Recriando em conjunto a vida marista
Saudação final aos participantes da Experiência Internacional de Processos de Formação conjunta e Vitalidade Carismática, que se realizou em de Saint-Paul-Trois-Châteaux, entre os dias 26 de Abril e 18 de Maio.
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Queridos Irmãos e Leigos Maristas. Chegamos ao fim desta experiência única e inovadora na história do Instituto. Estamos dando os primeiros passos na realidade que queremos ver cada vez mais implantada no Instituto: a formação conjunta de Irmãos e Leigos Maristas para recriar em conjunto a vida marista. É um desafio que o Instituto e o mundo marista têm diante de si. Actividades como a de Quito e a de São Paul Trois Châteaux são um primeiro e belo exemplo de que o Instituto quer e é capaz de responder a esse grande desafio.
Praticamente todos sublinharam, ao longo destas três semanas na pequena frase que vos pedia elementos que é bom reter. Elas são de grande importância para a renovação de vida marista que todos queremos ver crescer, não só em quantidade, mas sobretudo na qualidade dos seus membros, Irmãos e Leigos.
A qualidade e a riqueza da partilha ao longo destas três semanas. Partilhámos a Palavra de Deus na Eucaristia e na oração. Estamos convencidos de que sem ela a nossa caminhada conjunta não teria o apoio e arrimo do que lhe dá força e sustento. Não é sem razão quer os autores de Água da Rocha propõem a Lectio Divina ou a Meditação da palavra de Deus como uma prática importante para a nossa espiritualidade marista. Na palavra de Deus encontramos a força para avançar, mesmo no meio das maiores dificuldades. Partilhamos a nossa vocação marista. Nessa partilha pudemos ver a riqueza do que nos anima a caminhar em conjunta. Mas vimos também os desafios que se colocam diante de nós para manter vivo e desenvolver o carisma marista com tudo o que isso implica a nível de missão, de espiritualidade, de comunidade. E partilhamos também, talvez de modo mais informal a nossa própria vida. Já o tínhamos feito na apresentação mútua que fizemos logo no início da sessão. Continuámos a fazê-lo, talvez de modo mais informal ao longo da sessão. E descobrimos em nós uma grande riqueza que pode e deve ser posta ao serviço do mundo marista. Algumas das dinâmicas que vivemos ao longo destes dias em conjunto dizem-me que não nos faltarão ideias nem energia para partilhar nas nossas províncias o que vivemos aqui.
Atentos à voz do Espírito. Foi outra ideia que apareceu fortemente na oração e na partilha. E a oração da manhã do dia 15 lembrou-nos precisamente o texto de Lucas em que o Espírito do Senhor unge aquele que é enviado em missão apostólica. Com o fogo à nossa frente pudemos sentir o calor do Espírito e tocar quase fisicamente a sua ?chama?, a sua força transformadora quando nos tornamos a sua morada. São Paulo nos lembra que somos a morada do Espírito de Deus, o templo onde Ele habita. O que quer dizer que toda a nossa vida é marcada pelo Espírito de Deus. Mais ainda somos seus mensageiros, damos vida e visibilidade à sua presença no mundo. Para o dizer em termos mais clássicos e mais teológicos Ele, o Espírito de Deus é a fonte da nossa missão e da nossa espiritualidade. Ele unifica essas duas dimensões da vida marista: a missão e a espiritualidade. Nele, adquirem o seu pleno sentido, nele se tornam fecundas, portadoras de vida. Era o que dizia ainda o nº 129 de Água da Rocha que rezávamos também: ?A espiritualidade convida-nos à missão?A missão integra-se no projecto de Deus?. Na prática isso quer dizer que ser marista, Leigo ou Irmão, é viver do e no Espírito de Deus. Sem ele não há missão nem espiritualidade. Um de vós escrevia: ?Vivo esta experiência com a forte convicção de que o mundo marista consiste num conjunto de homens e mulheres, Leigos e Irmãos, generosos, cheios de fé, que continuamente acolhem o Espírito Santo nos seus corações e nas suas mentes?. Isto é um autêntico programa de vida para todo o marista. É uma alegria saber que aderimos a esse programa de alma e de coração.
