2015-03-10

Compostela: Ecos de uma recoleção quaresmal em onda carmelitana

Um grupo de Irmãos de Compostela resolveu fazer a sua recoleção quaresmal, no dia 7 de Março, lembrando as celebrações dos 500 anos da Santa de Ávila. Fomos até ao Centro de Espiritualidade Carmelitana de AVESSADAS (Porto). Ali, orientados pelo Padre Alpoim, caminhamos durante este dia em companhia de Teresa. Com ela percorremos caminho e ficamos a saber que o “caminho” ou a “viagem” foi algo importante para Teresa. Não é por nada que ela afinal ficou também conhecida como a “andariega”.

Irmãos

Ao longo de todo o dia fomos ouvindo alguns princípios teresianos sobre a oração que são muito atuais. Há 500 anos Teresa propunha às suas Irmãs algo que é muito válido hoje. Ao ouvir o Padre Alpoim parece que era Teresa a apontar-nos o caminho, falando dos caminhos ou “viagens” de que falava a santa.

Primeira viagem: na oração ir da superficialidade à profundidade.
É um convite a percorrer o caminho da interioridade. E a percorrê-lo na humildade. A pessoa humilde é aquela que deixa Deus ser Deus na sua vida. Então a interioridade é uma graça de Deus. Pode tornar-se uma experiencia de plenitude que se vive, num primeiro momento “em solidão” com Deus. Mas num segundo momento alcança os irmãos: a interioridade desemboca na solidariedade. Como percorrer este caminho para a interioridade? Teresa diz ainda três coisas: 1) caminhar com a mística de olhos abertos: em cada coisa criada podemos descobrir a Deus; 2) caminhar com a mística de ouvidos abertos: no silêncio do nosso coração tudo nos pode falar de Deus; 3) caminhar com a mística do tato: é a capacidade de “saber tocar” as coisas para nelas descobrir ou colocar a Deus.

Segunda viagem: na oração ir da passividade à criatividade.
Sim, a oração tem a ver com a novidade, a novidade de Deus em nossas vidas. Deus não se repete. Constantemente nos “empurra” para novos caminhos. A tentação humana é a da inércia, a da repetição aborrecida. Caminhar de um modo criativo é vencer o medo, a inércia, a passividade, a desculpa que se baseia no “sempre se fez assim”… A oração era para Teresa um tesouro que ainda hoje nos contagia. Um tesouro que nos traz alegria. A criatividade traz alegria. Pode e deve levar-nos a sair do espaço da tenda que sempre habitámos para alargar a nossa tenda a outros espaços, onde encontramos a beleza de ser criativos. A criatividade ensina-nos a acolher a liberdade e a liberdade conduz-nos a escolhas que se vivem num trato de amizade com Deus e os outros. A oração torna-se sinónimo de liberdade e a liberdade ensina-nos a rezar acolhendo em nós a novidade de Deus.

Terceira viagem: na oração ir do individualismo à comunhão
A oração é uma relação de amizade com Deus. Mas conduz a uma relação de amizade com os irmãos. Para Santa Teresa era claro que esta dupla dimensão “Deus-Irmãos” está presente em toda a oração. Entrar em diálogo com Deus significa que já estivemos ou estaremos em diálogo com os irmãos. Isto é, ninguém entra na oração se não entra também em diálogo com os outros. No fundo, a oração sendo RELAÇÃO com Deus é também necessariamente RELAÇÃO com o nosso semelhante. No nosso semelhante somos convidados a encontrar Deus. Desde o início o nosso semelhante é “imagem e semelhança de Deus”. Relacionar-se com o próximo, para o homem de oração, para o místico, é relacionar-se com Deus. De caminho o Padre Alpoim citava outra grande santa carmelita: Edith Stein. Dizia: “Fomos criados por amor e para amar”. Não podemos fugir dessa dupla relação.

Ao ouvir estes ecos de Teresa, pela boca do Padre Alpoim, dava a ideia de que não estávamos muito longe do que também vai por aí na espiritualidade marista. Temos ouvido que devemos ser místicos e profetas para hoje, sem deixarmos de ser homens e mulheres de comunhão. Teresa parece ter detetado o mesmo para os homens e mulheres do seu tempo há 500 anos. Há tesouros que a ferrugem do tempo não é capaz de destruir.

Recordemos apenas que esta recoleção teresiana era uma iniciativa provincial, mas levada a cabo por zonas. Assim em Avessadas (Porto) estiveram 13 irmãos; em Ávila 17 e em Alba de Tormes 30. Uma iniciativa muito bem-vinda. Em boa hora.

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