12 de janeiro de 2018 CASA GERAL

Acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e refugiados

No dia 14 de janeiro celebra-se a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado. O Capítulo Geral abraçou essa causa e disse, no IV apelo, em espírito de oração:

Buscamos-te Jesus, como Maria, nas caravanas da vida e no tumulto de nossas cidades (Lc 2, 41-49), na multidão dos deslocados que buscam um futuro melhor para seus filhos.

Gostaríamos de propor, nessa ocasião, a reflexão feita pela Comunidade marista de Siracusa, na Itália, fruto do Projeto Lavalla200>, inserida no contexto dos migrantes que chegam na Europa em busca de uma vida melhor e formada por dois irmãos e dois leigos.

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No dia 14 de janeiro celebra-se a 104° Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado e o Papa, em sua mensagem expressou a sua preocupação pela triste situação de tantos migrantes e refugiados que fogem das guerras, das perseguições, dos desastres naturais e da pobreza. A partir da nossa experiência queremos comentar a mensagem do Papa que inicia com estas palavras textuais: O forasteiro que mora entre nós, vós o tratareis como aquele que nasceu entre vós; vós o amareis como a vós mesmos porque também vós estivestes como forasteiros no Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus (Lv 19,34). Todo forasteiro que bate à nossa porta é una ocasião de encontro com Jesus, o qual se identifica com o estrangeiro acolhido ou rejeitado de cada época (cfr Mt 25,35.43). A esse respeito – disse o Papa – desejo reafirmar que a resposta comum poderia se articular em torno de quatro verbos baseados nos princípios da doutrina da Igreja: acolher, proteger, promover eintegrar.

 

Acolher

“Considerando o cenário atual, acolher significa antes de tudo oferecer a migrantes e refugiados possibilidades mais amplas de ingresso seguro e legal nos países de destinação” (Papa Francisco).

O Ministério do Interior italiano divulgou os seguintes dados:de 1° de janeiro a 24 de novembro de 2017, no porto de Augusta, desembarcaram 15.200 refugiados, quase todos do sexo masculino e a maioria era menores não acompanhados. Como fazer-se presentes num momento delicado como este? Um curso de quinze dias organizado pela CRI em Catânia, uma semana em Nápoles; um período de treinamento e preparação foi feito. No dia 4 de agosto, o primeiro marista se tornou operativo no porto de Augusta. “Depois de cinco meses de torturas e violência – comentou um jovem – vi um rosto sorridente que me apertou a mão e não me maltratava”. Mas estamos conscientes que um sorriso não pode resolver o problema do acolhimento. Vejam em https://goo.gl/9BKyhX.

Não pode resolver nem mesmo um documento que a polícia dá para grupos inteiros e que depois transporta para a estação ferroviária de Augusta. Gente apenas desembarcada na Itália, privada de tudo, sem dinheiro… não só não sabem onde ir e o que comer e nem têm como fazer as necessidades básicas, visto que em muitas estações os banheiros são a pagamento…

Proteger

O segundo verbo, proteger, é conjugado numa série de ações em defesa dos direitos e da dignidade dos migrantes e dos refugiados, independentemente do seu status migratório. Tal proteção começa na pátria e consiste na oferta de informações corretas antes da partida e proteção em relação às práticas de recrutamentoilegal” (Papa Francisco).

A grande maioria dos menores que nós conhecemos tinha começado a viagem que os trouxe até a Itália sem os pais, muitas vezes em grupos com outros amigos. Quase todos tinham um celular, mas o Google Maps fornece só indicações “virtuais”: não indica onde os traficantes de seres humanos esperam, atrás de qual colina estão os traficantes, em quais países serão obrigados a trabalhar 15 horas por dia em troca de uma vaga prometida de ajuda para continuar a viagem… Para alguns rapazes este itinerário dura até um ano e ninguém deles esquece, não pela sua duração, mas pela tragédia que os acompanharam. Saliou recorda come conseguiu salvar-se numa prisão líbica. Quando no campo chegava um novo grupo que queria partir para a Itália, o “rito de introdução” que os guardas usavam era aquele de dar ordens gritando e, na ausência ou lentidão da execução dos comandos, uma rajada de metralhadora deixava no terreno dezenas de mortos. Saliou recorda de ter ouvido disparar e de ter sido salvo caindo por terra e ficando até a noite sob os corpos dos companheiros mortos. Ler estas seis linhas é dramático, mas escuta-las, enquanto contava a história, é uma experiência que enfrentas só porque isso faz bem para ele.

Diziam-nos que a viagem era muito longa considerando sobretudo a expectativa final. Conheceis a lei italiana que normatiza o transporte dos animais? (Não tenham medo de abrir o “link” a seguir porque é do Ministério da Saúde). Deem uma olhada e descobrirão que os suínos com menos de três semanas não podem ser transportados porque são muito pequenos e os terneiros de idade superior a 10 dias podem ser transportados sob a condição que sejam instalados individualmente com a mãe. Mas as descobertas não acabaram: na página 25 se lê que a viagem dos frangos e dos coelhos não pode durar mais de 12 horas e que os animais têm direito a uma hora de pausa para beber e comer.

 

Promover

Promover quer dizer essencialmente trabalhar para que todos os migrantes e os refugiados bem como a comunidade que os acolhe sejam postos em condições de realizarem-se come pessoas em todas as dimensões que compõe a humanidade querida pelo Deus criador” (Papa Francisco).

“Meu filho, se ficares aqui morrerás seguramente. Mas se partires talvez poderás sobreviver”. Esse foi o conselho da mãe de Souleymane, que se sentia impotente e incapaz de assegurar a vida a seu filho: é o segundo corte do cordão umbilical. Para nós ocidentais, habituados ao aborto e à eutanásia, esta notícia pode ser considerada “normal”, mas por ela não é, não só porque é a mãe, mas porque é africana. Depois de várias dificuldades conseguimos um contato com a mãe de Souleymane, que vive em Costa do Marfim e que fala discretamente o francês. Nós dissemos que o filho tinha chegado na Itália, que estava numa casa-família com outros 7 rapazes e quando lhe pedimos se queria falar com o filho escutamos gritos de alegria. Depois de um breve momento de conversa em francês a três, a conversa prosseguiu em “dioula”. Passaram uma dezena de meses… Antes, quando íamos encontrar o rapaz falávamos com ele em francês, agora não é mais necessário: fala corretamente em italiano com o típico sotaque de Siracusa, frequenta a escola média e na classe todos lhe querem bem. Mas não é para todos assim. Faz alguns meses, por exemplo, Amadou nos confidenciava: “Por que, quando subo num ônibus, as pessoas olham para o outro lado?”

 

Integrar

Aintegração não é uma assimilação, que induz a suprimir ou esquecer a própria identidade cultural. O contato com o outro leva a abrir-se a ele para acolher os aspectos válidos e contribuir assim a um maior conhecimento recíproco” (Papa Francisco).

Para os europeus esse verbo é o mais difícil de conjugar. Fomos por muito, muito tempo o centro do mundo, exportamos de tudo, até a fé, e, por bem ou por mal, impusemos todas as coisas. Para muitos de nós o sol ainda gira em torno da terra e, por isso, é difícil compreender que o outro não é uma ameaça, mas uma riqueza, sempre!

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Comunidade Marista de Siracusa
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