15 de junho de 2017

Defesa dos direitos e solidariedade, oportunidades para a comunicação marista?

Artigo produzido pelo Ir. José Sotero dos Santos Neto, estudante de Teologia no Instituto Santo Tomás de Aquino em Belo Horizonte/MG e membro da Comissão de Vida Consagrada e Laicato da Província Marista Brasil Centro-Norte.

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“O que cada um de nós faz ou diz importa, e importa muito! O mundo se faz de pequenos gestos cotidianos e das grandes crenças que os sustenta”. (Jurandir Freire Costa)

O clamor social faz parte do “DNA marista”. O Instituto Marista nasce como resposta a uma deficiência educacional e evangelizadora das crianças e jovens da zona rural da França, no século XIX. A essência do ser e fazer do Instituto tem como fonte o carisma recebido por São Marcelino Champagnat. Desse modo, a perenidade institucional exige certa regularidade na maneira de atualizar e comunicar o carisma.

A atualização se explicita pelo movimento harmônico de três elementos: a missão, razão pela qual existe; a visão, a situação que deseja viver no futuro e ser reconhecida na sociedade e os princípios, valores que norteiam seu ser e fazer. Por sua vez, o jeito marista de comunicar consegue estabelecer um produtivo diálogo com a cultura por meio da transmissão de valores geradores de vida, alteridade, respeito e fraternidade. A comunicação marista carrega em seu bojo o desejo de transformação social. Para tanto, o Instituto faz uso de uma estratégia relacional denominada advocacy, incidência direta na política pública, a partir da presença e da participação em fóruns, conselhos, audiências e demais espaços em que se possam influenciar decisões.

É essencial o exercício de uma consciência convicta no que diz respeito a identidade marista, cuja missão primordial é a educação das infâncias, adolescências e juventudes pobres, à maneira de Maria. Contudo, essa missão nasce a partir de uma série de referenciais que ao mesmo tempo alicerçam a caminhada institucional. No Primeiro Testamento somos apresentados a um Deus enaltecedor dos valores da justiça e dignidade, contra tudo que é característico da escravidão, do sofrimento e da humilhação. Já o Segundo Testamento, configura a proposta da Boa Nova de Jesus como sustentáculo de uma práxis da solidariedade fraterna que liberta os sujeitos, só “há humanidade quando existe justiça e direito”, numa instigante atualização Jesus revela o Reino como ação concreta da promoção e defesa dos direitos humanos.

A “práxis marista” também é iluminada pela Doutrina Social da Igreja, que se propõe a analisar os fenômenos sociais a partir de princípios essenciais, que equivalem a “critérios fundamentais da ação pastoral no campo social: anunciar o Evangelho; confrontar a mensagem evangélica com as realidades sociais; projetar ações cuja finalidade seja a renovação de tais realidades, conforme as exigências da moral cristã” (Conselho Pontifício Justiça e Paz, Compêndio de Doutrina Social da Igreja, nº 526). Por fim, o Instituto Marista bebe na fonte da solidariedade experienciada por Marcelino Champagnat. Ele operacionalizou sua prática através de situações que transcendiam a educação formal, ao se preocupar com os pobres, os órfãos, os idosos e desamparados, o Pe.Champagnat legou humanidade à instituição Marista. Dessa maneira, imbuídos do espírito de Champagnat seremos bem mais na vida das crianças, adolescentes e jovens num trabalho incansável a favor da dignidade humana, especialmente daqueles social e historicamente vulneráveis. É necessário que se cultive a crença na capacidade de transcender e transformar a realidade, numa resposta concreta aos lineamentos do XXI Capítulo Geral, o qual nos convida a “ver o mundo com os olhos das crianças e jovens pobres” e a “ser especialistas na evangelização de meninas, meninos e jovens, e expertos na defesa dos seus direitos”.

Uma breve leitura e análise da nossa realidade explicitam o agravamento da desigualdade social por meio da crescente concentração de riqueza, cujo horizonte traz consequências terríveis na vida das crianças e jovens, afetadas integralmente nos seus sonhos, esperanças e projetos de vida. Por outro lado, reforça nossa convicção da urgência em alimentar nossas esperanças, cultivar as utopias e gerar respostas inovadoras e eficazes, principalmente nas regiões de fronteira onde a vida está ameaçada na sua própria concepção. As vozes da criançada e juventudes são convites para um comprometimento na superação das situações de vulnerabilidade pessoal e social que afetam a sua dignidade e limitam o seu desenvolvimento integral. Sendo assim, é válido afirmar que as pessoas de Jesus, Maria e Champagnat são as referências de solidariedade e serviço em favor da dignidade humana.

