2011-03-21

Noviciado Marista do Brasil – Nova Terra possível

O XXI Capítulo Geral dos Irmãozinhos de Maria convida a nós, Irmãos, Leigos e Leigas Maristas, para “Irmos depressa a uma Nova Terra”. Quem é a Nova terra? Onde está a Nova Terra?

Primeiramente precisamos acreditar que a Nova Terra é possível.  Para isso, temos a Sagrada Escritura e a vida do nosso Fundador como pano de fundo. No texto do Gênesis, Deus, com seu sopro de vida, vai moldando cuidadosamente cada ser criado. No final de cada dia, “Deus viu que era bom”! No Êxodo, a busca constante da terra prometida torna-se uma responsabilidade das lideranças, na libertação do povo oprimido. Os profetas, na sua sabedoria, comprometem-se em anunciar a boa nova do reino e a denunciar as contradições causadas pelo poder opressor, a vida urge em meio às terras desertificadas.

Em Jesus Cristo, o centro da fé cristã, a Nova Terra, inicia-se no “sim” afetivo de Maria; na acolhida de Isabel; na fidelidade de José; no encontro dos Magos; no encantamento de Simeão e Ana; nos caminhos preparados por João Batista; no cego que voltou a ver com a lama feita do pó da terra e da saliva; na mulher ameaçada ao apedrejamento, enquanto Ele escrevia na areia; no samaritano cuidadosamente acompanhado em seu espancamento; na multidão faminta, “dai-lhes vós mesmos de comer”, chamando os discípulos a serem criativos, a tirar de dentro a solução para tal problema, que não é apenas fome de comida, mas de afetividade, acolhida e amor; nas bodas de Caná, a água transcende em vinho-vida; na ressurreição, o sinal da missão cumprida por Jesus e o chamado aos seus discípulos a assumi-la responsavelmente. Em Jesus Cristo, a Nova Terra torna-se plena! Nele, os pobres têm voz, os cegos veem, os surdos ouvem, os coxos andam, os ricos são interpelados, a religião, questionada, e Deus, revelado como Pai misericordioso à humanidade.

Passados alguns séculos, de luzes e trevas na história da humanidade e da Igreja, muitos homens e mulheres testemunharam na vida pessoal, familiar, comunitária e religiosa, que a Nova Terra é possível. Viveram com intensidade o amor de Deus, na doação aos irmãos e irmãs. Muitos deles martirizados, por anunciar o evangelho e defender a vida.

No ano de 1789, enquanto parte da sociedade francesa anunciava o início da Revolução, a família Champagnat cultivava o amor a Deus e a Maria, prezava pela oração, amava o trabalho, cuidava de seus membros e nascia Marcelino José Bento Champagnat, no dia 20 de maio. A simplicidade, a humildade e a modéstia foram valores essenciais no seu processo educacional e evangelizador. O seu corpo tornasse a terra fértil, a ação do Espírito. A realidade social da época clamava por profundas mudanças, educação e saúde, justiça e dignidade, liberdade e fraternidade, era o sonho gestado e idealizado, mas pouco real na vida do povo.

As dificuldades encontradas por Marcelino em seu processo educacional não o fizeram desanimar, mas redobrar seus esforços pessoais para superá-los. Na bofetada de seu colega, no sonho da fundação da Sociedade de Maria, na consagração a Maria, no encontro com o jovem Montagne, colhem-se sementes de vida e esperança, a serem lançadas em novas terras-corações de crianças e jovens. Com zelo, subiu e desceu montanhas; talhou a rocha, construiu L’Hermitage, sensibilizou-se com as pessoas, enfrentou burocracias eclesiais e sociais; fundou os Pequenos Irmãos de Maria, formou-os no amor a Jesus e a Maria, amou-os profundamente, colocou-os em seu coração e consagrou-os a Maria.

Das terras francesas para novas terras da Oceania, da América, da África, e da Ásia. O Espírito de Deus em Marcelino vai além-fronteiras para todos os povos, línguas e nações. Nas Américas, encontraram solos férteis nas planícies, nos vales, nas montanhas, nas florestas e nos diversos biomas habitados por povos nativos e por povos imigrantes de outros países.   

