Amplia o espaço da tua tenda! (IS 54,2)

06/07/2006

A sessão blogs maristas do nosso site www.champagnat.org, iniciada a partir do mês de maio, apresentou algumas reflexões que despertaram o interesse dos nossos leitores. Pensamos que também será interessante para os leitores do nosso Boletim.
Hoje apresentamos as três primeiras reflexões do Irmão Pau Fornells, diretor do Secretariado para os Leigos, que escreve sobre os leigos maristas.
Difundindo esses textos através do Boletim pretendemos também animar aos nossos leitores a participar da reflexão enviando seus comentários através da nossa página web.

Por um novo ecossistema eclesial
Hoje se fala muito do novo papel dos leigos na Igreja. O que nos interessa aqui, de modo particular, é sua relação com as congregações religiosas com as quais partilham a missão, espiritualidade e carisma. Os leigos maristas, através de um jeito novo, também se tornaram uma presença na vida dos irmãos. Presença que tem gerado um número grande de sentimentos e atitudes nem sempre convergente. Alguns falam de confusão de identidade e de papéis.
Não faz muito tempo que os leigos e leigas, que são mais de 99% da Igreja católica, não passavam de um dócil rebanho guiado por seus pastores (bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas). No melhor dos casos, eram bons colaboradores. Não estavam acostumados a pensar por si mesmo em matéria religiosa, necessitavam ser orientados sobre o que deveriam crer, como fazer para celebrar sua fé, como comportar-se na vida… Quase tudo estava previsto e sancionado. E não falemos de sua nula participação na tomada de decisões eclesiais.
Porém, veio um Papa (João XXIII) e um Concílio (Vaticano II), que permitiram ao Espírito Santo a soprar no coração da Igreja e suscitar-se renovada energia. No início surgiram apenas algumas mudanças externas: missa no próprio vernáculo e celebrada de frente para o povo, desapareceram as batinas… Logo começaram a publicar muitos documentos, porém o povo cristão continuava a não se dar conta das dimensões da mudança. Parecia que era somente coisa para técnicos da religião.
Pouco a pouco ? e foram necessários passar quatro décadas -, se foi tomando consciência da autêntica revolução que isso representava, por mais que isso tenha assustado e desestabilizado alguns. Na Igreja, a missão é única, mesmo que desenvolvida por diferentes ministérios. A dignidade e a vocação à santidade são iguais para todos. Já não existem determinados estados de perfeição. E, a partir de então, nasce uma nova relação entre todos os membros da Igreja, o que dá origem a um novo ?ecossistema eclesial? (Termo usado pelo Ir. Antonio Botana, FSC, no documento ?Asociados para la Misión Educativa Lasaliana? (Cf. www.lasalle.org), o qual está apenas está começando a estruturar-se e a desenvolver-se.
Os leigos já não são mais cristãos ?menores de idade?, menos ?perfeitos? e não tão ?confiáveis?. Agora estão em igualdade de condições. Isso é tão verdade que a Igreja assume que não pode caminhar sem sua colaboração: seu estilo de vida, seu comprometimento na missão e sua capacidade de participação e decisão eclesial. E isso se transfere também para os leigos e leigas que se sentem ao lado dos irmãos maristas.
É um autêntico terremoto em nossas velhas concepções de identidade, carisma, espiritualidade, missão, participação e capacidade de decisão. João Paulo II, em Christifideles Laici, acrescenta: ?Na Igreja-Comunhão os estados de vida encontram-se de tal maneira interligados que são ordenados uns para os outros. Comum, direi mesmo único, é, sem dúvida, o seu significado profundo: o de constituir a modalidade segundo a qual se deve viver a igual dignidade cristã e a universal vocação à santidade na perfeição do amor. São modalidades, ao mesmo tempo, diferentes e complementares, de modo que cada uma delas tem uma sua fisionomia original e inconfundível e, simultaneamente, cada uma delas se relaciona com as outras e se põe ao seu serviço?. (ChF 55.3).
Isto é, os estados de vida que se sentem chamados a seguir um mesmo carisma, em nosso caso, o carisma marista de Champagnat, se influenciam mutuamente: os irmãos já não podem ser pensados sem os leigos, e vice versa. Começou uma reação em cadeia onde nada nem ninguém fica à margem, onde nada será mais igual.
