?Todas as dioceses do mundo entram em nossos planos…?
Quando Marcelino escreveu, em sua carta de 15 de fevereiro de 1837 a Mons. Philibert de Brouillard, bispo de Grenoble: “todas as Dioceses do mundo entram em nossos planos” (Carta 93, 22), certamente não pensava de modo específico no país de Cuba, nem na Diocese de Cienfuegos, nem na paróquia de Tulipán, mesmo se não as descartasse de seu horizonte apostólico e missionário. Como nós maristas desembarcamos neste simpático bairro que combina buracos e encostas, palmeiras contorcidas e ceibas (árvores) imponentes, carretas puxadas por nobres e vetustos cavalos, e a alegria contagiosa das “pioneritas” (em Cuba, as crianças da escola primária são chamadas de pioneiras), que todas as manhãs caminham pelas ruas acidentadas, para chegar à escola?
Eis aqui uma curta crônica dessa aventura, em dois capítulos.
Os maristas chegaram a Cuba e a Cienfuegos no ano de 1903. Na periferia da cidade de Cienfuegos, também denominada de Pérola do Sul, encontra-se o bairro de Tulipán. No ano de 1959, começou a funcionar aqui a escola primária, gratuita, “La Inmaculada Concepción”. Dois anos depois, em 1961, essa escola sofreu a intervenção do governo revolucionário, como resultado da lei de 6 de junho desse mesmo ano. De então até esta data, esse sólido edifício não deixou de funcionar como escola, sob o nome de Escola Pedro Suárez Orama. Hoje esse educandário continua sendo primário e sua matrícula chega a 904 alunos. Trata-se de uma escola pública laica, instalada frente à paróquia de Cristo Rei, apenas separada por uma rua.
O segundo capítulo começa em 2001, quando os maristas – azares do destino, ou de Deus em sua maravilhosa Providência! – voltaram a Cienfuegos, nessa mesma paróquia. Desde então, acompanhamos a catequese das crianças e dos jovens e promovemos atividades desportivas e de educação integral, no bairro de Tulipán.
Foi uma sucessão de acontecimentos que conduziu a comunidade paroquial de Cristo Rei à feliz ideia de colocar na igreja uma imagem de Marcelino Champagnat. Moveu-nos o desejo de conectar o fruto com a raiz. Marcelino, fundador dos maristas, coração sem fronteiras: é a raiz; o fruto: uma escola e um bairro que em vários graus receberam a seiva vivificadora de seu carisma educativo e evangelizador.
A imagem foi desvelada no domingo passado, 9 de junho, durante a celebração dominical. Iniciou-se com o conhecido canto: “Vienen con alegría Señor, los que caminan por la vida, sembrando tu paz y amor…”. Em seguida foi feita uma oração comunitária de agradecimento a Deus pelo dom de Marcelino, e continuamos com uma animada paraliturgia em que tivemos a oportunidade de receber a comunhão. Concluímos com o canto à Virgem da Caridade do Cobre: “Madre que en la tierra cubana, riegas desde lo alto tu amor, madre del pobre e del que sufre, siembra (semeia) amorosa la unión…”.
Oxalá, a presença visível de Marcelino, em nossa igreja paroquial de Cristo Rei, seja uma recordação permanente a convidar os pais e os educadores do bairro a crescerem no amor às crianças e a tornarem realidade o que para ele foi um ‘credo’ pedagógico: “para educar um menino é preciso amá-lo”. Outros meninos mais, desses que todos os dias se dirigem à escola com sua mochila às costas, em grupos, com passo apressado alguns, conversando e mexericando outros, se interessem em conhecer um pouco da vida de nosso querido Fundador e recebam inspiração e ânimo.
Marcelino, tu sonhaste com as crianças de nosso bairro, quando encontraste João Batista Montagne, naquele longínquo 28 de outubro de 1816, e decidiste fundar uma Congregação de Irmãos que dedicassem sua vida à educação cristã das crianças e dos jovens! Louvado seja Deus por teu amor encarnado e por tua capacidade de ler os sinais dos tempos! Hoje, saibamos também nós ver nossa atualidade com teus olhos e com teu coração, e encontremos respostas evangélicas audazes, criativas e perseverantes!
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Ir. Carlos Martínez Lavín