2015-03-09

Minha passagem pela AmazĂ´nia – Ir. Nilso Antonio Ronchi

Ir.Em junho de 1984, em l’Hermitage, Irmão Dávide Pedri, Provincial, pediu-me para substituir o Ir. Demétrio Herman em Tapauá, AM. Assim iniciei as três etapas de minha história na região missionária amazônica e Distrito Marista da Amazônia.

Agosto 1984, no barco Comandante Henriques, lendo o livro “O Nome da Rosa” e conhecendo várias pessoas, depois de quatro dias, chego a Tapauá (terra da “tartaruga a passos de gigante”). Lá estavam os Irmãos Luiz Carlos Siena e Zenóvio Kocianski. Durante quatro anos e meio vivi os costumes do povo, a riqueza da fauna, das frutas e do bioma regional. As variedades da fauna e da flora encantaram-me, assim como seus povos originários do Ceará e da cultura indígena. Com os Irmãos Luiz C. Siena e Zenóvio fui aprendendo a conhecer o jeito do povo, em especial o do indígena.

Meus dias em Tapauá eram nas salas de aula e na direção de escolas. Consegui implantar o curso de formação ao magistério. Isso me ocasionou muitas idas a Manaus junto à SEDUC. Numa dessas viagens, a primeira de avião, junto com duas técnicas da Secretaria, o hidroavião monomotor PT-IHV caiu na mata da região do lago Aiapoá. Já estávamos no início do extenso município de Tapauá (89324 km²), quase do tamanho do Estado de Santa Catarina. Depois de uma semana perdidos na floresta, estávamos salvos em Manaus. Posso dizer que o líquido do amapazeiro me livrou da malária, conhecimento que tive de nativos, um ano antes.

Em janeiro de 1989, conforme plano da Província em permanecer em torno de dez anos na missão local, a comunidade entregou sua missão ao povo que a levou em frente com sabedoria e maturidade, segundo palavras do bispo D. Jesus Moraza. E voltei ao Sul onde segui servindo em casas de formação, em comunidades de base e colégios.

Em 2003, a minha segunda etapa amazônica se iniciou em Rio Branco, Acre. Ali estavam dois Irmãos jovens e um povo pobre vivendo na periferia da cidade. Nossa casa e jeito de viver não eram diferentes dos do povo. Sofríamos a carência do saneamento básico, ônibus, asfalto, segurança. O que maravilhava a gente era viver bem o dia a dia: fazer a cozinha, sentar no banco junto com os vizinhos, ouvir as histórias, partilhar as possíveis soluções para o bairro e participar delas, tomar receitas, participar de grupos de encontro bíblico, da pastoral da saúde, da

catequese da comunidade e da paróquia. Os Irmãos jovens fizeram concurso público e assumiram aulas ou trabalhos diversos. Consegui assumir um grupo de alfabetização adulta (EJA). Até arrumamos nossa casa adjunta, chamada pelo Ir. J. Gutemberg de “La Valla”, para sediar as aulas. Posteriormente essa “La Valla” serviu para a educação infantil de 30 crianças de 3 a 5 anos, do bairro Defesa Civil, coordenadas pelo Ir. Jorge Lapa e Comunidade. Em 2005 passei um ano em Canutama e pude colaborar na formação do noviciado, nos anos de 2006 a 2008, em Ji-Paraná, RO.

Tive uma terceira etapa de vida na Região, de 2012 – 2014, em Tabatinga e Porto Velho. Em Tabatinga é desafiador e apaixonante a missão nas três fronteiras – Peru, Colômbia e Brasil –, onde se realiza um trabalho pioneiro desenvolvido pelo Ir. Nilvo Favretto nas comunidades indígenas de Atalaia do Norte. Tem a bonita experiência da comunidade itinerante nas três fronteiras composta por padres, religiosos, como participara o Ir. Neori, religiosas e leigas, convivendo com as comunidades locais, acolhendo pessoas de diversos locais do Brasil e do exterior para um período de missionariedade. Essas experiências foram protagonizando a formação de uma futura comunidade marista internacional.

