poderão crescer no amor à sua vocação marista, graças à leitura que lhes oferecemos. Permitir-lhes-á de aprofundar o conhecimento de Marcelino Champagnat, nesse contexto de seu camimhar junto com os outros fundadores maristas e com a Igreja, na França, durante o século XIX.

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