Quem é o mais importante – Blog marista ? Ir. César Henríquez

29/03/2007

Hoje, do blog marista, apresentamos algumas reflexões do Irmão César Henríquez, do Escritório de Solidariedade Internacional (BIS) em Genebra, que escreve sobre os direitos das crianças.
Difundindo esses textos através do Boletim pretendemos também animar aos nossos leitores a participar da reflexão enviando seus comentários através da nossa página web.

Participação
Enviado em 16/03/2007

O artigo 12 da Declaração dos direitos da criança estabelece um direito que é ao mesmo tempo um dos seus quatro princípios gerais, que auxiliam a melhor interpretar a declaração em seu conjunto, além de orientarem a sua aplicação. O artigo proclama o direito que a criança tem de «expressar sua opinião sobre todos os assuntos que dizem respeito a elas, levando-se devidamente em consideração essas opiniões da criança, em função de sua idade e sua maturidade».
Este tema, finalmente, voltou a me ocupar mais concretamente, depois de ter passado vários meses sendo arquitetado em minha cabeça, pois há poucos dias eu ouvi novamente a letra de uma canção de Javier Álvarez, intitulada Somos a idade do futuro: «Nos dizem sempre que somos a idade do futuro, / vão nos dizendo como nascer, como viver. / Nos dão normas que mesmo sem querer devemos cumprir / nos dizem tudo porque devemos saber escolher». Há vários anos estou constatando que fazer propostas não é uma das principais características dos adolescentes. Não seria porque os acostumamos a que as outras pessoas tomem decisões por eles, que recebam as coisas já prontas? Muitos jovens manifestam sua indiferença pelos grupos e associações. Qual seria a causa disto? Seria muito simples dizer que «os jovens perderam o interesse pelas coisas», mas na realidade deveríamos nos perguntar se não estamos diante de manifestações de um problema mais amplo e complexo.
Aqui mesmo, nestas reflexões, não encontrei nenhuma resposta ou comentário de um ou uma adolescente… nem de um menino ou menina… e concluo comigo mesmo que talvez eles não considerem nem mesmo este espaço como uma tribuna dirigida a eles próprios. Não é o mesmo que se passa em nossas obras maristas? Que espaços as crianças e os jovens têm para opinar? E se têm como manifestar suas opiniões, como elas são levadas em consideração? Dialogamos com eles? Os meninos, as meninas, os jovens em nossas obras maristas sentem-se ouvidos e são considerados?
Sendo educador, exercendo o ministério de orientador da pastoral de juventude, procurei ser um «companheiro de caminhada», ao invés de um «ditador»… mas não posso me lembrar com precisão se em alguma ocasião eu lhes perguntei como interpretavam minhas intervenções. Por experiência eu sei que aquilo que dizemos e o que as outras pessoas entendem, nem sempre são a mesma coisa.
Estamos nos preparando para participar da Assembléia internacional da missão marista. As vozes, as inquietudes, os interesses dos meninos, das meninas, dos adolescentes de nossas obras maristas, daqueles a quem ainda não conseguimos chegar… todos estes estarão presentes nos corações e nas mentes daqueles que participarão desta Assembléia? A escuta, a acolhida, a aceitação e o amor incondicional, temas tão característicos da pedagogia marista: eles estão encontrando formas concretas de se manifestar, de se fazerem notar, de se fazerem sentir, em nossa ação educativa e evangelizadora? As opiniões das crianças e dos jovens têm peso em nossas obras maristas?

