9 de junho de 2014 BANGLADECHE

Filhos de trabalhadores de plantações de chá

Os Irmãos Maristas do Distrito da Ásia vivem o sonho de Marcelino em Moulovibazar (Bangladesh), trabalhando para porcionar o ensino secundário aos filhos de trabalhadores de chá. Através deste texto  escrito por Fr. Joseph Gomes, OMI, denunciam a violação dos direitos humanos naquela região.

Na área de plantações de chá em Srimongol, existem dois tipos de povoados. Por um lado, os que trabalham no chá, e por outro as pessoas da tribo de Kashi, que vivem em agrupamentos (punjis) encravados nas plantações e subsistem cultivando folhas de betel (um estimulante muito apreciado em todo o subcontinente indiano). O primeiro grupo vive em condições de semi-escravidão, com salários baixíssimos, sem direito de possuir nem terra nem casa, sem direito a representação sindical. O segundo grupo, os Kashi, vivem aqui desde gerações, mas não têm documentos comprovativos, por isso eles estão à mercê das predadoras empresas de chá que os ameaçam constantemente de os expulsar da terra de seus antepassados.

Foi exatamente o que aconteceu no dia 30 de maio, no punji de Nihar. O capataz da companhia Abul Khayer Grupo de Indústrias, aproveitando o momento em que os homens estavam a trabalhar nos campos, invadiu a aldeia onde havia apenas mulheres e crianças tratando de os expulsar à força. O mais infame foi que mobilizou os próprios trabalhadores das plantações de chá de ali ao lado, ou seja mobilizou pobres contra pobres. Mas ninguém esperava que as mulheres e as crianças os iam enfrentar, oferecendo resistência; houve luta, violência, e umas dez pessoas ficaram feridas de parte a parte, e com tão má sorte que um dos invasores morreu no hospital três dias depois.

Como resultado de tudo isso, Nihar Punji, durante vários dias esteve sitiado pela polícia e pelos trabalhadores de chá; ninguém podia entrar ou sair, pondo em perigo a subsistência de crianças e idosos. A violência parece ter diminuído, mas acompanhia Abul Khayer está tentando tirar partido da morte (por ninguém querida ou procurada) de um de seus trabalhadores, para, de uma vez por todas, expulsar os Kashis e tomar posse da aldeia para ampliar ainda mais a área da produção de chá. Os Kashis também estão a reagir com o apoio de algumas organizações de defesa dos direitos humanos, tais como Transparência Internacional, algumas organizações indígenas locais, a Diocese Católica de Sylhet e algumas congregações religiosas (Santa Cruz, Oblatos de Maria Imaculada e Irmãos Maristas).

Ambas as partes apresentaram acusações em tribunal. A maioria dos homens Khasi estão escondidos no mato com medo de ser presos pela polícia, que todos os dias vão ao punji ameaçando "prender as mulheres, se não se encontrarem os homens." As mulheres, que são muito corajosas respondem-lhes: "Se nos levam para a cadeia também têm que levar os nossos filhos."

Esperemos que seja reconhecido o direito tradicional de possuir a terra de seus antepassados. Esperemos que as companhias de chá modererem a sua avidez e não lhes tirem as suas terras. Esperemos que os capatazes deixem de usar os seus pobres semi-escravos trabalhadores para invadir a terra dos Kashis. Esperemos que o Governo do Bangladesh se mostre sensível à existência de pessoas que se regem por um direito ancestral tradicional, mesmo sem documentos escritos credíveis. E que reine a paz e a concórdia, baseada no respeito pela pessoa humana.

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