Uma responsabilidade comum
Como se realçou nestas últimas semanas, a figura do papado tem um caráter simbólico muito importante. Por isso, não é irrelevante o conteúdo que se dá a essa função, nem tampouco a pessoa que a assume. É evidente que o papa João XXIII marcou uma nova época na história da Igreja, convidando a um retorno ao essencial e a um profundo aggiornamento, que produziu uma onda de esperança em muitas pessoas.
Entretanto, não sou tão ingênuo de pensar que a Igreja será mais evangélica simplesmente com uma mudança de papa. Dizem que as expectativas são frustrações premeditadas, assim que procuro recordar-me que a Igreja se constrói no dia a dia por milhares de pessoas que procuram viver sua fé com autenticidade. E repito para mim que devo ser uma dessas pessoas.
Sim, sonho com uma Igreja simples; contemplativa; acolhedora sem condições; servidora de todos, especialmente das pessoas mais vulneráveis; aberta ao diálogo; realmente comunitária; que dê maior protagonismo ao laicato, especialmente à mulher…; mas sei muito bem que tenho uma responsabilidade em construir essa Igreja.
Se o papa João XXIII pôde convocar o Vaticano II, foi porque algo se estava movendo na Igreja, há muito tempo. Provavelmente, ele não foi mais que o catalisador de um amplo movimento de renovação que vinha das bases da Igreja.
A hierarquia da Igreja tem sua própria responsabilidade, mas não deveríamos abdicar da nossa, como se tudo dependesse de um grupo reduzido de homens. Não foi, de fato, a renúncia de Bento XVI um convite a que cada cristão faça uso de sua liberdade como filho e filha de Deus, e assuma a responsabilidade que lhe corresponde?
Talvez a pergunta, portanto, não seja o que o papa vai fazer pela Igreja, mas o que nós vamos fazer por ela.
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Tomado da revista “Vida Nueva” – www.vidanueva.es