O Espírito Santo nos está dizendo que não existe futuro para o carisma de Marcelino Champagnat sem que ?ampliemos o espaço de nossa tenta?, se não caminhamos juntos, irmãos e leigos, para ?partilhar vida: espiritualidade, missão, formação?? (Escolhamos a Vida, 26). Assim nos recorda o XX Capítulo Geral: ?Convencidos de que o Espírito de vida nos conduz neste caminho comum…? (Id, 29).
Abramos, pois, nosso coração ao Espírito e deixemo-nos transformar por Ele!
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Podemos ser irmãos e, em um certo sentido, clericais?
Muitos irmãos se queixam do forte clericalismo que continua imperando ainda hoje na Igreja. A maioria de nós se sente ferida ou, pelo menos, queixosa quando, durante a Jornada Mundial das Vocações ou em outros eventos, só se fala da vocação sacerdotal e da vocação das religiosas. Os irmãos parecem não existir, não são levados em conta, os fazem se sentir uma espécie de bichos raros. Sobretudo, quando se estabelecem hierarquias: primeiro a vocação sacerdotal; depois as religiosas e, por último, a dos leigos e leigas. Não é de se estranhar que tenhamos problemas de identidade.
Porém, com freqüência, acontece também que muitos de nós (os irmãos) olhamos os leigos, com quem partilhamos o carisma, a espiritualidade e a missão, ?por cima dos ombros?. Às vezes desconfiamos deles porque cremos que eles agem por interesses estranhos à causa comum: ser testemunhas da Boa Nova entre as crianças e jovens, especialmente os mais desassistidos. Claro também está que muita gente nos olha com receio, perguntando-se se na verdade somos testemunhas do que anunciamos. Devemos recordar que a coerência é sempre um traço difícil para todo ser humano.
Outras vezes os desvalorizamos: acreditamos que não têm capacidade suficiente para poder fazer aquilo que fazemos com tanta competência. Também aqui teríamos que esclarecer de que tipo de ?competência? falamos. Existem casos em que os tratamos com certo paternalismo indulgente: devemos acompanhá-los e orientá-los porque não estudaram tanta ?religião? como nós, ou porque os estimamos muito e nos dá medo que se equivoquem. E, claro, o irmão chega a sentir-se imprescindível em alguns grupos de leigas e leigos maristas. Inconscientemente, às vezes não deixamos que surjam líderes ou nos custa deixar que tomem decisões.
Pode ser que em alguns irmãos exista o medo de sentir-se deslocados pelos leigos. É um medo legítimo, no sentido psicológico, de sentir-se ?filhos da casa? e não entender o que nos dizem hoje os sinais dos tempos. Pode ser também um medo às mudanças que tudo isso deixar antever para nossas vidas nos próximos anos. Estamos sabendo educar para a mudança de uma sociedade tão mutável como a nossa? Como poderíamos melhorar nossa compreensão sobre isso? Corremos o risco de nos tornarmos, em certo sentido, um pouco clericais ao não dar espaço para o que Deus está pedindo para os leigos maristas?
E, para concluir, quero citar o Ir. Benito Arbués que dizia a pouco tempo atrás: ?Podemos cair em certo ?clericalismo marista?. Isto é, pensarmos o que devem fazer os leigos… dar-lhes documentos, dar-lhes orientações. Não sei o que deverá ser feito para que a vida surja na base da terra. E se para lançar sementes, deve-se estar presentes, necessitamos tato para deixar que o leigos cultivem seu campo como cristãos normais e que optem por um cristianismo da cor marista?.
A todos nos convém voltar sempre aos ?últimos lugares? do Evangelho e aos ?primeiros lugares? do P. Champagnat, para que fiquem como lições bem aprendidas, não somente em nossas cabeças mas, sobretudo, em nossos corações. Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a compreender o ?aniquilamento? de Jesus, a ?pequenez da humilde serva?, o ?silêncio? do justo José e os ?três primeiros lugares? de Marcelino. O Deus das surpresas continua querendo entrar em nossas vidas.
