Blog marista: metáforas bíblicas (Ir. Luis Sobrado)

09/11/2006

A sessão blogs maristas do nosso site www.champagnat.org, iniciada a partir do mês de maio, apresentou algumas reflexões que despertaram o interesse dos nossos leitores. Pensamos que também será interessante para os leitores do nosso Boletim.
Hoje apresentamos algumas reflexões do Irmão Luis García Sobrado, Vigário Geral.
Difundindo esses textos através do Boletim pretendemos também animar aos nossos leitores a participar da reflexão enviando seus comentários através da nossa página web.

Um canto novo (Salmo 97)
08/11/2006

Acabo de passar uma semana realizando uma oficina de animação sobre ?A missão marista hoje?, em Davao (Filipinas).
O primeiro grupo de irmãos voluntários para o Projeto de Missão Ad Gentes da Ásia esquenta os motores. Três meses mais e já se encontrarão em um país concreto, fazendo malabarismo com sons e alfabetos desconhecidos nos centros de linguagem dos seus cérebros, entrando em contato direto com culturas milenares cheias de sabedoria e de sentido de vida.
Temos partilhado continuamente em grupos, em prolongadas sobremesas, em entrevistas, nas primeiras horas das manhãs mornas de Davao e na umidade das noites de chuva tropical, vigorosa, intermitente e sonora. A conversação nos invadia a alma e o espírito. Os rios de nossas vidas confluíam inesperadamente neste tempo de graça antes de afundamos no oceano profundo de um novo ser e fazer, do inesperado, do inédito.
Tocava-me o coração aquelas perguntas que há tanto tempo não as ouvia: Em que país estarei em janeiro? Qual será a nossa missão, o nosso apostolado? Com quem formaremos comunidade nesse possível país? Por onde vamos começar? Onde vamos morar, em que tipo de casa? Estaremos presentes entre os pobres das zonas tribais e rurais ou nos grandes bairros populares destas zonas urbanas onde as pessoas e as motocicletas se confundem com o horizonte? Estas eram perguntas da alma.
Porém mais profundos chegavam os questionamentos do espírito. Para onde nos estará conduzindo a mão do Bom Deus neste momento da nossa história? Por que me sinto cheio de paz em meio a todas essas incógnitas? Por que sinto o coração arder? Por que para mim tanto faz Bangladesh, Indonésia, Tailândia ou Uzbequistão? Como foi e como continua sendo Deus tão bom, tão cheio de ternura, tão cheio de detalhes para mim e para o Instituto? Por que estou enamorado da Igreja, do povo de Deus, como há muito tempo não me sentia?
E na oração surgia a necessidade de cantar um canto novo:
O salmo 97 nos convida para isso.
É um salmo que se inspira fortemente no salmo 46, primeiramente, e no 96 depois: quase idênticos na linguagem e no estilo. Porém aparece algo novo no salmo 97 que define precisamente essa novidade: o Bom Pai Deus nos mostra sua presença de uma maneira nova, nos faz experimentar seu amor delicado, nos faz entrar na dinâmica de sua fidelidade inquebrantável: a recordação, o amor e a fidelidade renovados. Está aí o novo canto.
O Magnificat retoma esta nova canção com os acentos inimitáveis que surgem dessa alma e esse espírito de Maria: virgo fidelis.
Muitos maristas hoje, irmãos e leigos, experimentamos de uma maneira crescente a necessidade de entoar um canto novo em nossa alma, em nosso espírito, porém, sobretudo em nossa vida e missão concretas. Davao entrou nessa corrente de inspiração.
Peço à Boa Mãe que todos os maristas, estejam onde estiverem, entoemos este novo canto. Que com ela possamos fazer surgir em nossa vida diária: ?Minha alma glorifica o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador?.

?Lágrimas escritas? (Salmo 55,9)
05/10/2006

Basta que feches os olhos e grites em silêncio: lágrimas! Teu coração se inundará de rostos transformados por intensos sentimentos: alegrias profundas e sofrimento indizível; amor partilhado e decepção irreparável; dor aguda e gozo repousante; confiança absoluta e medo irreconciliável.
Assim foram as lágrimas de Jesus. Foram as suas lágrimas de compaixão e ternura quando viu Maria chorar em Betânia. Chorou cheio de compaixão com a viúva de Naim que acompanhava seu único filho à sepultura; possivelmente se perguntava, como muitos de nós: como poder ser a vida tão dura para algumas pessoas? Frustrado, decepcionado, quase derrotado, chorou sobre sua querida cidade de Jerusalém. Com lágrimas e gemidos ? cheio de medo ? pedia ao Bom Pai que o libertasse da vergonha de julgamento público, de um abandono e solidão dolorosos, da morte violenta.
Lágrimas tão nobres, tão belas, tão cheias de dignidade e de ternura não podem se perder no esquecimento da história ou na indiferença da gente azafamada por mil e uma preocupações do imediato. Pressentimos que tem que ser assim cada vez que nos acalmamos e recordamos o que é importante na vida: as pessoas que amamos e que já não estão conosco, sobretudo as pessoas que amamos e aquelas que fizemos chorar.
O Salmo 55, um dos salmos responsoriais desta penúltima semana de setembro, nos consola e afina delicadamente nosso sentimento religioso:
?Do meu exílio registrastes cada passo,
Em vosso odre recolhestes cada lágrima,
E anotastes tudo isso em vosso livro?.
Comove-me pensar que Deus tem minhas lágrimas escritas em seu livro. Não posso deixar de continuar caminhando guiado por sua mão com uma perseverança humilde, buscando com lágrimas de alegria a luz do seu rosto. Na hora da prova, na hora dos temores que me paralisam sem remédio, sinto a força da mão de Deus que me conduz a uma vitória certa.

