Mensagem de Páscoa – Ir. Seán D. Sammon, Superior Geral

08/04/2007

Festa assinalada, a Páscoa constitui o centro de nossa fé. Todos os anos, a celebramos, manifestando nossa firma convicção de que Cristo ressuscitou dentre os mortos. Testemunhamos, por palavras e atitudes que, para nós, a ressurreição é um fato histórico.

Entretanto, o que significa, para a nossa vivência pessoal, o dia de hoje e o dia de tantas datas, anualmente celebradas? Harmoniza-se com nossa retórica pascal ou ficamos aquém do que dizemos? Pensemos, por exemplo, como tratamos os outros, quais são as coisas que realmente nos preocupam, diariamente, quais as esperanças que trazemos em nosso íntimo e os sonhos que alimentamos. São realidades que induzem os demais a concluirem que nós somos pessoas com a vida marcada por Jesus Cristo e por sua ressurreição?

Na Páscoa primeira, e nas semanas que a seguiram, não havia dúvidas sobre as verdadeiras atitudes dos discípulos do Senhor. Maria de Mágdala chorou, quando se encontrou com o ?Mestre?. João, nervosamene, saiu correndo em direção ao túmulo, adiantando-se a Pedro. Nos dias seguintes, Tomé revelou-se cético em torno dos acontecimentos e, finalmente, quando os apóstolos e aqueles que com eles estavam receberam o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, algum transeunte teve a impressão de que eles exageraram, ao tomarem o vinho novo. Eu pergunto: alguém, alguma vez, teve motivos suficientes para dizer a mesma coisa de nós?

Nosso mundo estremeceu com os acontecimentos do domingo da Páscoa. Estremeceu nos fundamentos. Entretanto, depois de todos esses séculos, muitos dentre nós, nos sentimos muito à vontade com a boa ordem convencional das coisas e, muito pouco, com os estremecimentos, inclusive tremores, de renovação que, de quando em vez, sacodem a Igreja e nosso estilo de vida. O fogo do Espírito parece dar-nos medo e, mesmo quando pedimos que nos invada com apostólica paixão, fica a impressão de que podemos viver muito bem sem ela.

Finalmente, limitamo-nos a ser pessoas respeitáveis, que fazem corretamente as coisas, em vez de fazer o correto. Com o passar do tempo, as mudanças fundamentais e fundacionais, que a Páscoa trouxe consigo, podem parecer mais cosméticas do que reais.

Sinceramente, temos que admitir que Jesus não era tão respeitável assim, popularmente falando. Eis uma pessoa que não dobra a língua para dizer aos poderosos, que ele tinha vindo para socorrer os enfermos e não os de boa saúde; os pecadores e não os já estavam salvos; os imperfeitos e não os que tinham alcançado a aperfeição. Seus discípulos trabalhavam nos sábados, se preciso fosse; ele comia com os pecadores, as prostitutas e os cobradores de impostos, e, contrariamente ao que pensavam muitos homens de seu tempo, considerava que as mulheres eram tão capazes e inteligentes, tão criativas e pecadoras, quanto seus compatriotas masculinos.

Muitos houve que, em seu tempo, não captaram a mensagem de Jesus. Outros, sim, a compreenderam. Estes foram, precisamente, os pobres, os analfabetos, os marginalizados da sociedade. Entenderam, melhor do que ninguém, que a salvação era eminentemente um questão do coração e do espírito. Por isso não se surpreenderam, quando, com palavras e ações, Jesus fez estremecer este mundo, anunciando que as regras do jogo, para garantir uma vida honesta, haviam mudado.

Dezenove séculos mais tarde, apareceu um homem, chamado Marcelino, que também acolheu o mistério e a mensagem de Jesus. Conseguiu-o porque se aproximou do Senhor com o coração e as atitudes de Maria. Nosso Fundnador compreendeu, como Maria, que, assim como a Quaresma é um tempo propício para exercitar a mudança do coração, a Páscoa é o momento de deixar de falar, para passar à ação. Disse-nos tudo isso, em seu testamento espiritual. Há uma ressonância pascal, nas palavras com que nos exorta a amar nossos Irmãos e as demais pessoas; a comunicar às crianças e aos jovens, com quem nos encontramos, que Jesus os ama muito; a levar uma vida simples e partilhar os bens da terra, a demonstrar, a todo momento, genrosidade e sacrifício.

É uma bênção poder celebrar a Páscoa, todos os anos. Essa festa nos ajuda a descobrirmos, no significado da paixão e no amor incondicional ao Senhor , a importância de colocarmos os valores do Evangelho, acima da respeitabilidade. Comecemos a agir, como se espera de pessoas pascais. Quando o fizermos, não faltará quem nos diga que tomamos vinho novo, em demasia!

Feliz Páscoa!

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