2012-09-13

XI Encontro Interinstitucional da Equipe Itinerante

class=imgshadowTivemos por cenário a casa Provincial dos Missionários da Consolata, em Boa Vista – RR. Mas ali participaram pessoas vindas de diversas partes do Brasil, da Guiana, do Equador, da Venezuela. Outros países poderiam ser citados porque as atividades dos que atuam na itinerância não se limitam a essas noções mais recentes e, quem sabe, artificiais, de delimitação territorial. Preferiu-se, portanto, adotar outras definições mais dinâmicas, criativas e plurais que caracterizam as “fronteiras nacionais” como lugar de encontro intercultural. Chamamo-las, pois, de interfronteiras ou, melhor ainda, transfronteira.

Partilharam-se, nesse contexto, aspectos, informações e vivências oriundas das regiões de encontro dos povos que transitam entre Brasil, Venezuela ou Guiana, Colômbia ou Peru e Bolívia. A Cáritas do Equador, integrante do mesmo bioma amazônico, se fez representar no encontro para ventilar possibilidade de maior intercambio pastoral, intercultural e de defesa da vida nessa região comum.

Mas, afinal, quem são os(as) itinerantes? Falamos das equipes ou comunidades intercongregacionais ou interinstitucionais que se têm constituído na Amazônia desde há 14 anos. Buscam estar presentes nos lugares e nas realidades humanas mais fragilizadas, distantes e esquecidas da Região. Privilegiam-se as realidades indígenas, ribeirinhas e os assim denominados marginalizados urbanos: assim como o rosto da mãe terra que nos convoca a termos com ela um elo de pertença inclusiva para com cada uma(a) de seus filhos e filhas.

Existem, no momento, três núcleos dessa experiência: Manaus, Roraima com a intersecção da Guiana e Venezuela e Tabatinga, com sua tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru. Algumas experiências esporádicas de intercâmbio têm sido realizadas em outras “fronteiras” que aguardam a constituição de uma equipe mais permanente: Acre, com Peru e Bolívia e lá onde se encontram o Brasil com a Venezuela e a Colômbia.

No entanto, não se pode contar um tão elevado número de pessoas dispostas a viverem um estilo de vida tão radicalmente despojado das benesses que a sociedade capitalista e urbana propagam. Para integrar uma dessas equipes ou comunidades, a pessoa necessita aderir a um chamado interior muito forte de despojamento, doação, disponibilidade, espiritualidade, integração afetiva, humanidade e consciência crítica. É o que vem sendo chamado de itinerância interior, um verdadeiro processo de conversão pessoal e de compromisso com a defesa da vida.

Nas três equipes itinerantes que essa turma mantém atualmente, participam em torno de 15 pessoas: religiosos(as), sacerdote, leigos(as). Muitas outras já participaram da experiência por um período mais ou menos longo, pretendendo-se que seja de ao menos 4 anos. A cada ano há os que completam o ciclo de sua disponibilidade de participação, enquanto outros(as) chegam para se integrarem na dinâmica. É-lhes oferecido um tempo inicial de estágio e de acompanhamento para que se decidam pela sua permanência e pelo tipo de atuação que lhes é mais conveniente.

Mas, como vem dito no Evangelho: não se acende uma luz para escondê-la debaixo da cama. Mas ela deve brilhar de um lugar mais elevado para que muitos usufruam sua luz. Assim sendo, em torno dos pequenos núcleos dos itinerantes, há uma série de pessoas, instituições e congregações religiosas que participam do acompanhamento e da sustentação dessa experiência típica da Região amazônica. Há os que enviam membros para integrar as equipes. Outros(as) dão apoio financeiro, jurídico ou estrutural para garantir o mínimo necessário para a vida e para a missão das pessoas e das equipes. Mas todos(as) participam do processo de reflexão em torno da experiência. Reflexão que exige atenção aos sinais dos tempos, às novas descobertas humanas, culturais, espirituais e socioambientais que clamam por conhecimento, valorização e defesa, em um mundo tão cobiçado e explorado.

