Ir. Virgílio, uma personalidade especial
Foi em Ciriza, Navarra, que no dia 3 de julho de 1891, Trifon Nicasio Lacunza Unzu (Irmão Virgilio) nasceu.
Em 17 de março de 1903, seu irmão mais velho, o irmão Sixto, o conduziu ao juvenato de Vich. Desde então ele vai seguir as etapas normais da formação marista. Em 15 de agosto de 1912 emite os votos perpétuos, confirmados pelo voto de estabilidade em 17 de julho de 1926.
Brilhante nos estudos, ele obtém o diploma de professor em 1908, e o diploma superior em 1916, o bacharelado em 1920 e, enfim, a licença em filosofia com história e geografia, em 1923.
Em outubro de 1908, ele é enviado para o colégio de Burgos, onde permanecerá ininterruptamente até 1935. Em 1925 é nomeado diretor desse Colégio, que conta com 638 alunos. Quando o irmão Virgilio deixa o Colégio, o número de alunos havia duplicado. Mesmo durante os anos difíceis da perseguição, o número de alunos continua crescendo; uma nova capela foi construída, assim como uma sala de teatro, novas salas de aula, e novos cursos foram abertos.
Em 1935, o irmão Virgilio se encontrava em Grugliasco para o segundo noviciado. Mesmo assim ele é nomeado como vice-diretor. Em 1936, o colégio de Murcia o tem como vice-diretor. A intenção dos superiores é prepará-lo para substituir o irmão Laurentino e também ajudá-lo no governo da Província.
Quando começa a revolução em 19 de julho de 1936, o irmão Virgilio se encontra em Barcelona, em uma das escolas. Ele escapa dos anarquistas jogando-se pela janela.
O irmão Laurentino lhe pede para encarregar-se da saída dos jovens irmãos em direção à França. Em 2 de outubro de 1936, ele se encontra em las Avellanes, com Ordaz, um dos chefes da F.A.I. No dia 4 de outubro, os jovens irmãos passam a fronteira. Os outros irmãos, no entanto, são presos, conduzidos a Barcelona, colocados no navio O Cabo Santo Agostinho, depois na Cheka (prisão) Santo Elias. Virgilio é um dos 46 irmãos que, no silêncio das primeiras horas da manhã de 08 de outubro de 1936, são fuzilados: mártires envoltos de noite e de silêncio.
Uma rica personalidade
Os numerosos testemunhos sobre a pessoa do irmão Virgilio iluminam sua rica personalidade.
– « Sua autoridade sobre os alunos era absoluta, mas, ao mesmo tempo, amável. Ele inspirava confiança, encantava os alunos por sua eloqüência…”
– Em comunidade ele tinha “a devoção do trabalho”, essa aptidão ao serviço, sendo sempre o primeiro a chegar ao local de trabalho.
– « Sua maneira de vida austera consolida seu caráter, educa sua vontade, obriga-o à autodisciplina e o prepara para prestar todo tipo de serviço.”
– Desde que terminou os estudos, foi-lhe pedido que redigisse um trabalho sobre História Universal. A partir desse momento ele não mais deixou de colaborar com as publicações da editora Luis Vives.
– Quando os Superiores o nomearam diretor de Burgos, ele pôs-se a chorar: via-se como o mais incapaz da comunidade.
– Falava da Virgem Maria de uma maneira que denotava um autêntico lirismo. A Mãe do Senhor o atrai e voltando os olhos suplicantes e confiantes para ela, diz: “Faz com que jamais me falte teu socorro e que agora e sempre teu amor me encante, me irradie, me cative, me fascine, me seduza o coração, me embeleze, me surpreenda, me extasie e me conduza para as alturas…”
– Era amigo da alegria e do bom humor: « Era um companheiro junto do qual encontrávamos coragem, esquecíamos as dificuldades do dia, renovávamos as energias para o dia seguinte. Nos momentos de recreação, ele era um brincalhão que nos fazia rir e, assim, acabar com as tensões.” Um coirmão que o conheceu durante o segundo noviciado, lembra-se dele assim: « De relacionamento agradável, alegre nas conversações, entusiasta para o trabalho, empreendedor em todas as iniciativas. Durante nossos passeios, recreações, excursões, ele manifestava espírito de família e simpatia. Sua alegria sadia e seu bom humor encantavam todo mundo, e fazia rir, mesmo os mais sérios. Trabalhador incansável, assíduo e simples na realização dos seus trabalhos… Sua simplicidade e seu caráter sociável lhe angariavam a afeição e a admiração de todos.”
