17 de abril de 2006 CASA GERAL

Seán D. Sammon, FMS – Mensagem de Páscoa

Há vários anos, quando eu visitava uma escola Marista, encontrei um rapaz chamado Tim. Era um estudante inteligente, um bom atleta e uma pessoa que fazia facilmente muitos amigos. Certo tempo depois, estive em contato com ele, pois ele me havia pedido para ajudá-lo em um trabalho que deveria escrever sobre a Igreja e a ecologia. Aceitei dar-lhe assistência da melhor maneira possível logo que estivesse de volta a Roma. Encontrei as referências necessárias e as enviei para ele. Pouco tempo depois de haver concluído o curso secundário, Tim começou sua universidade, e tudo indica que estava obtendo êxito.

Em seu primeiro ano como universitário, recebi uma carta informando-me que, durante uma excursão de estudantes, havia mergulhado, por erro, em águas pouco profundas: fraturou o pescoço e ficou paralisado. Eu lhe telefonei e lhe escrevi durante as semanas que se seguiram à sua transferência do hospital para um centro de reeducação. Hoje, ainda posso me lembrar de uma das suas reflexões durante uma conversa telefônica, pouco depois do seu acidente: ?Passei 19 anos me preparando para um determinado tipo de vida, e eis que, em alguns segundos, devo enfrentar o fato de que devo viver uma vida totalmente diferente?.

Hoje, celebramos a festa da Páscoa. Cada ano repetimos os seus ritos, escutamos suas leituras e, talvez, nos comprometemos de tempos em tempos a levar a sério seu verdadeiro sentido. Mas, raramente somos forçados, como Tim, a avaliar o preço a pagar por isso. Pois, mesmo celebrando a Páscoa ano após ano com indivíduos e com o Instituto, o fato de mostrarmos pouca mudança quantificável indica que sua mensagem ainda não penetrou em nosso pensamento, não causou mudança em nossos atos nem transformou nossos corações para melhor.

Devemos, sim, nos perguntar nesta noite: o que a Páscoa de 2006 pede ao nosso Instituto, a todos aqueles que dele fazem parte, de você e de mim? Por exemplo, temos falado ultimamente em reivindicar o espírito de l?Hermitage. Mas será que o desafio que se encontra no coração desse compromisso continuará para sempre uma noção poética, ou estamos determinados como pessoas e como grupo a pagar o preço necessário para nos apropriarmos do espírito do lugar e da casa que Marcelino construiu? Estamos prontos a fazê-lo em um mundo continuamente marcado mais pela violência e pela intolerância religiosa, enquanto que, vistos individual ou coletivamente, parece-nos faltar, por vezes, a coragem necessária, o espírito de sacrifício, a simples fé em Deus, para realizar aquilo que devemos fazer como testemunhas do Senhor ressuscitado?

A festa de Páscoa é antes de tudo uma conversão. Deus nos chama a deixar de falar e mudar nosso coração, a começar a dar os passos necessários para que essa mudança se produza. E isso assusta a maior parte dentre nós, pois tememos suas conseqüências. Com certeza, uma verdadeira conversão é muito mais do que algumas mudanças superficiais; ela significa uma escolha consciente e fundamental, por vezes uma reviravolta radical para dar as costas a tudo o que nos era familiar.

Como mudaremos, pois, nosso coração? Através de uma conversão religiosa, algo que o filósofo jesuíta Bernard Lonergan descreve como um apaixonar-se por Deus, uma rendição completa e total a Deus. A festa de Páscoa nos lembra o preço que cada um de nós e nosso Instituto pagarão se forem sérios ao empreender essa conversão. Como Jesus, esse preço não será nada menos que a nossa vida. Pois o reino de Deus não pode jamais equivaler a um ?tudo continua como antes?. Levado a sério, ele nos apresenta a visão inquietante de uma comunidade de discípulos, que vai radicalmente ao encontro da cultura. Mas, o amor autêntico não é também algumas vezes inquietante, sempre paradoxal, sempre irônico? Como ele poderia ser diferente uma vez que também apela para a conversão do coração?

Festejar a Páscoa testemunhando a ressurreição do Senhor significa também atualizar, por meio de nós hoje, o que ela foi para a comunidade dos primeiros discípulos. Páscoa nos conduz a essa verdade: nada provoca tantas conseqüências do que se apaixonar por Deus de uma maneira absoluta e definitiva. Procedendo assim, nossos pensamentos mudarão, nossos corações e nossas vidas serão transformados; tudo depende disso. E somente com um coração renovado, é possível praticar verdadeiramente a justiça.

Você pode se perguntar o que aconteceu a Tim. Mesmo que muitas pessoas tenham sido pessimistas quanto à possibilidade de que ele pudesse voltar a se mexer, uma mistura de determinação pessoal, de terapia intensiva durante vários anos fez com que, pouco a pouco, seu corpo reencontrasse a sensibilidade e a atividade muscular, evidentemente ao preço de grandes esforços. A última vez que o vi, ele tinha envelhecido, mas podia caminhar, mesmo com dificuldade; mas, pelo menos caminhava. Possa a festa da Páscoa, assim como a coragem e a determinação desse rapaz, ser a graça de que necessitamos para nos convencermos de mudar para sempre nosso coração e o nosso Instituto. Possa esse dia e seu sentido ser também uma fonte de consolação e de esperança na vida dos jovens como Tim. O seu trabalho sobre a Igreja e a ecologia havia sido realmente excelente.

Uma santa e feliz festa de Páscoa!

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