Carta a Marcelino

Pe. Jean-Baptiste Chaumont

1837-10-20

O Pe. Jean-Baptiste Chaumont era o pároco de Anse, pequena localidade agrícola nas imediações de Villefranche. Ele conseguiu a presença dos Irmãos na escola local graças às doações da senhora de la Barmondière, que havia concedido muitos dos seus bens a D. Gaston de Pins, bispo de Lião, com a cláusula de que fossem utilizados na instrução cristã das crianças das localidades de Anse, Villefranche, Monsols e Denice. O sr. Mondelert, gerente administrativo da rica senhora, foi quem escreveu ao Pe. Champagnat, por duas vezes, fazendo o pedido dos Irmãos e anunciando o pagamento da taxa de fundação (Cartas nº 96 e 105). Neste texto do Pe. Chaumont, temos a comunicação do estado em que se encontram as obras na propriedade da escola, os preparativos das salas de aula e dos aposentos dos Irmãos. A escola de Anse foi aberta no dia primeiro de novembro.

Anse, 20 de outubro de 1837.

Senhor e mui querido confrade:

Fui ontem visitar o estabelecimento dos nossos Irmãos. Achei-o quase terminado. A sala de visitas ainda não foi começada, porque o sr. Goni queria colocá-la no ângulo do jardim, ao lado do tanque. Queria, por outra, derrubar os belos plátanos que estão na entrada, sob o pretexto de que prejudicam o muro. O bom homem não tem muito gosto.

Seria interessante dizer à sra. Barmondière que achais que os plátanos, que dão tão bela sombra ao pátio, devem ser conservados. Seria uma desgraça para a escola, se fossem abatidos. Esperar-se-á a vossa vinda ou carta para trabalhar na sala de visitas. Seria bom que falásseis disto com a sra. Barmondière ou aos seus homens de negócios. O sr. Goni colocou postigos na grande sala que está em cima das aulas; mas, em vez de colocá-los por fora, como é costume, fê-los fixar por dentro. Quando forem colocadas janelas do lado do nascente, será preciso retirar os postigos, que já não servirão; mas, como a coisa está terminada, é melhor não falar disso.

Comprei em Macon três camas para os Irmãos. Custam 20 francos por peça. Ainda não sei qual será o preço do frete. Os marceneiros da região não queriam fazer as mesas, cujo modelo nos enviastes, por menos de 32 francos. Enfim encontrei um que, por ter mais prática, se decidiu a fazê-las por 27 francos, isto é, um franco a mais do que o preço que havíeis fixado; mas pensei que a alegria de ter as mesas prontas valia bem um franco. Aliás, o transporte para fazê-las vir de St. Chamond as teria tornado mais caras. Não esqueçais que encomendastes cadeiras aqui. Sem dúvida, haveis de ocupar-vos dos colchões, dos cobertores e da restante mobília.

Lamento que os bons Irmãos não tenham vindo estabelecer-se antes do fim das vindimas. Como há muito vinho este ano, teria sido fácil, no período do esmagamento das uvas, conseguir alguma doação que seria suficiente para a bebida deles. O vinho, uma vez na adega, sai dificilmente daí, a menos que seja adquirido por dinheiro. Tereis suficiente compreensão para nos enviar Irmãos inteligentes, capazes de lutar vantajosamente com as escolas de Villefranche. Estamos tão perto dessa cidade, que não se tardará em fazer a comparação.

Seria bom que viésseis sem demora instalar os bons Irmãos, de maneira que as aulas pudessem abrir as portas depois da festa de Todos os Santos. Se houver atraso, alguns pais tomariam, talvez, o partido de entregar os filhos a professores leigos. Estarei ausente nos primeiros dias da próxima semana; mas achar-me-eis aqui na sexta-feira e no sábado. Creio que não será possível mandar para casa todos os alunos, depois das aulas; será preciso pensar nos meios de guardá-los todo o dia. Se for preciso para isso um quarto Irmão, tende a fineza de no-lo reservar. Encontraremos forma de prover ao sustento do quarto Irmão.

Sou, senhor, o vosso muito humilde e dedicado confrade, CHAUMONT, pároco.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 129.87

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