11 de junho de 2009 FRANçA

Que toda a terra seja marista

Aos 60 anos de idade e totalmente cega, subindo por escadas, saltando muros com mais de um metro e meio e rastejando sob fios elétricos, não foi o que eu sempre sonhei fazer. Mas foi exatamente o que eu fiz, durante as três semanas que passei em Saint-Paul-Trois-Châteaux. Foram obstáculos fáceis de ultrapassar, porque as pessoas do grupo que me cercavam, ajudaram-me sempre de um modo muito concreto.

Quando o nosso provincial me consultou, para saber se eu gostaria de ir à França participar do seminário de três semanas sobre a formação conjunta marista, eu apenas sorri, dizendo ?sim?, sem considerar seriamente os detalhes que envolviam a decisão. Meu único companheiro proveniente do Sri Lanka seria um jovem irmão marista.

Eu tive consciência da situação real que estava vivendo quando tive que providenciar os vistos. Eu fui acompanhada do Ir. Chinthana, que eu conhecia de nome, mas a quem eu nunca tinha encontrado antes. Eu tive medo de três coisas: que ele fosse um irmão religioso, que ele fosse jovem demais e que não tivesse experiência de lidar com pessoas cegas.

De qualquer maneira, nossa viagem para providenciar os vistos correu bem e os documentos foram obtidos em quatro dias. O receio a respeito do meu companheiro estava diminuindo e alguns raios de confiança e segurança nele estavam surgindo em mim.

Mas, ainda teria que enfrentar o clima social na França. Estava claro, pelo nome dos participantes do encontro, que o grupo era formado de nove irmãos, sete leigos ? quatro mulheres e três homens, incluindo a mim. Isto não me soou muito encorajador, pois pensava que havia religiosos demais.

Brisas agradáveis de amizade foram soprando entre nós, já desde a viagem que nós, os participantes do encontro, fizemos em um ônibus especial que nos levou da estação ferroviária de Lyon até Saint-Paul-Trois-Châteaux. O clima caloroso da acolhida prosseguiu durante os dois dias de integração, que conseguiram aproximar-nos uns dos outros, em todos os momentos do dia. Minhas apreensões e medos desapareceram rapidamente e percebi que todos, em torno a mim ? irmãos e leigos ? estavam fazendo o melhor que podiam para que tudo se tornasse fácil e confortável para mim, sem qualquer sinal de esforço ou constrangimento.

Nas refeições, nas orações, nas sessões, no que se referia às acomodações, todas as minhas necessidades eram satisfeitas sem que precisasse pedir. Eu era sempre alguém especial. A compreensão das minhas dificuldades e as respostas que davam a elas deixaram-me sempre muito emocionada.

Quando saíamos, e especialmente durante as peregrinações, experimentei a alegria do carinho e do zelo humano. Isto fez com que eu me esquecesse do meu cansaço físico, da minha deficiência e da minha idade, e caminhei assumindo qualquer risco desconhecido, satisfeita como uma criança, cercada dos meus zelosos companheiros. Não havia obstáculos com esta comunidade.

A única razão para isso era que eu estava vivendo em uma comunidade exclusivamente marista. Como seria maravilhoso se todo o mundo se tornasse marista! Pessoas com suas várias deficiências poderiam ainda se alegrar em suas vidas terrenas. E NINGUÉM seria desprezado ou esquecido num mundo assim. O grupo de Saint-Paul-Trois-Châteaux realizou praticamente o ideal de uma comunidade marista viva, como está descrita no artigo 110 de ?Água da rocha?.

Com estas palavras, eu gostaria de apresentar meu caloroso agradecimento ao provincial da Ásia Sul e a todas as pessoas ligadas ao programa de formação conjunta, por terem sido tão receptivos ao entusiasmante carisma de Marcelino e, consequentemente, por me proporcionaram a oportunidade de apreciar essa maravilhosa e rica experiência.

Para concluir esta breve manifestação, cheia de sentimentos de gratidão e de apreço, penso que o mais apropriado é invocar a acima mencionada mensagem de ?Água da rocha?.

?Como Irmãos e Leigos Maristas, desenvolvemos uma qualidade de comunhão que permite às famílias, comunidades religiosas e outras formas de vida comunitária de se transformarem em lares que ajudam os jovens a crescer, onde se cuidam os idosos e se manifesta um carinho especial para os mais fracos. São verdadeiros lares onde existe em abundância o óleo do perdão para curar as feridas e o vinho da festa para celebrar tanta vida partilhada.? (n° 110)

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Kamala Xavier (Sri Lanka)
(participante da experiência de Saint-Paul-Trois-Châteaux)

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