Quão encantadoras são as volumosas águas do Rio Solimões, do Rio Javari e quão desafiantes os problemas da realidade local, asseverados em nossos documentos do PCV, do Distrito e da Igreja para o anúncio do Evangelho, a promoção vocacional, missão escolar, promoção social, formação de lideranças cristãs, inserção entre os jovens lá onde estão. Os Irmãos da Comunidade, já na terceira idade (Valdir, Verno e Nilso), participávamos nos movimentos das comunidades Champagnat, Aparecida e Sagrado Coração de Jesus, na propagação da boa leitura para professores e jovens, na Diretoria do CMDCA e equipe vocacional diocesana.

Vivi essa experiência por dois anos, acrescida de ser o motorista da comunidade. Vistoriamos grandes “Sítios” de Atalaia do Norte e Benjamim Constant. Nada mais deslumbrante para mim do que atravessar os grandes rios Solimões e Javari de catraia (embarcação motorizada que leva até 18 passageiros), indo e vindo de Benjamim Constant e Atalaia do Norte. Era um lenitivo, ou melhor, um relax apreciando águas, ondas, aves, paus, barrancos, areia, mata, Islândia (Peru), peruanos, brasileiros, Israelitas (seita religiosa), canoas com peixe, batelões com frutas e hortaliças vindas do Peru, etc.

Algumas vezes viajei a Manaus nas embarcações que chegam a levar mais de 600 passageiros, durante seis dias de subida ou três de descida, lendo, apreciando as paisagens compostas por água, barranco, matas, aves e botos, ouvindo estórias, escutando as canções saudosas de Haitianos e interesse de estrangeiros em férias, pelas maravilhas que viam, fotogravam e expressavam!

IrmĂŁosEm 2014, voei a Porto Velho. Sem a simpatia pelo local, assumi as funções do Irmão Sadi: secretário distrital, conselheiro e, no lugar do Ir. Luiz, em formação na

Guatemala, a da administração, auxiliado por Leilane Ferreira que harmonizava tudo, na tesouraria e administração. Colaborei na secretaria do DMA junto com o auxiliar Ariel. Todo esse trabalho passou a ser feito em Porto Alegre, coordenado pela secretária Elaine Strapasson Faccin.

Senti como hoje é necessário ter uma visão clara e objetiva de gestão, conhecimento, atualização e presença significativa, o que me faltava na condução das responsabilidades recebidas, em especial a de conselheiro do DMA. Senti-me, não raras vezes, como cabrito diante do dono prestes a preparar uma churrascada! Camões escreveu: “Um fraco rei faz fraca a forte gente!”.

Como agradeço a sabedoria do Ir. Delvino, a vida ridente do Ir. João Paulo com sua bicicleta e crianças, a visão do tempo, espaço, pertença à Igreja e harmoniosa presença no trabalho, no lazer e lectio divina, leituras e escritos do Ir. Ferrarini, as indicações de vida saudável e sem estresse do Ir. Jorge Luiz, o ser factótum (bricoleur) do Ir. Luiz, a presença vigilante e cheia de amparo do Ir. João Gutemberg, a alegria da vida de Adali, apesar das endemias que o perseguiam, a amizade do povo…

Depois de completar os três anos de cedência ao DMA (15/01/15), dois apelos levo comigo: o de continuar missionário, segundo Jesus, do jeito de Maria, e a mensagem de que a Amazônia é de todos na “profecia e mística para um novo começo”, conforme “os sonhos de um curumim” que quer ser leve para poder ser itinerante.

Ir. Nilso Antonio Ronchi
Informativo do Distrito Marista da Amazônia | n. 161 – 28/02/2015

PREV

?Fraternidade: Igreja e Sociedade? - Campanha...

NEXT

Compostela: Ecos de uma recoleção quaresma...