– Um coirmão cuja doença o forçou a ficar de cama durante um ano, testemunha que o irmão Virgilio visitava-o várias vezes durante o dia, como se ele não tivesse a responsabilidade da direção da escola.
– Ele era bastante humilde e prudente para estar aberto aos conselhos das pessoas, mesmo dos professores que começavam a se informar junto aos irmãos que chegavam de outros colégios, para conhecer os métodos que eles haviam aplicado com sucesso.
– Tornou-se um especialista como « operador de cinema ». Desde 1918, durante os longos domingos de inverno, quando era possível sair, ele realizava projeções de filmes para os alunos, seguidas de debates sobre os valores artísticos e morais. Insistia junto aos Superiores para que o colégio fosse equipado dos melhores instrumentos para filmes sonorizados. Justificava assim as sessões de cinema: “É um meio excelente para preservar as crianças e os jovens, e para fazer o apostolado.”
– O irmão Virgilio havia também organizado a associação do apostolado da oração, a confraria do Menino Jesus de Praga, os discípulos de São Tarcísio, os adoradores do Santíssimo Sacramento, e fazia, todos os anos, exercícios espirituais com os alunos.
– Em 1932 a Companhia de Jesus deixou a Espanha. Diante da ameaça evidente de perseguição, o irmão Virgilio criou a sociedade civil, “A Cultura”, e, por contrato, passa a essa sociedade, o colégio dos irmãos, que assume um novo nome: “Liceu Zorilla”. Os professores são leigos e maristas secularizados, sem batina e não sendo mais chamados pelo nome de irmão. Da mesma maneira foram colocados em segurança o museu, a biblioteca e o mobiliário. Em setembro de 1933, os irmãos maristas não existem mais em Burgos, como professores. O irmão Laurentino acha essa iniciativa genial e a propõe a todas as escolas maristas, com essas palavras: “Acalmar-se, resistir e salvar, se possível, todas as nossas obras.” .
– Apesar de todos os perigos reais, o irmão Virgilio vai a Barruelo para reconhecer o corpo do irmão Bernardo. Ele vê a perseguição como um sinal da Providência: “As revoluções são lanternas da Providência, luz enviada por Deus para iluminar o caminho da nossa atividade futura, batidas fortes que o Senhor dá sobre a porta do nosso coração para que ele queime de amor pelo próximo, pelos alunos, pela sociedade e a Pátria.” Em uma outra reflexão, ele acrescenta: “As revoluções são o fruto das idéias. As idéias são semeadas nas escolas, e hoje, as pessoas estão mais engajadas do que nunca. A escola é a oficina onde se forja, da mesma maneira, tanto o homem íntegro e digno, como o criminoso mais vil.”
– De maneira mais precisa, ele repetia aos seus colaboradores: “Eu falo por experiência; as idéias que eu proponho aos meus caros colegas professores do secundário, não são utópicas. S.E.T.O. = Seto. Sacrifício, estudo, trabalho, oração, cujas iniciais formam a palavra seto (cerca), são as qualidades que devem possuir todo educador de uma boa causa. Nós todos devemos ser como uma cerca viva para proteger a alma das crianças… Em nome da religião, da Pátria, da alma dos nossos alunos, eduquemos, cristianizemos.
Além do martírio, encontramos no irmão Virgilio a qualidade um santo simpático e próximo de nós.