É dentro dessa dinâmica que se realiza, a cada mês de agosto, o aqui mencionado Encontro Interinstitucional. Tempo de avaliação, partilha, vivências, celebração e estudos de temas novos que desacomodam e dinamizam os que procuram olhar essa realidade com o olhar dinâmico e contemplativo de Deus. Dinâmica essa que também inclui o saber preservar o que há de me melhor na natureza e na pluralidade de vida humana. Frutos também são colhidos para iluminar novos caminhos para a Vida Religiosa Consagrada, sacerdotal e laical, em suas específicas vocações.

No XI Encontro, que se realizou de 28 a 31 de agosto, éramos 48 pessoas do Brasil e de vários outros países fronteiriços, procurando aprender e discernir a profundidade dos saberes que essas experiências de vida tão simples nos vão oferecendo. Tempo de perscrutar os sentimentos, as intuições e os indicadores da vida e da missão que vai sendo assumida em favor da vida no Planeta e de seus povos, valorizando os dons e denunciando seus riscos. Tempo de acompanhar os membros comprometidos com a experiência. Tempo de acolher novas vocações. Tempo de agradecer os que partem para outros lugares que o Espírito Criador de Deus lhes inspira. Foi o caso do amigo Pe. Fernando Lopez, SJ, que parte para um tempo de “aggiornamento” e de síntese, após 14 anos de profícua presença com as equipes. A ele, um grande agradecimento, como também a Rai e a Arizete que se retiram no final do ano, levando uma rica vivência vida afora.

Como conteúdos desse recente encontro, destaco: Celebração da vida com o Parixara, dança ritual dos povos Makuxi e Wapixana da região, animado pelo grande tuxaua Jacir Macuxi e de sua esposa Eudina, Terra Indígena Raposa Serra do Sol; Visão sobre as problemáticas das fronteiras: migração e mobilidade entre Venezuela e Brasil (Pacaraima e Santa Helena) e a Guiana no contexto histórico e social, seus atores sociais; Um olhar sobre a realidade indígena de Roraima: Área Leste e Terra Indígena Yanomami-Yekuana; Universidade Indígena da Venezuela; Resumo das intuições principais e das etapas de experiências da Equipe Itinerante nos 14 anos de caminhada; Propostas de intercâmbios internacionais de fronteiras; organização, avaliação e encaminhamentos sobre as Equipes; luzes, desafios e provocações.

Tive o privilégio de ter participado de mais este encontro interinstitucional tão cheio de vitalidade! Estive também participando, no sítio da Diocese, beira do Igarapé, dos momentos de avaliação e de retiro que o precederam. Foi igualmente bonito ter visitado as comunidades jesuítas de Roraima-Guiana. Esteve também no encontro o Irmão Neori Fonseca, da comunidade de Boa Vista, antigo integrante da Equipe de Tabatinga e o Sr. Cláudio, leigo voluntário marista que está em fase de inserção na comunidade marista e na Igreja de Roraima. Pude encontrar muita gente boa e animada que nos animam na partilha da vida e nos inovadores projetos de missão. Considero muito bem alcançados os objetivos do Encontro Interinstitucional:

* Ver as distintas realidades e desafios das fronteiras amazônicas para discernir nossa missão profética como Equipe Itinerante neste contexto desafiante;

* Aprofundar a missão da Equipe Itinerante nas fronteiras geográficas e simbólicas da Amazônia e analisar a organização e estruturação do corpo para a missão.

Nesse mutirão de discernimento e compromisso inovador, soa-nos estimulante o incentivo de D. Hélder Câmara:

“Aceita as surpresas que transformam teus planos, derrubam teus sonhos, dão rumo totalmente diverso ao teu dia e, quem sabe, a tua vida. Não há acaso. Dá liberdade ao Pai, para que ele mesmo conduza a trama de teus dias”.

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Ir. João Gutemberg
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