Ao esboçar um cenário reflexivo sobre o papel da comunicação na defesa de direitos, destaca-se com visibilidade o uso da internet, ferramenta multimídia e de fácil acesso, devido a sua diversidade de linguagens, tais como imagem, áudio e vídeo ao apresentar maior autonomia de produção de conteúdo e inteiração. No entanto, essa atuação na internet, via mídias sociais, numa articulada promoção e defesa de direitos, passou a ser denominada de ciberativismo. Segundo o jornalista Yuri Vasconcelos que, em 2008, escreveu sobre ciberativismo no site Planeta Sustentável, ele definiu essa iniciativa midiática como uma forma de ativismo pela internet, também chamada de ativismo online ou digital, usada para divulgar causas, fazer reivindicações e organizar mobilizações.

Vale ressaltar que por ser recente essa nova forma de ativismo, ainda não se tem estudos científicos sobre esse fenômeno que envolve a tecnologia (internet) ao ativismo social físico.

Assim, ao fazer memória da Era da Comunicação, se percebe que a chegada da internet foi recepcionada por uma sociedade com rígida estrutura organizacional. A partir daí, a internet propiciará nova configuração organizacional em rede por meio de sua tessitura em conexões, dinâmica e agilidade operacional, ao provocar uma interconectividade não apenas globalmente, mas também, centrada no indivíduo. Por conseguinte, perante essa complexidade da internet, ocorrerão mudanças estruturais ao atingir também o comportamento social.

Diante das várias formas de atuação comunicativa na internet, se faz necessário identificar qual mídia melhor se adequa à proposta ou missão no horizonte institucional. Nesse processo de análise, é importante verificar também na mídia digital: características, potencial de utilização, o público e efeito esperado. Portanto, realizada essa etapa de análise e escolha das mídias digitais em sintonia com a missão institucional, se inicia a partir daí a efetiva comunicação junto aos diversos interlocutores.

Perante o horizonte reverenciado, se legitima que a defesa dos direitos e solidariedade, são oportunidades ímpares para a comunicação marista efetivar com eficiência a fé na qual somos portadores: outro mundo é possível e necessário, a exemplo do Pe.Champagnat somos construtores de sonhos e semeadores de esperança entre as crianças e jovens pobres. Inebriada pelo universo desafiador da defesa dos direitos e solidariedade, a comunicação marista bebe na fonte do Instituto transfigurando-se num manancial para tantas outras gerações sedentas no exercício de transcender e transformar a realidade. Dessa forma, o processo comunicativo reflete a identidade institucional: maristas capazes de causar a indignação e imortalizar a esperança, por meio da opção preferencial pelos pobres.

Por conseguinte, o jeito marista de comunicar transpõe e ressignifica tanto o transmitir informação, como o simples uso das mídias digitais e outros recursos tecnológicos, visto que a meta a ser alcançada é uma genuína transformação social a partir da comunicação. Baseado em características que prezam pelas relações humanas, com afetividade e cuidado com o próximo; objetividade e clareza; em sintonia com a realidade e com a Igreja; evangelizadora; estratégica; educadora e respeita os direitos humanos; o processo comunicativo marista se deleita numa árdua e produtiva busca pela defesa dos direitos ao expandir a rede de solidariedade. Sendo assim, irmanados nas teias deste projeto em defesa da vida em plenitude, comungaremos da poesia mística de García Paredes: “A esperança necessita cuidados como uma criança pequenina. Podemos perdê-la por um nada. A esperança é frágil, indefesa, não tem argumentos. (…) A esperança deve ser cuidada, defendida”.

 

REFERÊNCIAS:

  • ABONG: Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns. Compartilhar Conhecimento. Comunicação Estratégica e Incidência Política para Organizações da Sociedade Civil. Unidades: 01, 03, 04 e 06. Petrobras.
  •  Caminhos de Solidariedade Marista nas Américas: crianças e jovens com direitos. Solidariedade Marista nas Américas – Documento de Referência. Subcomissão Interamericana de Solidariedade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013. 204p.
  • Curso: Comunicação Organizacional Marista – EaD. Material produzido pelos conteudistas: Amanda Wanderley de A. Ribeiro; Eder D’Artagan.
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