28 de janeiro de 2024 ESPANHA

Entrevista com Isaac Pinto: As repercussões da Inteligência Artificial no âmbito educacional

O mundo digital está mudando a forma como aprendemos e ensinamos e já há algum tempo está presente nas atividades educativas maristas. Agora que a inteligência artificial (IA) está no centro das atenções, é necessário analisar suas implicações para a educação e a missão marista. Uma das expressões mais eloquentes no dia a dia da IA ​​é o ChatGPT. A respeito deste tema, a Região Marista da Europa publicou em seu site uma entrevista com Isaac Pinto Gismero, Coordenador de Tecnologias para a Aprendizagem e o Conhecimento (TAC) dos Maristas Ibérica. A seguir, reproduzimos a entrevista, na qual ele explica em que consiste esse aplicativo e detalha as possíveis repercussões que ele poderá ter no âmbito educacional.


Isaac, o que é ChatGPT?

ChatGPT é um aplicativo que podemos usar para nos comunicar com uma inteligência artificial (IA). A IA é uma parte da computação na qual tentamos replicar o comportamento humano dentro de uma máquina. Uma das áreas mais significativas da IA ​​é a aprendizagem artificial (Machine Learning). A máquina não só obedece às instruções que lhe damos (por exemplo, mover uma caixa de um lugar para outro), coo também é capaz de aprender que quando aquela caixa aparecer deve movê-la para outro lugar. Existe uma aprendizagem mais profunda (Deep Learning), em que as máquinas conseguem identificar conceitos mais complexos.

ChatGPT é um aplicativo que nos permite comunicar com uma Inteligência Artificial de Deep Learning. Essa IA se chama GPT (Generative Pre-trained Transformer): gera conteúdo, é pré-ensinada ou treinada e os resultados que oferece são feitos por meio de transformações.

Como usar o ChatGPT?

Pedimos ao ChatGPT que gere texto com determinadas características. E este aplicativo o gera a partir do conhecimento prévio que possui (está pré-ensinado). Esse conhecimento, neste momento, é toda a informação que está na Internet. Ou melhor, toda a informação que estava na Internet até 2021.

Um dos problemas nesse sentido é que, se pedirmos dados aos quais não tem acesso (qualquer tema atual dos últimos meses), o ChatGPT pode inventar a resposta. Nunca deixará um espaço em branco. Ele desenvolverá o texto que solicitamos com as informações que encontrar e, caso contrário, poderá inventá-lo.

Quem pode acessar essa ferramenta?

Qualquer um. É um aplicativo gratuito e público, bastando se cadastrar com uma conta de e-mail (registrarse con una cuenta de correo electrónico). A empresa criadora do ChatGPT, a Open AI (fundada, entre outros sócios, por Elon Musk, CEO do Twitter), permitiu que qualquer pessoa sem conhecimentos de inteligência artificial seja capaz de utilizá-la. A interface é muito simples, estilo Chat.

Que implicações isso pode ter em nossa vida diária?

É uma nova tecnologia. As possibilidades que nos oferece ainda estão por definir. A questão é que corremos o risco de utilizar essa tecnologia para qualquer tipo de finalidade e sem qualquer regulamentação. Este é outro problema e começam a ser tomadas medidas na União Europeia e na Espanha para regular a utilização da IA. Mas ainda não há regulamentação. Então, estamos usando-a na sociedade de forma legal e ética? É um problema que ainda não foi resolvido. Existem países e empresas que já limitam o seu uso.

Neste momento, pelo que sabemos, esta ferramenta pode ajudar qualquer trabalhador, por exemplo, na geração de textos. Textos que antes demoravam muito tempo e esforço para escrever, agora este aplicativo nos ajuda a gerá-los em apenas alguns segundos. Devemos avaliar o risco, como dissemos antes, se a informação está correta ou não. Meu pensamento crítico e meus conhecimentos terão que analisar esse texto.

E, mais ainda, posso usar esse texto como meu, publicá-lo como meu? Se você perguntar ao ChatGPT quem possui a propriedade intelectual do texto que acabou de gerar, ele lhe dirá que é ele. E se você perguntar a ele em que condições você pode usá-lo, ele o encaminhará para o site Open AI, no qual essas condições ainda não estão claras.

Atuamos na área educacional, Isaac. Nela, além de trabalhadores, há estudantes, com famílias que certamente estão se perguntando: o que tudo isso significa no processo de aprendizagem de uma criança ou de um adolescente?

O aplicativo está disponível para qualquer pessoa, inclusive estudantes. E aqui consideramos um cenário importante. Se um professor pedir a tarefa de escrever uma “redação de 300 palavras sobre a primeira viagem à lua”, você corre o risco de que seja o ChatGPT a fazê-lo. Porque o aluno também pode pedir à IA que escreva na linguagem de uma pessoa de 13 anos e com três erros ortográficos.

Para os professores existem duas alternativas: limitar o uso do ChatGPT dentro do centro educativo ou utilizá-lo como ferramenta pedagógica para aproveitá-lo. Eu optaria pelo segundo caminho, incluindo-o na sala de aula. Os estudantes aprendem como utilizar essa inteligência artificial e o fazem com senso crítico, o que é o mais significativo. Podemos usar esta IA para adquirir competências do século XXI.

A Província Ibérica está refletindo sobre a utilização deste programa no campo educativo. O que exatamente está sendo feito?

Há algumas semanas criamos um grupo de trabalho para estudar o uso da IA ​​na educação. Dividimos esse processo em duas partes. A primeira visa analisar e classificar as diferentes IAs (não existem apenas geradores de texto, existem de desenho, transcrição de voz, programação…  hay de diseño, de transcripción de voz, de programación…). Nesta parte mais técnica serão estudados os requisitos legais, a tecnologia que há por trás e algumas pequenas recomendações para sua utilização.

Num segundo momento, outro grupo de profissionais de diferentes etapas de ensino, a partir dessa categorização, proporá atividades dentro da sala de aula. Por exemplo, um profissional da disciplina de Língua do nível secundário poderá propor como utilizar o ChatGPT em sala de aula. O objetivo é que, no futuro, possamos utilizar esta ferramenta de forma segura e orientada para a formação.

Entrevista de Anabel Abad a Isaac Pinto Gismero, Coordenador da TAC da Província Ibérica

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