Carta a Marcelino

Pe. Jean-Antoine Bourdin

1829

Padre marista, Jean-Antoine Bourdin residiu em l?Hermitage desde a sua ordenação sacerdotal, em 1828, até janeiro de 1831. Ajudava no atendimento espiritual, exercia a função de diretor de estudos dos noviços, fazia recados e compras para a casa. Certa vez, estando em Lião, o seu regresso ficou protelado de uma semana por interferência do Pe. Cattet, Vigário Geral, que o requisitou para trabalhos de secretaria. O Irmão Bernard, que estava com o Pe. Bourdin em Lião, e que voltou a l?Hermitage no dia previsto, foi o portador desta carta, escrita às pressas, com prestação de contas dos recados recebidos e justificativa para a sua permanência em Lião. A carta traz apenas o ano, como datação. Entre os colegas sacerdotes, em Lião, o Pe. Bourdin captou ainda alguns resquícios de desconfiança em relação à obra do Pe. Champagnat; entretanto afirma que são divagações infundadas. Da sua parte, elogia a quietude de l?Hermitage e exprime o desejo de voltar logo para o ambiente de paz e de oração daquela casa.

Lião, 1829.

Senhor Superior:

Houvera sido para mim grande prazer retornar a lHermitage com o caro Irmão Bernard. No momento, porém, em que penso partir, o missionário cartuxo Pe. Baret anuncia-me da parte do Pe. Cattet que não devo embarcar, mas apresentar-me ao vigário geral. Não sabia que coisa pensar de semelhante nova; acreditei-me para sempre excluído da minha querida solidão.

Mil rumores absurdos, ocasionados quiçá pela minha aparição na cartuxa, haviam-se disseminado pela vizinhança: que eu não retornaria para junto de vós, em virtude das austeridades com que a vossa casa oprime e martiriza os pobres padres e Irmãos que a habitam. Por fim, na entrevista com o sr. Cattet, pergunta-me este se eu havia pagado o uso da viatura e quanto tinha dado. Respondo-lhe que tudo foi pago e acertado. Pois bem, disse-me ele, vou reembolsar-vos tudo; deixai partir o Irmão e quanto a vós eu vos retenho por toda a semana. Mas, sr. vigário geral, disse-lhe, devo pregar no domingo em St. Chamond. Pois bem, retrucou-me ele, a vossa partida será no sábado.

No mesmo dia da minha visita ao vigário geral tive de assitir às vésperas da catedral; às cinco horas fui ao gabinete do Pe. Cattet. As tarefas de que me incumbiu obrigam-me a trabalhar ora com ele, ora em casa; não tenho tempo que perder; contudo a minha viatura para o regresso está acertada para sexta-feira, às oito da noite. Quanto à minha pregação, creio que estarei pronto. Não sei se pedistes a permissão para que eu pregue. Assegurai-me isto quanto antes, para que tome as minhas disposições antes da partida.

O Pe. Cattet pareceu-me muito contente com a nossa comunidade. Rogou-me vos dissesse que é para apressar a vossa ida a Feurs, porque o assunto é indispensável.

Já cumpri todas as minhas comissões. Os srs. Lyonnet e Courbon não vos expedirão o tonel de azeite. Quis retardar esta compra até nova ordem. O azeite de oliva aumentou muito e pode aumentar ainda: vende-se até por 18 francos. O azeite refinado, que é mais econômico, também encareceu um pouco, mas pode aumentar ou diminuir: vende-se por cerca de 16 francos. Os padres daqui aconselham-vos este último azeite. Aguardo a vossa decisão. Dai-me a conhecer o destino dessa pequena mala que encomendastes; enquanto se aguarda, ela está com os srs. Courbon e …

O Irmão Bernard, a meu lado, ataranta-me para que termine a carta, porque a hora da sua partida se aproxima. No meu retorno, prestar-vos-ei conta de muitas outras coisas.

Enquanto aguardo a vossa resposta, tenho muita honra em vos saudar e ao Pe. Séon. Recomendo-me às vossas piedosas recordações e às da querida comunidade, em cujo meio suspiro voltar, para reencontrar a paz e a edificação, duas plantas preciosas que não crescem no mundo.

Aceitai a consideração daquele que muito se honra de ser, senhor, o vosso muito humilde e submisso servidor
J.A. BOURDIN, D.M.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 129.04

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