6 de setembro de 2005 SRI LANKA

Marcelino e a lâmpada

Em l?Hermitage, onde vivi a graça do retiro anual, fiquei contemplando parte do vitral que decora a tumba de Marcelino. Este vitral expressa aquela intuição que teve Champagnat quando seu olhar e seu coração transcenderam os horizontes do monte Pilat, impulsionados pelo imperativo da palavra de Deus ?Ide e ensinai?, e desenhou um mapa de navegação para a obra marista na qual ?todas as dioceses do mundo entram em nossos planos?.

Recordo, agora, dois momentos da vida de Marcelino nos quais se faz referência a uma lâmpada. 1) Marcelino dizia a Maria: ?Se não colocares azeite na lâmpada, tua obra desaparecerá?. E um dia, confiando que a Senhora alimentaria a lâmpada institucional com o azeite novo de abundantes vocações, atreveu-se a delimitar as fronteiras da missão marista: ?Todas as dioceses do mundo entram em nossos planos?. 2) Quando suas forças estavam debilitadas, antes de morrer disse ao irmão que o acompanhava: ?irmão, a lâmpada está se apagando?. No entanto, a luz da lâmpada que o irmão tinha na mão estava bem forte. Eram as vistas e a vida de Marcelino que declinavam. Havia chegado para ele o momento de delegar a missão: a luz da missão deverá continuar luxuriante.

Para alguns parece uma loucura olhar hoje para a Ásia, para novas parcelas da vinha do Senhor, para novas dioceses e nações onde não temos nenhuma presença como maristas, em um momento onde os efetivos com os quais contamos apenas podem cobrir as baixas provocadas pelo ritmo biológico da existência. Necessitaremos o azeite de mais vocações. E exercitar a confiança em Maria, como fazia Marcelino. O mandato do Senhor é sempre atual: ?Ide e ensinai!?. Champagnat traduziu o ?ide e ensinai? evangélico propondo para à Congregação nascente uma meta concreta e avaliável, como se diz hoje: ?todas as dioceses do mundo?. Está claro, no entanto, que faltam dioceses para concretizar nossos planos. Faltam nações onde ensinar. Hoje, através da VII Conferência geral, será focalizada a atenção na voz e rosto da Ásia, para fortalecer a fé e a missão.

Hoje a Congregação se sente maior, ainda que biologicamente envelhecida. Muitos dos seus membros, depois de um árduo trabalho, de uma entrega generosa pressentem que chegam ao final e parece que a luz da lâmpada se apaga. Muitos dos que apostaram suas vidas por novas dioceses, afligidos pela mesma sede que sofreu o Cristo agonizante, que também foi a sua nos momentos fervorosos da juventude, olham ao redor buscando a quem entregar a responsabilidade da missão, especialmente nos países e dioceses que consumiram suas melhores energias e nem sempre encontraram ao seu lado o irmão substituto que mantenha acesa a lâmpada. Como olhar para a Ásia, para encontrar alguém a quem lhe interesse a luz que tem iluminado nossas vidas? O que representa para os irmãos idosos uma Conferência que se realiza nos confins de um país distante? O que dizem os jovens irmãos e aqueles que vivem os anos da maturidade?

O grito do Cristo moribundo ?tenho sede!? foi interpretado muitas vezes, e assim vivenciamos os melhores momentos de nossa vida, como a sede pelas almas, como a sede que sente o trabalhador pelo Reino de Deus. O Cristo agonizante tem sede! Muitos irmãos morreram extenuados por essa sede. Ao cair da tarde, quando a luz se apaga, como experimentou Champagnat, o mapa de nossa presença se amplia para além do horizonte que alcançamos e dos limites de nossas forças. A Igreja, a Congregação com ela, no entanto, estão a caminho e a sede as estimula porque se aproxima uma grande colheita de fé para o próximo milênio.

Há em muitos irmãos e leigos o afã por saciar esta sede institucional. Esta é uma das chaves da convocação da VII Assembléia geral para aproximar-se institucionalmente da Ásia. À medida que muitos irmãos chegam a reta final de sua vida, quando parece que a luz da lâmpada já não brilha suficientemente para seus olhos, ouve-se o clamor institucional: ?Tenho sede!?. Sede que o evangelho seja levado às nações que ainda não o conhecem. Sede de presença marista nas dioceses onde ainda não foi concretizado o sonho de Marcelino. Pois tudo isso é possível para quem crê, e mais ainda para quem ama, espera e acredita nestas três virtudes. A VII Conferência geral é uma aposta institucional em nossa fé, esperança e caridade sobre os caminhos da Ásia. AMEstaún.

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