
Recordando o terremoto
No dia 12 de janeiro foi recordado o trágico aniversário do terremoto que, há dois anos, destruiu a cidade de Porto Príncipe e causou milhares de mortes. Naquele momento, muitos donativos do mundo inteiro chegaram à FMSI para socorrer a população haitiana, submetida a grandes sofrimentos. Em diálogo com os Irmãos Maristas do Haiti e com os outros centros de coleta de fundos do México Ocidental (Oficina de solidariedade), Canadá (Fundação Missão Marista) e Espanha (SED), decidiu-se concentrar os donativos num fundo comum destinado a reformar escolas e a realizar programas de formação para crianças e jovens. Atualmente, estão em andamento três projetos e outro está para começar. Desejamos partilhar com vocês os resultados obtidos.
O primeiro projeto foi levado a efeito em Merceron, perto de Porto Príncipe, em colaboração com a Congregação das Irmãs de Jesus-Maria, e com a ONG SED. O objetivo da intervenção é o desenvolvimento de atividades educativas, na região, mediante a construção de uma escola primária e a formação dos professores. Merceron é um dos povoados da região rural de Thomazeau. A distância até a rodovia que vai a Porto Príncipe e as más condições do asfalto mantêm a população isolada e na pobreza. Nessa área o analfabetismo é muito grande bem como o abandono escolar. Antes desse projeto, as crianças de Merceron precisavam percorrer mais de 10 km por dia para chegar à escola mais próxima. Depois da construção do novo prédio, os alunos chegaram a ser 240, em poucos meses. A taxa de escolaridade, nessa região, subiu de 100%! A presença de uma instalação de água potável garante não apenas o acesso à água, mas também a realização de programas de higiene e de educação sanitária. Graças a isso, foi possível controlar a difusão da cólera.
A população local está orgulhosa em poder contar com um centro educativo em seu território, que se está transformando em ponto de referência para outras atividades. A própria comunidade local colocou à disposição o terreno para a escola e colaborou durante a construção. Os pais de alunos criaram uma cooperativa para a venda do arroz e uma parte da arrecadação é destinada a cobrir as despesas da escola e o salário dos professores.
Uma vez por semana são organizados cursos de formação para professores de que participam até de outras regiões. O projeto está, pois, produzindo consequências positivas para outras escolas que podem contar com pessoal melhor formado e com melhores atividades didáticas. Trata-se de garantir não apenas a presença de novas estruturas acadêmicas, mas também de melhorar a qualidade do ensino.
No mesmo rumo vai o segundo projeto, cofinanciado pela Província marista do México Ocidental, para ampliar a estrutura da escola secundária “Nativité”, em Dame-Marie. Essa escola, com 368 alunos, é, há muitos anos, um ponto de referência para a formação dos jovens da região, mas as estruturas eram cada vez menos adequadas para receber um número crescente de alunos e para oferecer formação atualizada. Graças ao projeto, que está na última fase de concretização, a escola conta com novas aulas, um laboratório de Ciências e de Informática, além de infraestruturas para as atividades desportivas que estarão à disposição dos jovens da região. “Já tínhamos a qualidade educativa; faltava apenas um edifício mais digno do nosso renome”. Assim se expressava o diretor do Colégio “Notre-Dame de la Nativité”, em Dame-Marie. “Neste ano, com a ajuda da FMSI, poderemos reforçar a experiência educativa de nossos alunos com o laboratório de ciências, a biblioteca e outras áreas de serviço que estão sendo construídas. O que mais entusiasma os alunos são as novas áreas desportivas… Na verdade, estamos fazendo um notável esforço para bem educar nossos alunos haitianos.”
O terceiro projeto é a “escola da tarde”, destinada à alfabetização e à reinserção escolar de crianças com necessidades especiais. Com o Fundo Haiti foi possível ampliar esse programa iniciado pelo Ir. canadense, Laurent Beauregard no Colégio Alexandre-Dumas a Latibolière. Muitas crianças da “escola da tarde” trabalham como “empregadas domésticas”, em famílias às quais foram ‘confiadas’, devido à sua condição de orfandade ou proveniência de famílias muito pobres. Para essas crianças é quase um sonho poder ir à escola, dado que estão ocupadas todo o dia, em trabalhos cansativos, em casa e nos campos, beirando, inclusive, a escravidão. Algumas não poderiam nem mesmo ser matriculadas, por não terem certidão de nascimento.
Os Irmãos Maristas visitam as famílias que acolhem essas crianças e insistem para que reconheçam o direito delas à escola. Ao mesmo tempo sensibilizam a comunidade local, encorajando-a e identificar outras crianças que poderiam participar e ser incluídas no programa. A escola oferece aulas de ensino primário (1º e 2º ano) para que as crianças possam adquirir conhecimentos e capacidades suficientes para serem inseridas nos cursos escolares normais. É uma satisfação poder dizer que conseguem resultados muito bons, em alguns casos melhores do que aqueles dos outros alunos.
As aulas são dadas pela tarde, durante três horas. Foi previsto também uma alimentação com mais calorias para superar a subnutrição e favorecer o ensino e as atividades lúdico-recreativas. As crianças podem seguir as normas higiênicas que previnem algum novo contágio de cólera. Aquelas que não tinham documentos foram inscritas no registro civil.
A atividade educativa está sempre relacionada com o trabalho de assistência e de promoção social, para que a educação tenha maior eficácia em as condições de vida das crianças. Muitas das dificuldades de aprendizagem provêm da subestima, porque se consideram “menos capazes que as demais”. O programa intenta fazer com que essas crianças não se considerem “abandonadas”, mas sim, cuidadas do melhor modo possível. Por isso, nenhum curso tem mais do que 40 alunos.
O projeto que vai começar tem como objetivo a criação de um centro juvenil, na cidade de ‘Jérémie’, o maior centro do Departamento de Grand’Anse, onde chegaram muitos refugiados do terremoto para pedir hospitalidade a parentes e amigos, complicando muitas vezes a situação já difícil economicamente.
Os jovens são os mais sensíveis à situação de insegurança que ainda impera no país. Quereriam ser protagonistas de um novo futuro, mas não sabem como. Jérémie carece de espaços para reuniões, para participar e promover iniciativas. Muitos desses jovens não receberam formação que lhes permita encontrar ocupação. Por isso, pareceu-nos muito importante ajudar a buscar um lugar para eles. Um centro de acolhida, com espaços para toda sorte de atividades, inclusive com aulas de reforço escolar para crianças que abandonaram a escola, cursos de alfabetização para adultos e formação de professores.