Violência nas escolas
Enviado em 14/02/2007

Um dos irmãos maristas, que foi meu professor, costumava dar uns safanões nos alunos, como castigo. Eu mesmo recebi alguns cascudos por conversar com o meu vizinho na hora das aulas. Não conservo nenhum rancor contra o irmão, mas hoje estou convencido que a sua maneira de agir não era a adequada. O castigo físico era (e ainda é em alguns lugares) tolerado, como maneira de manter a disciplina. Não estou de acordo. Nenhuma forma de violência deve ser reconhecida como uma maneira de disciplinar e educar os meninos e as meninas.
Um estudo sobre a violência contra a infância, que se publicou no ano passado, revela que muitos meninos e meninas são vítimas de violência nas escolas, tanto da parte de adultos que deveriam cuidar deles, como da parte de seus próprios companheiros e companheiras. Não são raras as notícias que nos chegam através de diferentes meios, relatando casos de violência contra as crianças no ambiente escolar.
A violência está na ordem do dia: conflitos armados, insegurança urbana, bandos, delinqüência, abusos… Por que a violência? Qual a sua origem? Aprofundar o tema da violência e suas causas vai além das possibilidades desta curta reflexão. Mas, interessa-me salientar a contribuição que somos chamados a dar, como família marista, para combater todo tipo de violência, em particular a violência contra os meninos e meninas.
A história de Marcelino nos é familiar. Ele se negou a regressar à escola ao presenciar quando um professor aplicou um golpe em um de seus companheiros. E nos anos posteriores à fundação dos Irmãos, ele os proibiu de infligir castigos físicos aos alunos. Tendo sido professor em escolas maristas, pude comprovar que o ambiente de família, a formação em valores e a presença de educadores e educadoras, que são referenciais positivos para seus alunos, são elementos suficientes para promover uma escola sem violência e para ajudar as crianças e os jovens a enfrentar as dificuldades de maneira criativa, e sem usar a violência. Serviu-me muito como exemplo a maneira que Marcelino tinha para admoestar alguém que havia cometido uma falta: «Na primeira vez, dou a você um aviso, na segunda você fica me devendo e na terceira você me paga». Poucas vezes tive necessidade de fazer alguém «pagar». E quando tive que fazê-lo, foi depois de conversar com o aluno e entrar em acordo com ele… e sem necessidade de fazer uso da violência.
Eu me pergunto se como maristas estamos fazendo o suficiente, não apenas para erradicar a violência em nossas escolas, mas também para animar os jovens a ter uma postura contra a violência e para serem promotores da paz e do diálogo construtivo dentre de nossas sociedades. O que você pensa a respeito?

Uma voz para as crianças
Enviado em 26/01/2007

É preciso uma voz que transmita segurança para acalmar um jovem angustiado pelos problemas em seu lar, uma voz amiga que saiba acalentar os sonhos de uma jovem adolescente, uma voz alegre que seja também um convite a ter um tempo livre e a descansar, uma voz firme que apóie os jovens no difícil caminho do crescimento.
É preciso uma voz serena, que dê paz ao jovem que, em uma casa de reabilitação, luta para superar sua dependência da droga. Uma voz suave que compartilhe as confidências de uma menina que foi libertada de uma casa de prostituição, uma voz que cante as canções de ninar àqueles que não as puderam ouvir porque foram abandonados ao nascer, ou porque foram roubados para serem vendidos em adoção. Uma voz que acompanhe as risadas das crianças que nunca brincaram, e que desperte um sorriso nos rostos endurecidos pela dor, naqueles rostos acostumados ao duro trabalho sob o sol. Uma voz que dê calor às crianças que dormem na rua e que dê confiança aos que foram recolhidos em um centro de detenção.
Uma voz que convide a regressar as crianças que partiram para participar de conflitos armados, que acompanhe os meninos e meninas que tiveram que imigrar, deixando para trás família, amigos e sua terra, que faça sentir em casa as crianças que não pertencem a nenhum lugar. É preciso uma voz que estimule as crianças que ouviram humilhações durante toda a sua vida, que suscite ilusões naquelas que não tiveram nenhuma oportunidade, que console os meninos e meninas que receberam golpes. Uma voz que peça a opinião das crianças que nunca foram levadas em consideração.
É preciso uma voz que mostre Deus, que seja presença de Deus, mais com o tom do que com as palavras. Que fale de Deus sem impor. Uma voz que evoque a ternura de Maria e que, fazendo eco à voz de Jesus, ofereça novos horizontes de vida e de esperança à existência.
E que esta voz se faça ouvir, e que grite ao mundo as esperanças, os sonhos e as necessidades dos meninos e meninas. Uma voz que fale daqueles de quem ninguém fala, dos ignorados, dos escondidos, dos esquecidos. É preciso essa voz que inquiete e questione o mundo. Uma voz que fale daquilo que conhece, de seu amor pelos meninos e meninas, de seu compromisso e de seu entusiasmo pela missão de Jesus. Será uma voz que não falará sozinha: muitas outras vozes se unirão a ela, para que sejam ouvidas juntas pelos meninos e meninas do mundo.
Essa voz, não pode ser a sua?

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