Em terras brasileiras, de Congonhas/MG, de Bom Princípio/RS e de Belém/PA, germinaram as primeiras sementes Maristas, trazidas por homens imbuídos da espiritualidade, do carisma e da missão de Champagnat e dos Primeiros Irmãos. A conquista de novos seguidores fez com que a obra Marista ganhasse corpo em solo brasileiro, “precisamos de Irmãos”. Inúmeros Irmãos, Leigos e Leigas, comprometem-se com esse legado. O jeito de ser dos Pequenos Irmãos de Maria ganha fôlego nas unidades educacionais e sociais, nos grupos de jovens e na catequese, nas paróquias e nas comunidades eclesiais, nas organizações da sociedade civil e governamentais, na defesa dos direitos das crianças, adolescentes e jovens. Portanto, o Espírito empreendedor rompe os muros institucionalizados na busca da defesa da vida, na intimidade com Deus, no cuidado com a mãe-natureza e na construção de uma sociedade justa e fraterna.

Assim, acreditamos que a Nova Terra é possível. Ela já acontece em nosso meio, em nossas ações. Basta ouvirmos as partilhas dos leigos e leigas maristas, o testemunho dos Irmãos idosos e o desejo de jovens seguirem este legado como Vocacionado, Formando, Irmão ou Leigo. Não podemos deixar de mencionar, com mais profundidade, o desejo de jovens em assumir este legado. É bonita a experiência vivida pelos 25 Irmãos que compõem a Comunidade do Noviciado Marista do Brasil. São homens oriundos das cinco regiões brasileiras, que trazem em seus rostos a história familiar, educacional, religiosa, política, econômica e ecológica de cada local de origem. A diversidade de expressões, sotaques, gostos e sonhos pessoais, somam com o sonho de Marcelino, de se tornarem homens de Deus, sensíveis aos coirmãos, criativos na missão de educar e evangelizar crianças e jovens, de serem os Pequenos Irmãos de Maria hoje. Somam também com o apelo fundamental do XXI Capítulo Geral, “com Maria, Ide depressa para uma Nova Terra”. Manifestando o desejo de crescer e amadurecer em sabedoria e graça, superando limites, convertendo-se, potencializando-se, para tornarem-se mais humanos, mais cristãos e mais maristas.

O que leva um jovem contemporâneo a deixar as inúmeras opções oferecidas a eles, muita vezes difícil de escolha, para optar pela Vida Religiosa Consagrada Marista? Será que a Nova Terra já acontece entre nós? Como cuidar dessa vocação? Como formá-los para o bem, para a autonomia, para a liberdade, para o anúncio do evangelho de Jesus Cristo e seu Reino e para ser Champagnat hoje?

Nesta Nova Terra, Noviciado Marista do Brasil, composta por diversos rostos, comprometemos em viver o espírito de família. Assim, várias experiências de Deus são feitas no cotidiano. Deus existe, está conosco! Maria é nosso recurso habitual, a Boa Mãe! No dia 02 de fevereiro p.p. aconteceu uma das mais belas Celebrações Eucarísticas, abrindo e oficializando o Noviciado Marista do Brasil, acolhendo doze postulantes ao Noviciado e consagrando o Ir. Tiago a Deus. As pessoas que participaram da cerimônia comungavam do mesmo espírito, seus olhos brilhavam, suas vozes vibravam e seus corações pulsavam de forma diferente, estavam sintonizados com Deus, Maria e Champagnat.

O trabalho manual feito cotidianamente, o dinamismo das orações, o diálogo nas refeições, a participação na eucaristia, as partilhas de vida, expressam que a Nova Terra acontece em nosso meio. Nos últimos dias, deixamos no Hemocentro mais de seis litros de sangue, doados voluntariamente em favor da saúde e da vida de pessoas anônimas.

Aos poucos, construímos o Projeto Comunitário de Vida, comprometendo-nos a viver em comunidade, respeitando a diversidade na busca da unidade, “Vede como eles se amam”. Não nos ausentamos dos limites e adversidades entre nós; com diálogo e sabedoria, somos corresponsáveis pelo nosso processo de crescimento e amadurecimento.

A você, que dedicou seu tempo para leitura deste simples texto, deve ter suscitado em seu coração algum sentimento, inquietação, crítica, dúvida ou até experiência de Deus. Que bom que algo tocou e o fez refletir. Agradecemos pelo tempo dedicado, não foi tempo perdido. Assim se constrói a Nova Terra, acreditando que ela é possível e que já acontece entre nós.

Terminamos com algumas indagações: Qual a Nova Terra que já acontece na sua vida pessoal, familiar, profissional? Na sua fraternidade leiga e na sua comunidade religiosa e eclesial? Somos todos responsáveis, eu e você.

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Ir. Rubens Falqueto, fms – março 2011

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