Continuemos deixando Deus ser Deus!
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O que está acontecendo com os jovens leigos maristas?
Minha reflexão vai não somente dirigida aos jovens, mas também deseja incluir nela todos os que sentem chamados a ser maristas segundo Champagnat. Quero também precisar que, com o termo ?jovens leigos maristas?, estou me referindo aos jovens com idade entre os 25 e 35 anos, denominação essa que nos países anglofônicos é conhecido com o nome de ?jovens adultos?.
Graças a Deus, na maioria das Províncias do Instituto o trabalho pastoral com os jovens continua sendo um trabalho privilegiado. Aqui estou me referindo aos ?jovens jovens? (15-25 anos). Dezenas de milhares deles ? não exagero ? estão em nossos grupos juvenis, em mais de 70 países. Estou convencido de que a maioria são grupos comprometidos na vivência da fé e em um compromisso solidário concreto. Entre nós abundam, cada vez mais, jovens animadores de outras crianças e jovens. Alguns doam generosamente momentos semanais ao trabalho voluntário e, inclusive, vivem experiências mais ou menos longas em lugares mais necessitados. Sim, Deus nos presenteou com jovens maravilhosos, apaixonados por Champagnat e orgulhosos de ser maristas. Estou seguro de que isso faz parte indissolúvel de seu ser cidadão e cristão, como queria Marcelino.
No entanto, há uma questão que me preocupa há muito tempo. Hoje somente vou tentar melhor esclarecê-la, pedindo a todos a ajuda necessária para encará-la com audácia e esperança cristãs. A questão é a seguinte: tenho a impressão que atualmente se está havendo um certo vazio no compromisso leigo marista de ?jovens adultos? (25-40 anos). Por quê?
Não me refiro a um compromisso a mais, senão a um compromisso que seja realmente opção de vida. Existem uma multidão de leigos e leigas que dão o melhor de si mesmos em nossas obras apostólicas ou em outras obras, civis ou eclesiais; alguns deles o fazem inclusive até o limite de suas possibilidades. Também no coração de muitos dos nossos ex-alunos continua existindo um carinho e preocupação com tudo o que é marista. Porém percebo a falta de um salto qualitativo: experimentar a vida marista segundo Champagnat como uma opção insubstituível em sua vida; sentir-se chamados por Deus a ajudar as crianças e jovens, especialmente os mais abandonados, segundo o carisma e a espiritualidade de São Marcelino, em fraternidade de trabalho, vida e oração (o que não significa viver sob o mesmo teto).
Esse salto qualitativo tem mais a ver com a percepção de um chamado que implica toda a vida e não somente uma opção temporária. O referido apelo implica numa resposta que vai mais além das transformações que a vida vai nos trazendo. Isto é, se o Espírito Santo suscitou (e suscita) no coração de muitos jovens um apelo radical ao seguimento de Jesus, segundo o carisma, missão e espiritualidade de Marcelino, como irmãos maristas, por que não pode acontecer a mesma coisa como leigos maristas? Não creio que os apelos radicais sejam somente para alguns estados de vida especiais. Podem existir vocações não radicais? Ser cristão, não é em si mesmo um apelo suficientemente radical?
Não se trata somente de buscar as causas de um problema, senão oferecer, ao mesmo tempo, possíveis pistas que ajudem a viabilizar, também nessa faixa de idade, as respostas ao convite ? que me parecem claras ? que está fazendo o espírito Santo nesse momento da vida (25-35 anos), na qual devem cristalizar as grandes opções. Do contrário corremos o risco de que se produza uma fratura de geração, quase irreversível, na transmissão do carisma, espiritualidade e missão de Marcelino Champagnat. Sabemos que o Espírito Santo pode tudo, porém ao mesmo tempo devemos estar conscientes de que sempre atua através de nossas pobres mediações.
Convido-os, pois, a contribuir com este blog sobre o que pensam a respeito. Comprometo-me também com minhas opiniões na próxima reflexão.
Unidos na oração, fonte de todas as criatividades e audácias, junto com Jesus, Maria, José, Marcelino e todos nossos irmãos e leigos maristas santos.
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