As mãos de Jesus
21/07/2006

Lectio:
Nestas últimas semanas a leitura litúrgica do evangelho de Mateus me convidou, pelo menos em duas ocasiões, a contemplar as mãos de Jesus. Jesus tocou a mão da sogra de Pedro e em seguida desapareceu a febre. Jesus tomou a mão da menina, que parecia morta, entre suas mãos e a menina despertou. Conduzido por este convite, tenho tentado com freqüência contemplar as mãos de Jesus: mãos benditas que a todo aquele que tocam, curam; mãos benditas que a quem tocam, consolam. Mãos benditas desse homem bom, simples, humilde de coração. O homem Deus.
Meditatio:
A São Marcelino lhe inspiravam as mãos do Menino Jesus:
?Nos este suas mãozinhas e nos convidando a nos aproximar dele, não para nos fazer participar da sua pobreza, mas para nos enriquecer dos seus dons e das suas graças.? ( Vida, Ir. João Batista, edição 1989, p. 303)
?Nada mas encantador do que uma criança: sua inocência, simplicidade e ternura, seus afagos e sua própria fraqueza são capazes de comover e conquistar os corações mais duros.? (Ibid)
Oratio:
Se eu pudesse, Virgem Maria, ter suas mãos entre as minhas!
Se eu pudesse, Virgem da Aurora, tocar suas mãos, roçá-las!
Se eu pudesse, fazer minhas mãos abrirem-se em cruz aos meus irmãos!
Contemplatio:
Mãos de Jesus, de compaixão inquietas,
Destras afinais com tal ardor minha alma,
Triste na solidão, que assim rompeis sua calma:
Possa eu cantar com outro são minhas penas.
Mãos de Jesus, todas feridas abertas,
Torpe ao caminhar as busco assim, incerto,
Cheio de inquietude por aliviar lamentos.
Roto todo afã, acalmando vou lutando.
Mãos de Jesus, com toques de ternura
Caminhos nos indicas nesta noite escura.
Apenas me roçais os lábios entreabertos,
Apenas ao sentir o trato delicado,
Contente me deixas e de esperança vivo:
Somente serei já, de tanto amor, testemunha.

Depressa (Lucas, 1,39)
06/06/2006

Lectio:
Maria caminha depressa, trazendo-nos o dom de Deus.
Meditatio:
Todos estes anos agarrado em seus braços, e ainda não sei torná-lo conhecido e amado!
Oratio:
Senhor, apressa-te. Vê que o tempo passa. (Salmo 69 / 70)
Contemplatio:
Eu:
Querer, querer, eu te quero.
Porém, eu não sei querer!
Ele:
Nos quer!

Um blog que convida à oração contemplativa
12/05/2006

A Bíblia contém uma infinidade de metáforas. Não existe salmo nem livro da Bíblia sem elas. É raro uma passagem das Escrituras onde elas estejam ausentes. É porque necessitamos delas para falar a Deus e para falar de Deus.
Elas nos ajudam a descobrir significados inéditos.
Na metáfora, a expressão literal encerra múltiplos significados cheios de conteúdos e de ressonâncias significativas sempre novas. Existem metáforas maristas que, na diferentes etapas da existência do irmão ou do leigo, em cada cultura e em cada circunstância da vida, nos tocam o coração com uma carícia renovada, e nos dão novo sentido em nosso caminhar. Vale a pena recordar algumas: ?Irmãos de Maria?; ?As três violetas?, ?Irmãozinhos?, ?Os Montagne de hoje?…
Porém, neste blog não vamos tratar de metáforas maristas, mas de metáforas bíblicas.
Para que a metáfora bíblica chegue a tocar-nos o coração e encontrarmos o seu significado espiritual, necessitamos de uma certa disciplina. Esta nos permite estabelecer um ritmo diário de reflexão, de estudo religioso, de meditação, de lectio divina. Trata-se de um ritmo de apóstolo marista onde o serviço às crianças e jovens se fortalece e cresce em extensão e intensidade, e se renova no fervor com e na oração. É uma disciplina de vida que nos abre al dom da paz do coração, do compromisso renovado ao chamado que Deus nos faz cada dia.
Existem metáforas nas Escrituras que somente nos revelam seus conteúdos quando começamos a lê-las com os olhos límpidos do coração e acompanhado do olhar questionador das crianças e jovens pobres. Para abrir-nos a essa revelação, necessitamos ser iluminados pela luz do perdão e da reconciliação de nossos irmãos e irmãs. Seu significado mais profundo aflora somente quando nos comprometemos na ação mesma dos que têm fome e sede de justiça.
Podemos forçar as metáforas bíblicas. A disciplina do tempo, da vida, do estudo e do serviço são espaços onde elas nos revelam o coração de Deus. Essa revelação precisa de espaços e tempos de Deus. Nossa arte consiste em aguçar o ouvido e afinar a visão. E é seguro que, assim como nasce a aurora de cada manhã, o coração de Deus aparecerá em cada metáfora, dias após dia.
Eu as encontro, preferencialmente, nas leituras que a Igreja ? mãe e mestra ? nos vai oferecendo em pequenas doses, através da liturgia diária: uma primeira leitura que contém uns poucos versos do Antigo e ou do Novo Testamento, um salmo responsorial, uma passagem dos Evangelhos.
Neste blog, proponho partilhar, cada quinze dias, uma das metáforas que têm iluminado minha vida e me têm reavivado o coração.
E, como todo blog, espero os comentários, intercâmbios de metáforas, sugestões. Sobretudo, espero que ele nos ajude a crescer na fé e na arte da contemplação.
E se o fizermos com um pouco de estilo e sentimento poético, ainda melhor.

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