Outro ponto sublinhado nos nossos encontros é a presença de Champagnat em nossas vidas, tanto a nível apostólico como espiritual. Descobrimo-lo como um pai, afectuoso, terno, mas decidido. Saint-Paul-Trois-Châteaux poderá não ter sido o lugar mais funcional para uma experiência destas. Permitiu-nos contudo de fazer uma verdadeira peregrinação aos lugares maristas. O eco dessa peregrinação é que todos voltamos mais enriquecidos. Mesmo as pedras destruídas de L?Hermitage escondem nova vida marista que está para nascer. Uma nova aurora se anuncia. E nela, precisamente, Irmãos e Leigos terão um lugar de relevo. Mas é sempre Champagnat que continua a iluminar os nossos caminhos, a fortalecer as nossas esperanças e nos ajuda a responder aos desafios que se apresentam. E são muitos, no futuro que se aproxima. A nossa experiência conjunta mostrou-nos alguns. É possível que outros apareçam. Outros ainda podem ser particulares das nossas próprias províncias ou regiões. Partimos daqui, mais fortes e mais cientes de que toda a nossa vida deve ser marcada por Cristo, por Maria. Fora deles dificilmente podemos ser maristas. Mas partimos também com a certeza de que só em Champagnat, seguindo as suas pisadas, as suas intuições e a sua espiritualidade, poderemos construir um futuro verdadeiramente marista. Adaptado às mais diversas situações culturais. Ele convida-nos a olhar ao longe sem medo das diferenças. Mas sempre e em todo o lado centrados em Cristo, como ele fez.
Vivemos uma expressão de fé. Este ponto sublinhado por tantos de vocês pode ser visto e sentido de diversas maneiras.
Na própria vida de oração e de eucaristia que aqui vivemos ao longo destes dias. Não podíamos responder melhor ao convite que nos faz o nosso livro de espiritualidade Água da Rocha. De facto, ele nos fala frequentemente da fé como fundamento da nossa vida espiritual. Convida-nos a partilhar a fé (cf nº 84) e todo o ensinamento do capítulo II é um convite a ?Caminhar na fé? como Maria. Na fé facilmente encontramos Maria e Maria nas nossas vidas, pondo assim em prática outro traço característico da nossa espiritualidade: a nossa relação especial com Maria. Este aspecto também foi fado frequentemente no nosso encontro.
Pode ser visto também na decisão, na força e na vontade que todos mostramos nestes dias de querermos fazer nascer uma nova vida marista. Esse era bem o objectivo do nosso encontro: recriar em conjunto a vida marista. Usando uma expressão tão querida ao nosso santo Irmão Basílio, citando Yves Congar, creio que todos partimos daqui com o desejo veemente de ?ajudar a aurora a nascer?. A aurora do novo mundo marista que já desponta. Como o profeta Isaías poderemos talvez dizer: ?Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora, não penseis mais no passado, pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o notais?? (Is 43, 18-19) A resposta a esta pergunta isaiana só pode ser dada na fé.
Concretizando o ponto anterior, a nível Marista, pareceu-me sentir, ouvir e acabei por vê-lo escrito em algumas das vossas reflexões, a seguinte certeza que me dá muita alegria: ?Somos pessoas comprometidas que queremos tornar vivo o sonho de Marcelino?. Esta afirmação é um acto de fé que depois se traduzia em aspectos bem mais práticos: capacidade de dar parte do nosso tempo à obra marista; disponibilidade para os projectos da província; atenção ao despertar das vocações tanto para Irmãos como para leigos maristas; escuta dos sinais dos tempos na Igreja e no interior do mundo marista; desenvolver programas de formação conjunta; lançar iniciativas que rompem os medos do passado; respeitar e ver as diferenças como uma riqueza; evangelizar a cultura?e talvez muitos outros pontos que não anotei e vocês partilharam. Mas estes já são suficientes para dizer que a fé que aqui vivemos e que apareceu espelhada em muitas das nossas partilhas e em alguns dos nossos escritos é uma fé operante. Como aquela a que se referia Santiago quando dizia: uma fé sem obras é uma fé morta. Sei que voltamos às nossas províncias querendo ser homens e mulheres de fé e de fé operante.
Tudo isto que dissemos e partilhamos ao longo destas três semanas é de uma grande exigência. Foi uma descoberta nossa e, certamente, vai guiar nossas vidas ao regressar às nossas províncias.
Contudo, gostaria, em jeito de apelo e de mensagem, dizer-vos que o Instituto através da sua realidade expressa nos seus documentos nos pede muito mais. Eleva esta exigência a um ponto muito alto. E é bom estarmos consciente disso. Certamente os documentos apontam para um ideal. Mas é um ideal ao qual somos chamados, Leigos e Irmãos. Um ideal possível, portanto. Um ideal que, em todo o caso, nos convida a caminhar na fé abrindo-nos continuamente à novidade do Espírito.